Por Gen Clovis Purper Bandeira
“Rasguei a minha fantasia
O meu palhaço, cheio de laço e balão.
Rasguei a minha fantasia
Guardei os guizos no
meu coração.”
(Lamartine Babo – 1934)
Em tempo
de carnaval, relembro a famosa marchinha de Lamartine Babo, que ainda hoje é
tocada nos bailes carnavalescos.
Há algum
tempo, embalado pelas notícias de que tudo ia bem, éramos uma nação abençoada
por Deus, além de bonita por natureza, comecei a confeccionar minha fantasia de
palhaço. Uma beleza!
A
propaganda eleitoral do ano passado forneceu-me ótimos adereços para
enfeitá-la: desemprego zero, superávit primário garantido, balança de
pagamentos positiva, inflação sob controle, energia assegurada para crescimento
no curto, no médio e no longo prazo, pré-sal milagroso e prestes a produzir
seus frutos, raros casos de corrupção combatidos com rigor e presteza,
estradas, portos, aeroportos, casas populares, educação, saúde pública e outros
sonhos antigos ao alcance da mão.
Empolgado, dependurei todos esses laços e balões em minha
fantasia otimista. Ignorei os conselhos de amigos desconfiados, que me garantiam
que a propaganda era enganosa e que camuflava um estado pré-falimentar, que
estava chegando a hora de pagar a conta dos erros monumentais cometidos contra
as contas nacionais na década de mentiras em que vivíamos etc.
Menosprezei os avisos sensatos e embarquei no trem da folia,
satisfeito com a beleza da fantasia que vestia e vivia.
Passada a eleição, vi-me de repente sacudido por cascatas de
surpresas negativas. Tudo acontecia ao contrário do que me tinham prometido, e
os belos enfeites foram sendo arrancados pela desilusão, em tal velocidade que
era impossível impedir sua remoção.
Em poucas semanas vejo-me maltrapilho, com a fantasia em
frangalhos e, pior, sem as belas ilusões que embalavam os sonhos em que quis
acreditar.
Basta adaptar a letra da antiga marchinha para “rasgaram
minha fantasia” e a situação estará bem descrita.
Todas as belezas prometidas se foram. Restou apenas o velho
palhaço crédulo, quase um espantalho, sem nenhuma alegoria ou alegria.
De tudo, sobram-me alguns guizos que consegui guardar dentro
do coração, sementes de esperança para a dureza que a vida me reserva para
quando o carnaval passar…
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Gen Clovis Purper Bandeira é editor de opinião do Clube
Militar