25/07/1966 - Atentado no Aeroporto de Guararapes/Recife
A Contra-Revolução completava dois anos. Solenidades eram
realizadas em todos os rincões do País.
General Sylvio Ferreira da Silva
Tratamento dos
ferimentos de
25/07/1966 a
10/07/1967.
Sequelas até os dias
de hoje.
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Em Recife, desde oito horas desse 31/03/1966, o povo se
deslocava para o Parque Treze de Maio para o início das comemorações. Milhares
de pessoas estavam reunidas naquele parque quando, às 8h47, foram surpreendidas
por uma violenta explosão, seguida de espessa nuvem de fumaça que envolveu o
prédio dos Correios e Telégrafos de Recife.
Quando a fumaça desapareceu, o povo, atônito, viu os
estragos. Manchas negras e buracos nas paredes, a vidraça no sexto andar
estilhaçada. A curiosidade era geral.
O povo não imaginava que esse seria o primeiro ato
terrorista na capital pernambucana. Ao mesmo tempo, outra bomba explodia na residência do comandante
do IV Exército.
Ainda naquele dia, outra bomba, que falhara, foi encontrada
em um vaso de flores da Câmara Municipal de Recife, onde havia sido realizada
uma sessão solene em comemoração ao segundo aniversário da Contra-Revolução.
Ten Cel Sylvio na fase final do tratamento
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Cinqüenta dias após, em vinte de maio, foram arremessados
dois coquetéis “molotov” e uma banana de dinamite contra os portões da
Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco. Por sorte, até então, os
terroristas não haviam provocado vítimas.
No entanto, antes de completarem quatro meses da explosão da
primeira bomba, no dia 25 de julho,
Recife foi teatro do mais revoltante ato de terror. Bombas de alto
terror explosivo , colocadas no Aeroporto de Guararapes, na União dos
Estudantes de Pernambuco e na sede da USAID, demonstravam que havia um plano
organizado, para desestabilizar a tranquilidade aparente que antecipava a
chegada do Marechal Costa e Silva que, em campanha para presidente da
República, visitava as capitais do Nordeste.
Vinha de João Pessoa e deveria chegar ao Aeroporto Guararapes, onde
cerca de 300 pessoas, entre autoridades, povo e crianças esperavam para saudar
o candidato a substituir o Marechal Castelo Branco.
As autoridades estavam preocupadas com os movimentos que se opunham à
contrarrevoluçâo que, inicialmente, se
limitavam`a arruaças de estudantes e operários, infiltrados por doutrinadores
comunistas. A preocupação crescia, pois pouco a pouco aumentavam os assaltos de
grande vulto em bancos e carros pagadores. Mesmo assim, não imaginavam que
esses movimentos assumiriam consequêncais mais sérias como as que estavam
prestes a abalar o país.
O terrorismo assumiria proporções que não inimagináveis,
pois essas atitudes não estavam na índole do povo brasileiro O povo brasileiro jamais adotara
práticas semelhantes.
Mas, esses atos de
terror vieram abalar a tranqüilidade de Recife, e não tinham as mesmas
intenções dos anteriores que não provocaram vítimas.
Desta vez os terroristas
se esmeraram. Esperavam atingir uma grande quantidade de pessoas. A
justificativa para essas ações era protestar contra a visita a Recife do
marechal Costa e Silva, candidato da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) à
Presidência da República. O alvo principal era o próprio Costa e Silva e sua
comitiva.
No dia marcado para a chegada do candidato, 25 de julho de
1966, explode a primeira bomba na União dos Estudantes de Pernambuco, ferindo
com escoriações e queimaduras, no rosto e nas mãos, o civil José Leite.
A segunda bomba, detonada nos escritórios do Serviço de
Informações dos Estados Unidos, causou apenas danos materiais.
A terceira, mais potente, preparada para vitimar o marechal
Costa e Silva, atingiu um grande número de pessoas. Ela foi colocada no saguão
do Aeroporto de Guararapes, onde a comitiva do candidato seria recebida por
trezentas pessoas.
Sebastião Thomaz de Aquino - "Paraíba"
no hospital
e seu filho
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Por sorte, eram 8h30 quando os alto-falantes anunciaram que,
em virtude de pane no avião que traria o marechal, ele estava se deslocando por
via terrestre, de João Pessoa até Recife, indo diretamente para o prédio da
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Com o anúncio, as consequências do atentado não foram mais
trágicas porque muitas pessoas se dirigiram para os locais por onde o candidato
passaria.
O guarda-civil Sebastião Thomaz de Aquino, o “Paraíba”, que
fora um grande jogador de futebol do Santa Cruz, viu uma maleta escura junto à
livraria Sodiler. Pensando que alguém a esquecera, pegou-a para entregá-la no
balcão do Departamento de Aviação Civil (DAC).
Ocorreu no momento uma grande explosão. A seguir pânico,
gemidos e dor. Mais um ato terrorista acabara de acontecer, com um saldo de
quinze vítimas.
Morreu o jornalista Edson Régis de Carvalho, casado e pai de
cinco filhos. Teve seu abdômen dilacerado.
Também faleceu o almirante reformado Nelson Gomes Fernandes,
com o crânio esfacelado, deixando viúva e um filho menor.
“Paraíba” foi atingido no frontal, no maxilar, na perna
esquerda e na coxa direita com exposição óssea, o que resultou na amputação da
perna direita.
O tenente-coronel Sylvio Ferreira da Silva, hoje general,
sofreu amputação traumática dos dedos da mão esquerda, lesões graves na coxa
esquerda e queimaduras de primeiro e segundo graus. Hoje, 45 anos depois, ainda
sofre com as seqüelas provocadas.
Ficaram gravemente feridos o inspetor de polícia Haroldo
Collares da Cunha Barreto e Antônio Pedro Morais da Cunha; os funcionários
públicos Fernando Ferreira Raposo e Ivancir de Castro; os estudantes José
Oliveira Silvestre e Amaro Duarte Dias; a professora Anita Ferreira de
Carvalho; a comerciária Idalina Maia; o
guarda-civil José Severino Barreto; além de Eunice Gomes de Barros e seu filho,
Roberto Gomes de Barros, de apenas seis anos de idade.
O acaso, transferindo o local da chegada de Costa e Silva,
evitou que a tragédia fosse maior.
"Paraiba",
relembra com saudades seu tempo de jogador de futebol |
Já não se podia duvidar do que estava acontecendo.
Os métodos empregados, as bombas de alto teor mortífero, a maneira como
o plano estava sendo executado indicavam
que Recife fora escolhido por agitadores
treinados para iníciar as açoes mais
sinistras O povo brasileiro se viu
tomado de pavor ao ver introduzido no nosso país um processo que vinha de fora, com cruel
requinte de perversidade. Era o começo
de um plano bem urdido, com ameaça de
intimidação . O terrorismo já estava em marcha.
Este sinistro atentado é considerado como o início da luta
armada.
A reação inicial da policia não impediu que outros atos
terroristas se repetissem - "justiçamentos", sequestros, ataques a
viaturas militares e roubo de armas em quartéis,
assassinatos de militares estrangeiros e de pessoas inocentes, atentado a bomba
no quartel do II Exército em São Paulo.
Alm Nelson Gomes Fernandes, morreu no local |
As autoridades que tentaram acabar com anarquia do governo
João Goulart , tiveram que adotar
reações mais drásticas para tentar impedir o crescimento de atos como esse Mas,
custou caro, a reação foi de acordo com a violência das ações . Vidas foram
perdidas dos dois lados.
Durante muito tempo, a esquerda escondeu, enquanto pôde, a
autoria desse atentado, chegando a afirmar que teria sido feito pela direita
para tentar incriminá-la. Técnica antiga muito usada, até os dias de hoje.
Foi um comunista, militante do Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário (PCBR), que teve a hombridade de denunciar esse crime: Jacob
Gorender, em seu livro Combate nas Trevas - edição revista e ampliada - Editora
Ática - 1998, escreve sobre o assunto:
“Membro da comissão militar e dirigente nacional da AP,
Alípio de Freitas encontrava-se em Recife em meados de 1966, quando se anunciou
a visita do general Costa e Silva, em campanha farsesca de candidato
presidencial pelo partido governista Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Por
conta própria Alípio decidiu promover uma aplicação realista dos ensinamentos
sobre a técnica de atentados.”
“Em entrevista concedida a Sérgio Buarque de Gusmão e
editada pelo Jornal da República, logo depois da anistia de 1979, Jair Ferreira
de Sá revelou a autoria do atentado do Aeroporto de Guararapes por militantes
da AP.
Entrevista posterior, ao semanário Em Tempo, referiu-se a
Raimundinho como um dos participantes da ação. Certamente, trata-se de Raimundo
Gonçalves Figueiredo, que se transferiu para a VAR-Palmares (onde usava o nome
de guerra Chico) e morreu, a vinte sete de abril de 1971, num tiroteio com
policiais do Recife.”
Fica, portanto, esclarecida a autoria do atentado ao
Aeroporto de Guararapes:
- Organização responsável: Ação Popular (AP);
- Mentor intelectual: ex-padre Alípio de Freitas - que já atuava nas Ligas Camponesas - membro da comissão militar e dirigente nacional da AP;
- Executor: Raimundo Gonçalves Figueiredo, militante da AP.
Observação:
- Em 25/12/2004, Cláudio Humberto, em sua coluna, no Jornal de Brasília, publicou a concessão da indenização fixada pela Comissão de Anistia, que beneficia o ex-padre Alípio de Freitas, hoje residente em Lisboa. Ele terá direito a R$ 1,09 milhão.
- Raymundo Negrão Torres, em seu livro O Fascínio dos Anos de Chumbo, Editora do Chain, página 85, escreve o seguinte: “Um dos executores do atentado, revelado pelas pesquisas e entrevistas promovidas por Gorender, foi Raimundo Gonçalves Figueiredo, codinome Chico, que viria, mais tarde a ser morto pela polícia de Recife em 27 de abril de 1971, já como integrante da VAR-Palmares e utilizando o nome falso de José Francisco Severo Ferreira, com o qual foi autopsiado e enterrado. Esse terrorista é um dos radicais que hoje são apontados como tendo agido em defesa da democracia e cujos “feitos” estão sendo recompensados pelo governo, às custas do contribuinte brasileiro, com indenizações e aposentadorias que poucos trabalhadores recebem, recompensa obtida graças ao trabalho faccioso e revanchista da Comissão de Mortos e Desaparecidos, instituída pela lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995. É um dos nomes glorificados no livro Dos filhos desse solo, página 443, editado com dinheiro dos trabalhadores e no qual Nilmário Miranda, ex-militante da POLOP e secretário nacional dos Direitos Humanos do governo Lula, faz a apologia do terrorismo e da luta armada, através do resultado dos trabalhos da tal comissão, da qual foi o principal mentor.”
Raimundo Gonçalves Figueiredo é nome de uma rua em Belo
Horizonte/MG e sua família também foi indenizada.
Publicado originalmente no site "A Verdade Sufocada"