As projeções para a economia, cada vez mais pessimistas,
devem piorar ainda mais com a proposta orçamentária para o próximo ano, que já
prevê as contas no vermelho, com um rombo de 30 bilhões e meio de reais. O fato
de o governo ter jogado a toalha em relação ao ajuste fiscal aumenta muito o
risco de rebaixamento do País por parte das agências internacionais.
E foi essa possibilidade que fez o mercado brasileiro ter um
fechamento de mês ainda mais negativo. O dia foi de muito nervosismo. Em vez do
superávit previsto para o ano que vem de cerca de 34 bilhões de reais devemos
ter um déficit de meio por cento do PIB, incluindo mais aumento de carga
tributária. E a redução da meta deste ano, para apenas 0,15% do PIB, que também
não vai ser cumprida, já pegou muito mal.
O governo fala agora em transparência. Pode até ser. Está
admitindo que não consegue gerar saldo nas contas públicas. Tem justificativas:
como a recessão, as mudanças em propostas apresentadas pelo Congresso, que
poderiam ter garantido maior economia ou aumento de receita. Resta ver se as
agências terão paciência com a situação concreta que está sendo apresentada,
que é a incapacidade, principalmente política, de o governo encaminhar
propostas e ações que possam colocar as finanças e a economia em uma trajetória
mais favorável. Temos uma enxurrada, quase contínua, de dados ruins.
O que se imaginava era um ajuste eficiente, rápido, que
abrisse espaço para a retomada do crescimento ainda este ano. Ilusão total. O
Brasil está retrocedendo em conquistas importantes, com uma crise que pode ser
a pior em 85 anos e desarranjo forte das finanças públicas. Hoje o relatório
semanal Focus, que traz as projeções de economistas do mercado e de
consultorias para os principais indicadores, mostrou que a expectativa é de uma
retração da economia de 2,26% este ano e de 0,4% para 2016.
A proposta orçamentária do governo traz previsões parecidas,
só que menos ruins. O governo ainda prevê uma expansão de 0,2% da economia no
ano que vem, o que parece muito improvável e pode comprometer o que espera de
receita. Para a inflação, o mercado projeta 9,28% agora e 5,51% em 2016. Quanto
à evolução da economia, como eu disse, as projeções ainda devem piorar. Mesmo
sem o rebaixamento, não se vê qualquer estratégia mais consistente para
assegurar a volta do crescimento.
Tudo parece muito carta de intenção. E o governo se apega em
alguns poucos dados melhores pra reforçar o discurso que tudo vai dar certo.
Levy pegou o velho cacoete. Teríamos de ter um governo forte pra levar adiante
tudo que deveria ser feito para colocar a casa em ordem. Certamente, não é o
caso. Temos é um governo fraco que tenta tirar o País da enrascada que ele
mesmo armou, mas sem muita habilidade pra isso. O cenário é de muitas
incertezas.
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