Por Cel José Gobbo Ferreira

O brutal crime foi a manifestação mais crua e candente da
intolerância religiosa e atingiu em cheio o conceito democraticamente sagrado
da liberdade de expressão.
A comoção provocada pelos acontecimentos e os protestos que
se sucederam merecem ser analisados sob a ótica da atual situação
político-econômica brasileira, onde, aliás, a própria liberdade de expressão
corre sério risco na ditadura bolivariana em que vivemos.
O povo brasileiro atravessa a época mais negra de sua
história desde que um marujo da esquadra de Cabral, plantado na cesta da gávea,
bradou “Terra à vista”.
No quesito mortes violentas, intimamente ligado à segurança
pública, pouquíssimos países ultrapassam nossos números. É como se houvesse uma
guerra do Vietnã por ano em nossas terras. O aparato policial é incapaz de
proteger a população; dos crimes cometidos apenas 8% são deslindados; e deles,
apenas 48% dos perpetradores são julgados e condenados em processos cheios de
recursos e de chicanas, que duram anos e que, se exitosos, enviam os réus a um
inferno dantesco que é o sistema penitenciário nacional. Não há dinheiro para melhorar esse quadro,
diz o governo do PT, e ninguém vai às ruas protestar por essa situação que coloca
cada cidadão brasileiro na condição do “cabra marcado para morrer”.
Não há como se falar de assistência à saúde neste país. Para
a imensa maioria da população ela é uma sinistra mentira digna de ser
caricaturada em uma edição qualquer do Charlie Hebdo. Os necessitados de
atenção médica se amontoam nos corredores dos hospitais, deitados em macas ou
no chão mesmo, sem nenhum resquício da dignidade devida a um ser humano em
condições penosas. Exames médicos que poderiam antecipar problemas e evitar
dor, sofrimento e morte, demoram meses e meses para serem realizados e os
pacientes vão a óbito bem antes da data marcada para os exames diagnósticos.
Mais uma vez, isso ocorre por falta de recursos, segundo o governo do PT. E
nenhum cidadão realmente digno desse título vai às ruas para protestar sobre
essa situação.
A educação, que é a chave para a solução da maior parte
desses problemas, diminuindo a violência e aumentando o respeito entre as
criaturas, esclarecendo o povo acerca de medidas simples de higiene de cuidados
que podem prevenir muitas moléstias menos graves, da dengue à diarreia, não
existe para aquela mesma parcela que já não tem segurança nem saúde. E aí vem a
grande crueldade. Em uma época essencialmente tecnológica como a que vivemos,
um número enorme de nossos patrícios atravessa a existência na condição de
mortos-vivos, analfabetos funcionais, inaptos para desfrutar as benesses do
progresso e condenados a subempregos durante toda sua vida profissional. Porque
isso? Porque não há recursos suficientes para mudar esse cenário, de acordo com
o partido no poder, o PT. Mais uma vez, ninguém se dá ao trabalho de ir à ruas
para protestar contra esse descalabro.
Mas onde estão esses recursos? A cada dia ficamos sabendo de
mais e mais escândalos, todos orquestrados pelo PT. Só a Operação Lava Jato já
permite estimar até agora, que mais de R$10.000.000.000,00 (escrevo por extenso:
dez bilhões de Reais) foram desviados da Petrobras para satisfazer a sede de
poder do PT e de outros de sua “base de sustentação”, em um mecanismo
cuidadosamente organizado para canalizar tais recursos para os cofres desses
partidos e para o bolso de seus caciques. E, prestem atenção, as investigações
até agora só atingiram a Petrobras, e a caixa preta do BNDES ainda não foi
aberta!!!
O cidadão comum é assassinado aleatoriamente em uma roleta
russa que dá a partida assim que ele põe os pés fora de casa. Os menos
favorecidos morrem como moscas em
moradias sem saneamento ou em hospitais indignos desse nome, devido à falta de
qualquer arremedo de estrutura eficiente que lhes proteja a saúde e a vida,
enquanto legiões de jovens são condenados a viver sua vida inteira como
cidadãos delta do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, por falta de educação
adequada. E os recursos que permitiriam mudar esse quadro são roubados escandalosamente
por aqueles cuja missão precípua seria exatamente zelar por eles. E ninguém,
absolutamente ninguém tem a hombridade de sair às ruas para exprimir sua
revolta contra esse estado de coisas.
Na França, mais de um milhão de pessoas saíram ontem às ruas
para protestar contra o assassinato de uma dúzia de cidadãos. No Brasil, é
impossível reunir uma dúzia de pessoas para protestar contra o extermínio
sistemático de mais de um milhão de seres humanos por ano.
Como diriam os humoristas do Charlie Hebdo: “C´est un pays
de merde!”
Publicado originalmente no site "A Verdade Sufocada"