Ministro da Saúde
daquela presidente que diz que é o ovo do Aedes aegypti que transmite o zika
diz torcer para que as meninas contraiam o vírus antes da idade fértil. E vai
continuar no cargo, é claro! Ele não está lá por seus dotes intelectuais e
técnicos
Parece mesmo não
haver limites para a estupidez. Nesta quarta, Marcelo Castro, ministro da
Saúde, fez uma visita à Sala Nacional de Coordenação e Controle de Ações para o
Enfrentamento da Microcefalia. Resolveu depois falar com a imprensa e deu o que
se pode chamar de boa notícia se verdadeira: disse que as pesquisas para a
vacina contra o vírus zika começam ainda neste semestre. Três laboratórios já
teriam estabelecido parcerias no exterior para levar adiante a empreitada: o
Instituto Butantan, o Instituto Evandro Chagas, de Belém, e o Bio-Manguinhos,
da Fiocruz.
Poderia ter parado
aí, e todos nós ficaríamos algo desconfiados, porque conhecemos o governo, mas,
vá lá, um tanto esperançosos. Mas sabem como é: Castro resolveu pensar alto,
fazendo um raciocínio supostamente pragmático. E acabou contribuindo para
passar adiante uma informação ainda não confirmada pela ciência. E, vocês
verão, verdadeira que fosse, isso não retiraria o teor absurdo de sua fala.
Disse Castro:
“Não vamos dar
vacina para 200 milhões de brasileiros. Vamos dar para as pessoas em período
fértil. E vamos torcer para que, antes de entrar no período fértil, elas [as
jovens] peguem a zika, para ficarem imunizadas pelo próprio mosquito. Aí não
precisa da vacina.”
Dizer o quê? É isto mesmo:
o ministro nos convida a torcer para que crianças do sexo feminino peguem logo
o zika. Assim, diz ele, ficam imunes e não precisam tomar a vacina.
Como responder a
isso? Bem, em primeiro lugar, a assertiva nega um dos fundamentos da
universalização das vacinas. Em segundo lugar, ignora que os males do zika não
se resumem ao risco de microcefalia do feto. Essa é uma consequência. Os
sintomas do doente são outros. Em terceiro, suspeita-se que outras doenças
estão associadas ao dito-cujo. Em quarto, não se tem a certeza ainda — trata-se
apenas de uma hipótese — de que, tendo contraído uma vez o vírus, a pessoa
fique imune. O próprio governo recomenda que se trate essa suposta imunização
como mito, como se pode ver nesta página da EBC, a agencia oficial de notícias
(imagem abaixo).
Pode parecer que
estou aqui a maximizar uma gafe. Notem: se ele fosse ministro de qualquer outra
pasta, talvez eu deixasse pra lá. Mas o sujeito é médico e titular da Saúde.
Isso dá conta, sim, da qualidade de boa parte do governo Dilma. Todo mundo sabe
que Castro, que é do PMDB, não está lá porque tem um perfil técnico que o
habilite a exercer o cargo. Trata-se apenas de um arranjo político, de mais um.
Ora, o que os dados
mais recentes da Operação Lava Jato revelam? Segundo uma das denúncias
entregues ao STF pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, quando
presidente, Lula literalmente dividiu a direção da BR Distribuidora entre
Fernando Collor e o PT. Tal divisão teria servido, entre outros propósitos, ao
pagamento de propina.
Essa é a concepção que
o tal “presidencialismo de coalizão” assumiu no Brasil: os cargos são loteados
entre os partidos políticos, que escolhem, então, os ministros segundo
conveniências que, não raro, nada têm a ver com interesse público.
Estamos bem servidos
nessa área. No dia 5 de dezembro, Dilma lançou em Recife um programa de combate
ao Aedes aegypti. No discurso (vídeo abaixo, entre 8min42s e 8min56s), mandou
esta pérola:
“Porque o mosquito
transmite essa doença porque ele coloca um ovo. Esse ovo tem o vírus que vai
transmitir a doença”
Um dia antes,
participando da abertura da Conferência Nacional de Saúde, ela já tinha mandado
ver (vídeo abaixo):
“E, agora, eu queria
destacar uma questão, que é uma questão que está afetando o Brasil inteiro, que
é a questão da vigilância sanitária: gente, é o vírus Aedes aegypti [que ela
pronuncia “aegipsi”] , com as suas diferentes modalidades: chikungunya, zika
vírus. Nós temos de tratar a questão do Zika vírus com muita seriedade”. Vejam.
Encerro
Temos uma presidente
que confunde o mosquito com o vírus e que afirma que a doença é transmitida
pelo ovo do inseto. E seu ministro da Saúde torce para que crianças contraiam
logo a doença; assim, supõe-se, dá para economizar com vacinas.
Fomos da chanchada
ao filme de terror sem escalas.
Quando eu era
moleque, empregava-se muito a palavra “zica”, que, suspeito, derive de
“ziquizira”, cujo primeiro sentido é “má sorte, urucubaca”. Empregava-se assim,
quando algo dava errado: “Putz, meu! Que zica!”. Também podia significar uma
operação malsucedida: “Xiii, deu zica!”.
Em qualquer das
acepções, termino assim. Dilma presidente e Castro ministro… É muita zica pra
um país só!