Escrevi aqui na semana passada:
“Se Janot… levar adiante a investigação determinada por [Gilmar]
Mendes, poderá destruir Dilma… e salvar o Brasil. Se engavetar…, será
sempre lembrado como o cúmplice petista que deixou os bodes na sala e o povo
brasileiro na mão.”
Antes, havia apenas especulação baseada em decisões discutíveis, mas,
ainda assim, justificáveis legal e moralmente, no limite da tolerância.
Este blog examinou cada caso, observou as hipóteses em jogo e, sem
deixar de lado a pressão, descartou tanto a exaltação quanto a
condenação morais precipitadas ao PGR – esta última que levou a uma série
de críticas descabidas (veja aqui e aqui, por exemplo), com frequência não
relacionadas à blindagem de Dilma Rousseff.
Agora, com o pedido de arquivamento da investigação da gráfica fantasma
VTPB, que recebeu R$ 23 milhões da campanha de Dilma de 2014, o pior se
confirmou – e da pior maneira.
Janot escreveu no despacho: “Não interessa à sociedade que as
controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem poder usufruir das
prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm, os derrotados devem
conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”.
1) Quem é Janot
para falar em nome da sociedade (que, aliás, quer a saída de Dilma Rousseff)?
2) Quem é Janot
para atropelar o TSE, que reabriu ação penal pela impugnação da chapa de
Dilma?
3) Quem é Janot
para alfinetar os opositores que buscam esclarecer os fatos de uma campanha
suja, como exigem seus próprios eleitores?
Esse parágrafo em que Janot usurpa papéis que não são dele,
exercendo como um militante a mais escancarada pressão política, parece
ter sido escrito pelo ministro José Eduardo Cardozo em alguma reunião
secreta com o PGR.
Até ministros do
TSE ficaram irritados.
Pudera!
Janot chegou a apontar a “inconveniência” de a Justiça e o
Ministério Público Eleitoral se tornarem “protagonistas exagerados do
espetáculo da democracia” e, de quebra, falou do receio de uma “judicialização
extremada”, como se o rigor da lei na busca de esclarecimento fosse um ato de
extremismo.
Mais próximo da propaganda petista, impossível. Janot acusa os outros
da “inconveniência” e da ação “extremada” que pratica no momento mesmo da
acusação.
Ele também argumentou que a prestação de contas de Dilma já foi
aprovada e o prazo para questionar irregularidades já acabou, como se a
autoridade do PGR sobrepujasse a dos ministros do TSE, que decidiram pela
reabertura do processo justamente para apurar as irregularidades antes
ignoradas.
Para justificar o engavetamento, Janot ainda alegou que a
VTPB apresentou-lhe notas fiscais e modelos de santinhos impressos, como
se estes já não estivessem indicados no site do TSE e a questão não
fosse que a impressão não foi feita na gráfica fantasma, porque, bem, ela
é fantasma e não tem estrutura para o trabalho a que se propõe.
Para completar o
vexame, a notícia sobre seu despacho foi dada em primeira mão pelo site
petista Brasil 247, que eu apelidei de Brasil 171, investigado pela
própria Operação Lava Jato – e, dessa vez, ninguém do PT acusou o PGR de
“vazamento seletivo”.
Com muito sono, tive de repercutir a informação naquela madrugada no
Twitter, deixando para comentar com calma depois, quando a imprensa séria
confirmasse o conteúdo (e eu desistisse do meu descanso de fim de
semana das vigarices nacionais).
Só lamento que os jornalistas, inclusive críticos de Janot hoje
regozijados, não tenham dado ao caso da gráfica fantasma aqui
repercutido a mesma atenção que dão ao seu arquivamento, o que talvez
tivesse deixado o PGR mais constrangido para pedi-lo.
De qualquer modo, a Folha informa que Dilma andou dizendo a assessores:
“Estou preocupada com o TSE”.
Não resta dúvida de que, se pudesse, a petista reconduziria seu
advogado Rodrigo Janot diretamente ao tribunal, no lugar de Gilmar Mendes.
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