segunda-feira, 13 de julho de 2015

O Estado e a Razão

Por Olavo de Carvalho

Mesmo aqueles que desejariam ardentemente diminuir os poderes do Estado não vêem outra maneira de fazê-lo senão por meio do próprio Estado, e suas belas intenções acabam sendo trituradas pela máquina da racionalidade estatal.

Toda idéia que se condensa num chavão torna-se imediatamente estúpida, se é que já não o era desde o início e por isso mesmo se acomoda tão confortávelmente nesse formato. Há anos ouço falar de “enxugar o Estado”. À primeira vista parece a resposta lógica natural à constatação de que de que os problemas do Brasil provêm de a sociedade civil ser muito débil e o Estado muito forte – tão forte que consegue subjugar as organizações da sociedade civil. O PT jamais teria conseguido concentrar tanto poder sem a ajuda da OAB, da CNBB e de milhares de ONGs que, nascidas da iniciativa social espontânea, acabaram se transformando numa espécie de funcionalismo público informal. O sujeito vê isso acontecendo e exclama: “Enxugar o Estado!”

Parece sensato, mas há um problema: Quem enxugará o Estado? O próprio Estado. Enxuga-se privatizando. E, na medida em que privatiza, cria uma rede de cumplicidades privadas que estenderão o poder do Estado – agora anônimo, informal e quase invisível – até os últimos confins da vida social. Tudo converge no sentido da constante histórica descrita por Bertrand de Jouvenel no seu clássico Du Pouvoir: Histoire Naturelle de Sa Croissance: Haja o que houver, façam os seus inimigos o que fizerem, o poder do Estado sempre cresce. Cresce quando centraliza, cresce quando se divide e se dispersa, cresce quando faz e quando desfaz, cresce agindo e cresce dormindo.  

As análises liberais correntes que repetem ad nauseam o grito de alerta de José Ortega y Gasset, “El mayor peligro, el Estado!” estão certíssimas, no essencial, mas pecam por imaginar que o poder crescente do Estado se baseia sobretudo em mecanismos materiais de controle, como o monopólio da força física ou da economia.

A grande força do Estado moderno não está nisso, mas em algo que Hegel percebeu melhor do que ninguém: o Estado é a mais vasta e complexa criação da inteligência humana, a encarnação suprema da Razão. Comparado à organização estatal, mesmo o conjunto das ciências existentes não passa de uma mixórdia de teorias contrapostas, grupelhos em disputa e preferências irracionais. Cada ciência pode ser muito racional no seu próprio terreno, mas não existe nem pode existir uma articulação teórica integral, uma organização interna e científica do conjunto das ciências. O único princípio unificador desse conjunto é de ordem administrativa e burocrática. É o Estado. Tanto que uma teoria científica, por mais cientistas que a endossem, só adquire a autoridade pública de uma verdade universalmente reconhecida quando vem a ser absorvida pelo Estado e incorporada na legislação. Acima da comunidade científica, acima da “opinião pública” mais letrada que se possa imaginar, o Estado é o juiz supremo e final de todos os conhecimentos humanos.

Contra uma entidade assim constituída, em vão esperneará o economista argumentando que a economia liberal é mais eficiente do que uma economia estatizada. Pois a economia não passa de uma ciência entre outras, e nenhuma ciência poderá jamais se sobrepor ao conjunto de todas elas, no topo do qual brilha a Razão encarnada no Estado.

O Estado torna-se assim o juiz último de todas as questões humanas, e não somente daquelas assinaladas no definição jurídico-formal da sua “área de competência”.

A conseqüência prática é que mesmo aqueles que desejariam ardentemente diminuir os poderes do Estado não vêem outra maneira de fazê-lo senão por meio do próprio Estado, e suas belas intenções acabam sendo trituradas pela máquina da racionalidade estatal.

Agora mesmo, no Brasil, quando tantos se queixam do Estado comunopetista invasivo e onipotente, não enxergam outra maneira de livrar-se dele senão pela disputa parlamentar e judicial, pela reforma das leis e instituições e, em suma, pela ação dentro do Estado.

Com isso, a sociedade civil torna-se ainda mais fraca, mais incapaz de organizar-se e agir. Esse círculo vicioso não não será quebrado enquanto o monopólio estatal da razão não for desmascarado. Como fazer isso, é tema que ficará para um artigo vindouro.

Publicado no Diário do Comércio.



Frases da semana

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Tremendas doenças infecciosas estão entrando pela nossa fronteira. Os Estados Unidos se tornaram o aterro sanitário para o México e, na verdade, para muitas partes do mundo.
— Donald Trump, dominando a arte do multitasking — xenofobia, mistificação e deselegância — dias depois de dizer que imigrantes mexicanos são ‘estupradores’.

Baixou um Guido Mantega em Joaquim Levy. Possuído, o atual ministro da Fazenda não pôde impedir que um morto-vivo do primeiro mandato de Dilma se levantasse.
— Ana Estela de Sousa Pinto, sobre o Programa de Proteção ao Emprego lançado pelo Governo, que contém subsídios seletivos e contabilidade opaca, na Folha.

Querendo ou não, o Eletrolão vai explodir. O pininho da granada já foi puxado.
— Joice Hasselmann, na TVEJA.

O PT não só contaminou o Estado como parasita causador da doença como, agora, tenta debelar a doença com os remédios errados. Criaram a doença e agora estão querendo matar o doente.
— Geraldo Alckmin na Convenção do PSDB.

Se eu não quiser falar de que tipo [de medida] eu não falo, tenho técnica para isto. Treino.
— Dilma Rousseff, referindo-se aos interrogatórios militares em entrevista com a Folha.

É chocante que [Dilma] compare uma pergunta benigna de um jornalista à sua interrogração por torturadores militares. Ao banalizar abusos da ditadura, reciclando-os como amuleto contra as críticas, Dilma também presta um desserviço a outros que sofreram tortura.
— Alex Cuadros, jornalista, no Twitter.

Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta política.
— Dilma Rousseff, em 7 de julho.

Dilma Rousseff vai acabar esta legislatura.
— A própria, na terceira pessoa, em 9 de julho.

[Há] coisas que escolhemos esquecer na hora de formar uma sociedade ou construir um relacionamento. Não existe relação humana possível que não tenha gigantes enterrados no quintal.
— Kazuo Ishiguro, sobre seu novo livro, ‘O Gigante Enterrado’, na Folha.
BOOPO TRUMP

Dívida do Tesouro com o BANCO DO BRASIL chega a R$ 16,4 bilhões


É o valor da dívida do governo Dilma só com o 
Banco do Brasil. Foto Estadão (conteúdo)
A dívida pendurada pelo Tesouro Nacional no Banco do Brasil cresceu 1.692% em dez anos, em termos nominais. Entre o fim de 2005 e o primeiro trimestre de 2015, o total devido pelo Tesouro ao BB saiu de R$ 919,6 milhões para os atuais R$ 16,4 bilhões. Apenas no governo Dilma Rousseff, que começou em janeiro de 2011, o avanço desse passivo foi de 182%.

Essa forma de "pedalada fiscal" já foi condenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que, em julgamento realizado em abril, decidiu que o governo federal deveria acertar todos os seus passivos com bancos públicos. Além do BB, o Tesouro também mantém dívidas com o BNDES. O governo entrou com um recurso no TCU, alegando que há prazos para esses pagamentos serem realizados.

São três modalidades de dívida do Tesouro inscritas nos balanços do BB, segundo o economista Ebenézer Nascimento, que fez levantamento com os balanços anuais do BB de 2005 ao início de 2014. O estudo foi atualizado pelo Estado com os dados de 2015. As modalidades são o "alongamento" do crédito rural, subsídios agrícolas e créditos a receber do Tesouro.

As maiores dívidas do Tesouro com o BB estão concentradas na modalidade de equalização de taxas agrícolas. Essa é a forma como é chamado o gasto do governo com subsídios. O BB toma recursos no Tesouro a um custo mais elevado do que aquele que ele cobra dos tomadores de crédito agrícola subsidiado. Para cobrir essa diferença entre taxas, o Tesouro deve pagar ao banco uma "equalização". A mesma operação ocorre na relação entre o Tesouro e o BNDES no Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado em 2009 para estimular investimentos.

No caso do PSI, o governo federal está "despedalando", afirma o analista de finanças públicas Fábio Klein, economista da Tendências Consultoria. Segundo dados levantados por Klein, o governo pagou R$ 2,12 bilhões ao BNDES pela equalização de juros do PSI entre janeiro e maio deste ano. No mesmo período do ano passado o governo pagou somente R$ 54 milhões.

"Já com o BB, o saldo em descoberto aumentou, porque o volume de operações de crédito rural do BB saltou muito nos últimos anos. Mas ter R$ 16 bilhões em dívidas do Tesouro não é bom para o banco, que poderia usar o dinheiro para outro fim. O Tesouro, por outro lado, melhora seu quadro fiscal dessa forma", disse Klein.

O Banco do Brasil afirmou, por meio de nota, que a equalização de juros com operações de crédito rural é regulamentada pela Lei 8.427 e por portarias do Ministério da Fazenda. "O valor da equalização é atualizado pela taxa Selic desde a sua apuração, que ocorre de acordo com a respectiva portaria, até o pagamento pelo Tesouro, que é realizado segundo programação orçamentária daquele órgão. A atualização pela Selic preserva a adequada remuneração ao banco e contribui para a evolução do saldo", disse o BB.

O BB justificou o aumento da dívida do Tesouro com o salto no crédito agrícola subsidiado. No Plano Safra de 2004/2005, os desembolsos do BB foram de R$ 25,8 bilhões - já no plano 2014/2015, o volume chegou a R$ 73,3 bilhões. "Consequentemente, aumentou o volume de recursos equalizáveis."

Segundo Nascimento, economista aposentado pelo BB, não há "lógica" para o banco "manter esse passivo aplicado a um rendimento qualquer, mesmo sendo a Selic". Segundo ele, "ao manter-se inadimplente para com o banco, o Tesouro mostra estar insensível ao problema que está sendo causado".

Por meio de nota, o Tesouro informou que o pagamento dos subsídios agrícolas "observa as regras vigentes e a programação financeira, de modo que nesse exercício já foi pago cerca de R$ 1,4 bilhão". O Tesouro informou que o pagamento dos valores "será oportunamente tratado, conforme vier a se pronunciar o TCU, após apreciação do recurso submetido pela União àquela corte". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Pare de acreditar no Governo & O que é Conservadorismo



Bruno Garschagen acabou de lançar um livro pela Editora Record, intitulado Pare de Acreditar em Governo. Esse é o livro que eu gostaria de ter escrito, pois venho dizendo isso há anos. Bruno sistematizou nele suas ideias e é sobre elas que vamos conversar.

CPI da Petrobras: Convocar Cardozo para poupar Dirceu é colocar o mensaleiro na ala VIP do Petrolão


jose_dirceu_42Fio trocado – A decisão do Partido dos Trabalhadores de evitar que o mensaleiro José Dirceu fosse chamado a depor na CPI da Petrobras, colocando em seu lugar o ministro José Eduardo Martins Cardozo (Justiça), é o que se pode chamar de tiro no pé. A ideia inicial era evitar o alastramento da crise que derrete a legenda, mas a manobra, que teve direito a declarações emocionadas do relator da comissão, deputado federal Luiz Sérgio (PT-RJ), serviu apenas para colocar Dirceu em posição de destaque no cerne do Petrolão, já que o ex-chefe da Casa Civil é alvo de investigações no âmbito da Operação Lava-Jato.

José Dirceu é acusado de usar sua empresa de consultoria para mascarar o recebimento de propinas provenientes do esquema criminoso que durante uma década funcionou na Petrobras, mas poupá-lo neste momento crucial pode ser prejudicial ao governo de Dilma Rousseff, que abandonou o ex-comissário palaciano desde a Ação Penal 470 (Mensalão do PT), assim como fez o ex-presidente e agora lobista de empreiteira Luiz Inácio da Silva. Com Dirceu no olho do furacão da Lava-Jato, cresce a possibilidade de vazamento de informações até então desconhecidas acerca do esquema de corrupção. Até porque, o ex-ministro já deu sinais de que não arcará sozinho com essa fatura.

No momento em que o clima de “salve-se quem puder” toma conta do núcleo petista, ter José Dirceu fora de controle é uma ameaça considerável, principalmente diante da iminência de um pedido de prisão por parte do juiz da Lava-Jato. Tanto é assim, que Lula começa a se preocupar não apenas com o desmonte do partido, mas com a possibilidade cada vez maior de ser arrastado de vez para o centro do escândalo. O que faria com que o PT implodisse, levando ao ralo um projeto totalitarista de poder, cujo objetivo primeiro e maior é transformar o Brasil em uma versão agigantada e moderada da vizinha e combalida Venezuela.

A convocação de Cardozo será um péssimo negócio para o governo, a depender da postura da chamada base aliada na CPI da Petrobras. Sempre lembrando que a bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, onde tramita a CPI, está cada vez mais distante do governo e do próprio PT. Isso significa que o ministro da Justiça enfrentará uma comissão com ânimos exaltados, principalmente porque Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e Renan Calheiros, presidente do Senado, acreditam que seus nomes foram incluídos na lista do procurador-geral da República a mando do Palácio do Planalto.

No caso de tentar explicar o imbróglio dos grampos instalados na cela em que encontra-se preso o doleiro Alberto Youssef, na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, Cardozo poderá levar mais problemas para o governo, que há muito perdeu o controle do País e dos aliados. O episódio pé um caso clássico de violação da lei por parte de um governo que acredita ser a PF um apêndice do Palácio do Planalto, quando na verdade é uma polícia de Estado, cuja missão é combater crimes no âmbito federal.

A escuta ilegal instalada na cela de Youssef é prova de que desde os primeiros dias após a deflagração da Operação Lava-Jato o PT e o governo estavam preocupados com os desdobramentos do escândalo, que, como afirmou o UCHO.INFO em diversas ocasiões, atingir o núcleo palaciano e do partido era uma questão de tempo. Esse temor oficial explica as muitas incursões criminosas contra o UCHO.INFO e seu editor, assim como seus familiares, pelo simples fato de o site ter sido um dos responsáveis pela denúncia que culminou com a Operação Lava-Jato. A exemplo do que temos noticiado de forma reiterada, que os ousados que tentam nos intimidar desistam de suas ações, pois nosso compromisso é com o Brasil e os brasileiros. Sem contar que nosso estoque de denúncias e escândalos é explosivo e grande.


Voltando ao depoimento de José Eduardo Cardozo, o ministro poderia aproveitar a oportunidade e falar sobre a “companheira” Erenice Guerra, que longe dos holofotes continua operando nos bastidores do poder com a desenvoltura de sempre. Aliás, Cardozo, como advogado que é, sabe detalhes interessantes acerca da defesa de Erenice.

A Esquerda e os Artistas

Por Bruna Luiza

O que Leandra Leal, Emicida, Marieta Severo, Gregório Duvivier, Bruno Gagliasso, Tico Santa Cruz e Pitty têm em comum? Todos eles são celebridades que aparecem na mídia de modo recorrente, mas que acabam chamando mais a atenção por suas opiniões polêmicas do que por suas atividades artísticas. Nenhum destes personagens dedicou seu tempo a estudos sérios e sistemáticos de ciência política, economia, e filosofia. Então, por que se aventuram em comentários de cunho político? E por que têm respaldo de acadêmicos e escritores brasileiros? Para entender o fenômeno dos artistas que posam de autoridades políticas, precisamos entender algumas questões sobre o cenário em que estes artistas estão inseridos

Toda sociedade possui uma elite, que é formadora de opinião. Não falo aqui da elite detentora do poder, como faz Mosca, ou da elite burguesa dona dos meios de produção, como faz Marx. Quero descarregar o termo elite da pesada carga de preconceitos que têm sido a ele incutidos. Não pensemos, então, em elite como classe rica, dominadora, doutrinadora e malvada.

Deixando o maquiavelismo de lado, quero falar de elite dentro da constatação cotidiana de que todo grupo possui líderes naturais. São esses líderes que compõem a elite a que me refiro, e são eles que guiam o povo, são os formadores de opinião. Em uma sociedade sadia, a elite é composta por intelectuais, pessoas que dedicam sua vida aos estudos, buscam incansavelmente a verdade, e trazem conquistas reais para a vida e o conhecimento humanos. Esse conceito pode não fazer muito sentido, no entanto, se tentarmos entendê-lo com base na sociedade brasileira, pois nossa elite se compõe de pseudo-intelectuais, cuja inteligência não é medida pelo conhecimento mas sim através de diplomas, cargos e hierarquias. Há muito perdemos a elite intelectual para o método socioconstrutivista¹, e, dos anos 70 até hoje, uma mudança cultural tremenda se deu naqueles que formam (ou deveriam formar) nossa elite intelectual.

Essa mudança cultural, que gerou a cultura relativista, começou durante o governo militar. Apesar de combater movimentos guerrilheiros, o regime militar não possuía estratégias morais e culturais. Conforme a teoria do General Golbery do Couto e Silva, era preciso deixar alguns pontos como válvula de escape da população, pequenas brechas que foram mantidas para evitar revoltas. A principal brecha foi o ambiente universitário, onde as idéias de Antonio Gramsci, e outros autores da Escola de Frankfurt, foram difundidas sem pudor. Gramsci é adepto do chamado marxismo cultural, e suas idéias são justamente as de relativismo, socioconstrutivismo, revolução cultural, e tomada do poder através da infiltração das instituições.² Foi assim que os intelectuais brasileiros se formaram, desde meados dos anos 70 até hoje: num ambiente universitário que ensina a desconstrução dos valores ocidentais. De modo natural, a massa seguiu a elite, aderindo à metodologia socioconstrutivista de análise da realidade.

É por isso que o atual cenário político brasileiro, contaminado por esse relativismo socioconstrutivista, é palco da destruição dos valores morais e estéticos, e de uma crescente desvalorização do conceito de verdade. Nesse ambiente que não preza pela verdade, utiliza-se como método de aferição da (pseudo) intelectualidade os diplomas, os cargos, dentre outras honrarias vazias.

Temos, então, um breve diagnóstico de nossa realidade: nossa elite intelectual não preza pela verdade, quer desconstruir valores que sempre foram inerentes à cultura brasileira, e valorizam-se diplomas mais do que realizações concretas. Todos somos afetados por essa cultura, e não há como isolar disso a camada da elite intelectual. Este mal pode afetar de modos e em graus diferentes cada indivíduo, mas é inegável que afeta, de alguma maneira, a todos nós.

Mas a população tem certa sabedoria inerente, herdada através dos costumes e do senso comum de seus antepassados. Não se convence com argumentos puristas, relativistas, sem substância. Seja incapacidade de fazer abstrações profundas quando tem coisas mais rasas, e verdadeiras, para se preocupar – como o filho com fome, a falta de segurança, e os 60 mil homicídios por ano – ou por simplesmente não querer se desprender dos pêndulos morais de certo e errado, o povo não adere ao esquerdismo como os pseudo-intelectuais gostariam. É aí que entram os artistas.

Podemos identificar claramente a distinção entre a classe de intelectuais e artistas, numa sociedade normal. A classe de artistas (famosos e celebridades, em geral) é reconhecida por seu trabalho em um campo específico. Um bom cantor, por exemplo, é reconhecido pela sua voz e músicas que interpreta; uma boa atriz é reconhecida por sua atuação, e assim por diante. Os intelectuais, por outro lado, são uma classe separada, composta por pessoas que não se importam necessariamente com a exposição e fama, mas sim com o estudo e produção de conteúdo que analise e diagnostique a sociedade, para ajudá-la a lidar com seus problemas sociais, políticos, econômicos, e etc. As coisas são assim num país onde há ordem e uma cultura mínima: o artista não tenta se passar por teórico, e o intelectual não almeja a fama.

Um verdadeiro intelectual, portanto, antes de pensar na beleza puramente estética de seu livro, preocupar-se-á com o conteúdo e idéias nele contidos. O intelectual pode desejar reconhecimento da relevância de seu trabalho por seus pares³, mas nisso temos a fama como meio de difusão da teoria, e não como fim do trabalho em si mesmo. Assim, o intelectual quer ser referência em sua área de estudo através da produção de impactos positivos nos indivíduos que tiverem interesse naquele campo.

Mas onde não há verdadeiros intelectuais, onde cultuam-se diplomas em vez da inteligência, não há referências que sirvam de real exemplo à população. O intelectual de verdade cativa, pois tem ao seu lado a verdade. Ele inspira, e faz com que desejemos alcançar seu conhecimento. E, acima de tudo, ele não está desconectado à realidade e entende que a experiência da humanidade e o legado que recebeu da multidão de sábios que o precederam valem mais do que suas idéias e ideais abstratos. Ele, em suma, respeita a experiência humana. Numa sociedade onde tal exemplo não existe, cria-se um vácuo. Como não há pessoas que trazem aspirações de busca da intelectualidade sadia e do conhecimento, o vácuo é ocupado por quem aparece, por quem se expõe, por quem diz ter as respostas. E é aí que entram os artistas.

Os pseudo-intelectuais brasileiros não conseguem convencer a população, pois sequer acreditam em verdade. Então usam artistas, que não possuem preparo nem arcabouço para opinar em questões político-sociais, mas que de certo modo trazem familiaridade e carisma às idéias que apresentam. É por isso que vemos cotidianamente figuras como Leandra Leal defendendo traficantes, Emicida defendendo ódio racial, Gregório Duvivier criticando a religião, e assim por diante. Tais artistas fogem do que lhes compete, para não simplesmente opinar sobre política, mas para formar opiniões, mesmo sem preparo algum para isso. Recebem respaldo da academia, recebem dinheiro do governo graças à Lei Rouanet, e promovem um relativismo doente, que mina as bases de nossa sociedade.

“No Brasil temos um número assombroso de pessoas que trabalham em atividades culturais, escritores, professores, artistas, em geral subvencionados pelo governo, mas que nem de longe pensam em cumprir as obrigações elementares da vida intelectual; tudo o que fazem é apoiar-se uns aos outros num discurso coletivo, reafirmar as mesmas crenças de origem puramente egoísta e subjetivista, expressar desejos e preconceitos coletivos e pessoais, promover a moda. Essas pessoas vivem reclamando de que neste país há poucas verbas para a cultura. Mas, para fazer isso que elas chamam de cultura, já recebem muito mais dinheiro do que merecem.” Olavo de Carvalho

Todos temos direito de opinar livremente sobre o assunto que bem entendermos, mas artistas devem ter bom senso e responsabilidade para reconhecer que sua exposição deve ser utilizada para promover aquilo em que de fato têm conhecimentos suficientes para formar opinião (artes, música, teatro, etc.), e não para doutrinar a população.

Para ilustrar, confira abaixo cinco exemplos de situações em que artistas falaram do que não sabem, e fizeram muito, muito feio.

1. Leandra Leal e os “pequenos varejistas da droga”
Durante a votação da redução da maioridade para quem comete crimes hediondos, a atriz Leandra Leal chamou Eduardo Cunha de ditador e golpista. A atriz alertou sobre o fato de que crime hediondo incluiria os “pequenos varejistas da droga” — também conhecidos como traficantes — que, na opinião de Leandra, não devem ser presos. Ela também fez apelos de que o STF anulasse a decisão da Câmara. Será que Leandra sequer leu nossa Constituição e o o regimento interno da câmara dos deputados antes de pedir a anulação ao STF?
 
2. Emicida socializa os sonhos, mas não as roupas de sua grife
O rapper Emicida tem feito vários comentários polêmicos, e lançou recentemente um clipe com clara alusão ao ódio racial, onde brancos são representados como ricos, opressores e ruins. Mas apesar do discurso socialista, Emicida possui uma grife, localizada em bairro nobre, e com preços nada acessíveis.
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3. Marieta Severo está otimista
Marieta Severo foi questionada por Faustão no programa do dia 28 de junho sobre a situação política e social do Brasil. Faustão falou em “país da desesperança”, e Marieta retrucou dizendo: “eu sou, sempre, otimista. Não acho que nós sejamos o país da desesperança, não. Eu acho que o país caminhou muito nesses últimos anos. Nós estamos em uma crise, sim, temos que ter uma atenção muito grande para sair dela.” Mas logo depois foram descobertos milhões de motivos para a atriz estar otimista nos patrocínios que o governo dá à sua peça.
 
4. Gregório Duvivier, teólogo e articulador político
Não bastasse a atuação e roteiro vergonhosos de Duvivier no canal Porta dos Fundos, com histórias que distorcem o cristianismo, ou simplesmente ofendem cristãos, na última eleição Duvivier resolveu atacar de articulador político. É comum ver artistas se posicionando em período de eleição, fazendo campanha para seus candidatos, mas Duvivier não se contentou em fazer campanha. O ator participou de eventos e chegou a publicar poeminhas na Folha de São Paulo para promover sua candidata.
 
5. Bruno Gagliasso chora por causa de baixa audiência de Babilônia
Ao receber o prêmio Contigo! pela atuação na minissérie Dupla Identidade, Bruno Gagliasso reclamou da baixa audiência de Babilônia e chorou dizendo que era ator para mudar e transformar a realidade. Por fim, Bruno  ameaçou deixar de atuar por causa da péssima receptividade do público à trama que envolve prostituição e homossexualismo. “Quero continuar tendo orgulho do que eu faço, senão vou parar de fazer”, disse o ator.
Bruno Gagliasso chora durante premiação no Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro

Fonte: Reaçonaria

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¹ Para entender melhor, leia: 
http://www.olavodecarvalho.org/semana/121030dc.html
² Para entender melhor, leia: 
http://garotasdireitas.blogspot.com.br/2013/07/marxismo-cultural-raiz-do-problema-da.html
³ É importante aqui assinalar que os pares devem estar igualmente engajados na busca pela verdade, na construção do conhecimento, e não em superficialidades frívolas expressas em títulos. No Brasil não há classe intelectual per se, e os acadêmicos (que emulam o papel de tal classe) têm, na verdade, muita inveja e desprezo pelo par que produz algo de significante. Desse modo, o ambiente acadêmico brasileiro não estimula a intelectualidade, antes reprova a ampliação do raio de alcance das teorias que não correspondam aos diversos tons de esquerdismo já conhecidos e firmados.