Por Percival Puggina
Estamos tão
habituados a isso quanto com a conversa daqueles que jamais estão a par de
qualquer irregularidade, ainda que tenham a seu dispor multidão de servidores e
instituições regiamente pagos para tarefas de fiscalização e controle. Tais
autoridades nunca se surpreendem porque, mesmo depois de informadas, continuam
sabendo coisa alguma. Afinal, mais de duas dezenas de ministros e ex-ministros
da presidente estão sob investigação.
Aliás, cadê a
faxineira? Alguém despediu a faxineira?
Tão verdadeiro
quanto o que acabo de afirmar é algo de que poucos se dão conta. Refiro-me ao
fato de estarmos, nós, os pagadores de impostos, a sociedade como um todo,
pagando caríssimo as contas da vitória eleitoral conquistada pelo governo da
União em 2014. O aumento da inflação, a recessão, o desemprego, o déficit nas
contas públicas, a decadência da qualidade dos serviços prestados, o descrédito
do país no mercado internacional, tudo é parcela da mesma conta.
O governo, para
criar um clima de euforia na sociedade, injetou droga pesada no subconsciente
coletivo. Estourou todos os caixas do setor público. Queimou centenas de
bilhões de reais e de dólares e o país se enterrou fundo na toca do coelho
falante onde era encenado o país das maravilhas. E o diabo foi sendo feito.
Soube-se, por fim,
que a toca era apenas isso, que o buraco era mais em baixo e que havia centenas
de bilhões a serem pagos. Eis por que, ao custo dos serviços que não se tem e
aos males de uma economia em crise, somam-se os valores financeiros referentes
à elevação da carga tributária. Há um pacote de medidas em gestação. Sempre há
um pacote de medidas em gestação quando governos irresponsáveis gastam mais do
que arrecadam. Recentemente, depois de deixar claro que não haverá correção da
tabela do IR (o que representa elevação iníqua da alíquota de contribuição) o
Leão passou a cogitar de uma faixa adicional de 35% para o Imposto de Renda.
Tudo isso e mais o
que a criatividade fiscal venha a produzir nos meses vindouros pode ser
enquadrado na rubrica geral "contas de campanha". E se assim como eu,
diante dessa constatação, você se sente otário, tirado para bobo da corte
brasiliense, saiba que tem a minha solidariedade. Afinal, a conta que estamos
pagando foi criada para eleger o governo e o Congresso que temos.
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Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora
e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.