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Empresas de Lula e Dirceu constam em laudo da
Polícia Federal anexado aos autos da operação
(Fotos: Estadão/Conteúdo)
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A Polícia Federal investiga uma lista de pelo menos 42
empresas de assessoria, consultoria e prestação de serviços contratadas pela
Camargo Corrêa, entre 2008 e 2013, que teriam recebido R$ 145 milhões. Entre
elas estão a LILS Palestras Eventos e Publicidade, do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o Instituto Lula– que não é uma empresa, mas recebeu doação de
R$ 3 milhões – e a JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro José Dirceu
(Casa Civil).
O dado consta do laudo da PF subscrito pelo perito criminal
federal Ivan Roberto Ferreira Pinto, anexado na última terça-feira, 9, nos
autos da Operação Lava Jato, que desbaratou um bilionário esquema de cartel e
corrupção na Petrobrás, envolvendo PT, PMDB e PP.
A perícia foi realizada na contabilidade da Camargo Corrêa
levando em conta o período em que a empreiteira recebeu R$ 2 bilhões da
Petrobrás. Além dos R$ 145 milhões pagos pelas consultorias, o documento mostra
que a construtora repassou R$ 183 milhões em “doações de cunho político” –
destinadas a candidaturas e partidos da situação e da oposição.
Os exames foram pedidos pelo delegado da PF Eduardo Mauat da
Silva. Eles têm por objetivo “relacionar doações de cunho político realizadas
pela empresa Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A. Bem como identificar
pagamentos realizados a título e consultoria e/ou prestação de serviços e o
total mensal oriundas de contratos junto a Petrobrás, outras estatais e perante
quaisquer agentes públicos, no período”.
Entre as consultorias que tiveram detalhamentos dos
pagamentos de R$ 3,6 milhões registrados, estão a Globalbank Aassessoria Ltda
que “tem como sócios Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, o PP, ex-ministro
do governo Collor, e seu sócio João Mauro Boschiero – ambos investigados na
Lava Jato.
Há ainda o registro de pagamento de R$ 7 milhões para a PFGB
Assessoria e Consultoria, do ex-executivo da Camargo Corrêa Pietro Francesco
Giavina Bianchi, entre janeiro de 2008 e dezembro de 2013. O ex-diretor foi
preso em 2009 acusado de pagamentos de propina a políticos na Operação Castelo
de Areia – que teve o processo anulado em 2011 pelo Superior Tribunal de
Justiça (STJ) a por problemas processuais.
Na mesma lista de consultorias sob suspeita estão as
prestadas pela Treviso Empreendimentos e pela Piemonte do Brasil
Empreendimento, do lobista Julio Gerin Camargo. Juntas elas receberam R$ 67
milhões da construtora Camargo Corrêa, nos anos de 2010 e 2012.
Segundo o ex-presidente da empreiteira Dalton Avancini, os
pagamentos foram feitos “sem terem realizado qualquer serviço”. Desses R$ 67
milhões, os investigadores da Lava Jato identificaram R$ 1 milhão doados na
eleição de 2010 para candidatos, como o líder do governo no Senado, Delcídio
Amara (PT-MS), e a senadora Marta Suplicy (ex-PT, hoje sem partido-SP).
Julio Camargo é apontado como operador de propinas no
esquema de cartel e corrupção na Petrobrás, desbaratado pela Lava Jato a partir
de março de 2014. Representava comercialmente a Camargo Corrêa e empresas
internacionais – como o grupo japonês Mitsui, envolvido no inquérito contra o
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
As doações registradas são oficiais, afirma a Camargo
Corrêa, e feitas dentro da legalidade. Investigadores da Lava Jato, no entanto,
têm elementos para apontar que os pagamentos a partidos serviram para ocultar
propina desviada da Petrobrás bem como contratos de assessoria, como os de
Julio Camargo e Dirceu.
No esquema alvo da Lava Jato, que já chegou ao um rombo
reconhecido pela estatal de R$ 6 bilhões, PT, PMDB e PP controlavam diretorias
da estatal, por meio da qual arrecadavam de 1% a 5% em contratos que eram
fatiados por 16 empresas cartelizadas, entre elas a Camargo Corrêa.
Lula. O laudo da PF anexado aos autos da Lava Jato sob a
tutela do juiz federal Sérgio Moro é o primeiro documento que traz dados dos
negócios de Lula. A Camargo Corrêa tem registrado o pagamento de R$ 3 milhões
para o Instituto Lula e mais R$ 1,5 milhão para a LILS Palestras Eventos e
Publicidade – com endereço registrado na residência do ex-presidente -, entre
os anos de 2011 e 2013.
São três pagamentos de R$ 1 milhão cada registrados como
“Contribuições e Doações” e “Bônus Eleitoral” para o Instituto, aberto por Lula
após ele deixar a Presidência da República, em 2011. No caso dos pagamentos ao
Instituto Lula e à LILS eles foram feitos nos mesmos anos: 2011, 2012 e 2013 –
em meses distintos.
Para o Instituto, dos três pagamentos, dois são registrados
como “Doações e Contribuições”: 2 de dezembro de 2011 e 11 de dezembro de 2013.
O que chamou a atenção dos investigadores foi o lançamento de 2 de julho de
2012, sob a rubrica “Bônus Eleitoral”.
Para o LILS, a empreiteira depositou em conta corrente: R$
337,5 mil, em 26 setembro de 2011, R$ 815 mil em 17 de dezembro de 2012 e R$
375,4 mil em 26 de julho de 2013.
Lula não é alvo de investigação da Lava Jato. No mesmo
documento pericial, constam os pagamentos da Camargo Corrêa para a JD
Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), do
governo Lula. Ele é investigado por suposto uso das consultorias para empresas
do cartel como forma de ocultar propina para o PT. O laudo pericial aponta que
foram lançados como pagamentos entre 2010 e 2011 o valor total de R$ 900 mil,
por meio de 10 depósitos bancários.
“As contribuições partidárias são efetuadas e registradas em
respeito a legislação em vigor e não tem relação com o Instituto Lula. Ao
Instituto Lula a empresa efetuou contribuições em apoio Institucional e à LILS
Ltda. ao patrocínio de palestras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
exterior. A contribuição ao Instituto Lula foi registrada equivocadamente em
2012 como ‘bônus eleitoral’ na contabilidade.”
O PT informa, por intermédio da sua assessoria de imprensa,
que todas as doações que o partido recebeu aconteceram estritamente dentro dos
limites legais e foram posteriormente declaradas à Justiça eleitoral.
Na terça-feira, 9, o Instituto Lula se manifestou sobre as
doações feitas pela Camargo Corrêa, atendendo solicitação da reportagem. O
Instituto Lula informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que os valores
registrados na contabilidade da Camargo Corrêa foram doados legalmente e que
não existe relação entre a entidade e questões eleitorais.
“O Instituto Lula não prestou nenhum serviço eleitoral,
tampouco emite bônus eleitorais, o que é uma prerrogativa de partidos
políticos, portanto deve ser algum equívoco.”
Segundo a assessoria do Instituto, “os valores citados no
seu contato foram doados para o Instituto Lula para a manutenção e
desenvolvimentos de atividades institucionais, conforme objeto social do seu
estatuto, que estabelece, entre outras finalidades, o estudo e compartilhamento
de políticas públicas dedicadas à erradicação da pobreza e da fome no mundo”.
Quanto aos valores para a empresa do ex-presidente a
assessoria informou que “os três pagamentos para a LILS são referentes a quatro
palestras feitas pelo ex-presidente, todas elas eventos públicos e com seus
respectivos contratos”.
“Essas doações e pagamentos foram devidamente
contabilizados, declarados e recolhidos os impostos devidos.”
A nota informa ainda que “as doações ao Instituto Lula e as
palestras do ex-presidente não tem nenhuma relação com contratos da Petrobrás”.
Julio Camargo nunca foi lobista. Quanto ao contrato
mencionado, já declarou os fatos em colaboração, e ratifica que atuou sempre
como representante comercial da empresa em questão. Nunca teve qualquer contato
com o sr. Dalton Avancini, causando espécie a declaração do mesmo de que nenhum
serviço tenha sido prestado. (AE)