Por Maynard Marques
de Santa Rosa

A catarse deflagrada
pela operação “Lava-Jato” invalida a governabilidade e alimenta a pressão por
mudança, surpreendendo a oposição. O Eclesiastes prevê que: “Tudo tem o seu
tempo determinado: há tempo de plantar e de colher”. O petismo já colhe os
frutos da rejeição. O escândalo de cada dia, tornado rotina pelo ruído da
mídia, transfere o noticiário policial para a agenda política, a ocupar o
espaço de debate das questões nacionais.
Com o centro de
decisão paralisado, aprofunda-se a recessão econômica, mas o ambiente político
continua estagnado: muita discussão e pouca decisão. Mantidos os parâmetros
atuais, nada se pode esperar dos atores políticos, salvo a insegurança jurídica
que nasce dos surtos incoerentes de um governo desnorteado.
Os sintomas de
alienação do governo já se faziam notar no final do ano passado. Em novembro,
durante entrevista ao “Globo News”, o ministro Mercadante, indagado sobre a posição
da presidente nas eleições para o comando da Câmara dos Deputados, respondeu
com uma arrogância sintomática: “A presidenta (sic) vetou o nome de Eduardo
Cunha para presidente da Câmara”.
O poder executivo
não é capaz de discernir a realidade. As atitudes inseguras da mandatária
encaixam-se no terceiro caso da classificação de Maquiavel sobre líderes
políticos: “Há três tipos de cérebro: o que compreende por si só, o que
discerne aquilo que outros compreendem e o que não compreende nem por si só nem
por meio dos outros. Este último não serve para ser príncipe” (O Príncipe, cap.
XXII).
Enquanto isso, os
partidos permanecem inertes, mais preocupados em negociar as próprias
conveniências do que em assumir a responsabilidade que lhes foi confiada.
Certamente, há expectativas paralisantes, pelo envolvimento de novos atores nas
fraudes milionárias, sobretudo, no universo dos avalistas do regime. Além
disso, a cultura nacional indica que o papel do povo nas crises do poder sempre
foi irrelevante.
No entanto, a
opinião pública ganhou consciência da situação, antes mesmo dos seus
representantes políticos, e já clama por mudança, o que torna perigoso um
possível “acordão”. A paciência diminui na justa proporção do desemprego e da
taxa de inflação.
Esgotada a
esperança, pode eclodir o protagonismo das massas, invariavelmente, cego,
arquetípico e vulnerável ao oportunismo e à baderna. Afinal, mantém-se viva a
sugestão longamente inculcada: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!”.
Fonte: Alerta Total
Maynard Marques de Santa Rosa é General
de Exército, na reserva.