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José Dirceu (Rocha Lobo/Futura Press)
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Executivo da Toyo Setal afirma que ex-ministro interveio pela
contratação da empresa junto ao ex-presidente da Petrobras José Sérgio
Gabrielli
O executivo da Toyo Setal Julio Camargo, um dos delatores da
Operação Lava Jato, afirmou em novo depoimento prestado no dia 8 de abril, que
o ex-ministro da Casa Civil e mensaleiro condenado José Dirceu interveio pela
contratação da empresa junto ao ex-presidente da Petrobras José Sérgio
Gabrielli. O depoimento faz parte do material encaminhado pela Polícia Federal
ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) relativo aos inquéritos que apuram
envolvimento de políticos no esquema de corrupção e propina na estatal.
Camargo disse à PF que conheceu o petista em uma festa de
aniversário do ex-ministro, quando ele já tinha deixado a Casa Civil. O convite
foi feito por um amigo em comum. Os dois tiveram mais de vinte encontros,
segundo os relatos de Camargo, a maioria no escritório ou residência de Dirceu.
No novo depoimento, Julio Camargo afirma que tinha meios de
dar suporte financeiro à Petrobras, mas em contrapartida a estatal deveria
celebrar contrato com um consórcio do qual a Toyo fazia parte. Diante da
sinalização de mudança da Petrobras desse modelo de negócio, o executivo teria
buscado ajuda de Dirceu. O ex-ministro disse, segundo o relato de Camargo, "ter
feito gestão junto a Gabrielli no sentido de entender por qual razão a
Petrobras havia mudado a sistemática".
Ele declara que doou valores ao PT, mas destaca que nunca
ofereceu vantagens "devidas ou indevidas" a José Dirceu. O executivo
lembra ter dado apenas um uísque e um vinho ao ex-ministro, o último como
presente em um aniversário. Apesar disso, Camargo diz ter autorizado viagens de
Dirceu em seu avião em "várias oportunidades", mas não se lembra de o
petista ter feito menção a ninguém da Petrobras nas viagens.
À Agência Estado, Gabrielli disse não se lembrar de nenhuma
discussão sobre modelo de contratação da Toyo. "Não tenho a menor ideia
sobre o que se refere sua consulta. Não lembro de nenhuma discussão geral sobre
modelo de contratação da Toyo e é muito difícil lembrar, sem maiores detalhes,
especialmente sem relacionar qual projeto esta questão poderia estar associada.
Quanto a conversas deste teor com José Dirceu tenho certeza que nunca
tive", afirmou o ex-presidente da estatal.
O advogado de José Dirceu nas investigações relativas à Lava
Jato, Roberto Podval, afirmou que o depoimento de Camargo aponta que nenhum
negócio foi firmado. Podval diz ainda "não ver ilicitude" no caso,
uma vez que Dirceu não estava mais no governo e possui empresa de consultoria.
Venezuela - Dirceu e o executivo da Toyo também conversaram
sobre Venezuela, segundo o delator. A Toyo enfrentava problemas na execução de
contratos no País e Dirceu chegou a sinalizar que "conseguiria uma
entrada" de Camargo com o presidente da PDVSA, estatal venezuelana
responsável pela exploração de petróleo, de acordo com o depoimento. O
executivo não teve autorização da Toyo para continuar com a negociação,
conforme a delação.
Cunha - O executivo da Toyo relata ainda ter se encontrado
com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em duas ocasiões. Os dois
trataram sobre questões do setor portuário. Na época, estava em tramitação no
Congresso a medida provisória conhecida como MP dos portos, que regulamentou o
setor. Cunha teria perguntado a Camargo se haveria disponibilidade de a Toyo,
por meio de banco japonês, conseguir financiamento para projetos de
investimentos nos portos.
O peemedebista teria prometido "fazer gestões"
para a contratação da Toyo caso o financiamento fosse obtido. As conversas
cessaram depois que Camargo afirmou que não conseguiria obter o financiamento.
Cunha disse ter sido procurado por diversas pessoas na época
da tramitação da MP dos Portos. Uma delas poderia ter sido Camargo, segundo o
presidente da Câmara. Ele destaca que o executivo queria investir e a nova
legislação previa investimentos privados em áreas externas dos portos.
O depoimento de Julio Camargo foi uma das diligências
solicitadas pela Procuradoria-Geral da República no inquérito que investiga o
senador Edison Lobão (PMDB). O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo
Roberto Costa disse em delação premiada que recebeu do parlamentar a
solicitação da entrega de 1 milhão de reais. O doleiro Alberto Youssef disse
que já foi levar dinheiro para o Maranhão em razão de uma operação com Julio
Camargo e que não sabe quem era o destinatário dos valores. No depoimento do
início de abril, Julio Camargo negou ter dado a Youssef valores para pagamentos
no Maranhão ou para pagamentos de interesse de políticos do Estado.
(Com Estadão Conteúdo)