Seesaw with heart and brain, 3d illustration
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Há, sim, gente com boas intenções vítima da armadilha
sensacionalista, incapaz de raciocinar de forma mais lógica e buscar
conhecimento objetivo e imparcial para reduzir a ignorância, alimentada pela
visão romântica de mundo.
Em Esquerda Caviar, levantei 20 possíveis
explicações para o fenômeno paradoxal de empresários ricos, atores gananciosos,
intelectuais no conforto capitalista e jovens de classe média-alta detonarem o
capitalismo, o lucro, a ganância. A insistência nas bandeiras sensacionalistas
e românticas é impressionante, e é tema recorrente aqui no blog. Mas se tivesse
que reduzir para somente duas alternativas, diria que temos a canalhice de um
lado, e o romantismo do outro.
O primeiro grande grupo é simples de compreender: pessoas
que não introjetaram valores éticos, que não ligam para a moral, para
princípios, e se vendem em troca de “esmolas” estatais, influência política,
poder etc. A lista é grande: atores pendurados na Lei Rouanet, intelectuais que
vivem de verbas públicas, empresários “amigos do rei” que recebem subsídios
etc. Mas o segundo grupo também é expressivo e não deve ser ignorado.
Há, sim, gente com boas intenções vítima da armadilha
sensacionalista, incapaz de raciocinar de forma mais lógica e buscar
conhecimento objetivo e imparcial para reduzir a ignorância, alimentada pela
visão romântica de mundo. Essas pessoas simplesmente não conseguem abandonar os
slogans e dogmas da esquerda, pois eles as confortam. Acabam, então, imunes aos
argumentos e fatos, insistindo em crenças fracassadas mesmo após todas as
evidências de seus estragos. Os “desenvolvimentistas” fazem parte desse grupo.
A economista Monica De Bolle escreveu um artigo no GLOBO de hoje justamente sobre o
cérebro desses “desenvolvimentistas”, mostrando como ele opera com base em
emoções, não na razão. Os rótulos, tais como “elite”, “rentista” e “neoliberal”
são fundamentais para simplificar o mundo deles: basta identificar alguém que
pensa diferente para jogar para o lado dos “malvados”, que não desejam melhorar
a vida dos mais pobres, ao contrário deles, abnegados “desenvolvimentistas”.
Diz Monica:
O corpo caloso do cérebro desenvolvimentista é composto
por tipo de complexidade peculiar. As estruturas que conectam os dois
hemisférios, a lógica, de um lado, a criatividade, de outro, são incapazes de
conectar salários que crescem acima da produtividade com a inflação galopante
que assola o país. Termos como “inflação de custos” proliferam entre aqueles
que se autodenominam defensores do crescimento, inimigos dos neoliberais que
querem… Bem, eles não sabem articular o que os ignóbeis neoliberais querem. Sabem
apenas acusá-los de serem “contra o povo”, “a favor dos bancos”. “Inflação de
custos” é expressão para lá de enganosa. Se os custos sobem pressionando
preços, é porque em algum lugar a demanda cresce acima da capacidade de oferta.
Às vezes, a demanda cresce acima da oferta, mas o governo não deixa o mercado
se ajustar, represando os preços. Tal atitude desarranja o balanço das empresas
e o papel dos preços como sinalizadores de abundância e escassez, situação
insustentável. Mais dia menos dia, os tais dos custos têm de ser corrigidos,
levando à escalada inflacionária que hoje testemunhamos. O cérebro
desenvolvimentista, entretanto, não faz a conexão entre um lado e o outro.
Em português mais coloquial, essa gente não consegue ligar
“lé” com “cré”, não conecta causa com efeito. São seres emotivos ao extremo,
dominados pelo sistema límbico, “a parte mais primitiva do cérebro”. Sim, são
seres mais primitivos, não resta dúvida. Parecem incapazes de aprender com os
próprios erros. Continuam pregando receitas absurdas, mesmo após novos
fracassos. Causam inflação e depois condenam o empresário “ganancioso” pela
alta de preços. Geram desemprego, mercado negro, e depois pedem mais
intervenção para curar o problema causado por excesso de intervenção. Produzem
rombos no orçamento público e depois pedem mais gastos do governo.
Como a marca registrada dessa turma é não aprender com a
história, fica difícil ter muita esperança em sua capacidade de mudança. Mas
Monica, talvez tentando manter uma postura otimista e lembrando do alerta de
Dante, decide apostar no melhor: “O cérebro humano exibe plasticidade única na
natureza. Talvez seja possível crer que o cérebro desenvolvimentista passe por
transformações súbitas após testemunhar o desastre da economia brasileira. A esperança,
afinal, a esperança”.
Mas confesso que não é fácil manter a chama da esperança
acesa. Eu mesmo já recebi muitas mensagens de gente doutrinada pelo
“desenvolvimentismo” que conseguiu se curar, descobrir o liberalismo, criticar
com argumentos lógicos e fatos históricos as baboseiras dos inflacionistas.
Logo, deveria ter alguma esperança. Ocorre que os que são capazes de superar o
estrago causado pelos professores inflacionistas estão em minoria. Muitos ficam
perdidos para sempre, olhando invariavelmente para o governo em busca de
salvação para os males econômicos, pregando mais gastos públicos, mais
impostos, mais intervenção. É complicado, viu? O Brasil cansa…