Por Eduardo Dias da Costa Villas Bôas
Opinião/O Estado
de São Paulo
Chefe militar invicto e cidadão inatacável, tornou-se
Patrono do Exército Brasileiro não apenas pela grandeza de suas conquistas na
luta pela independência, na manutenção da integridade nacional ou nas campanhas
do Prata, mas também pela visão de estadista com que cuidou da reconciliação
dos brasileiros nas lutas fratricidas que pacificou, e pelo respeito e
dignidade que dedicou àqueles que derrotou nos conflitos externos.
A trajetória deste grande general ensina aos soldados de
todos os tempos que a grande e generosa nação que almejamos todos exige a permanente
vigilância pela sua integridade e impõe a capacitação de suas Forças Armadas
para garantir seus interesses e assegurar sua soberania.
À integridade territorial construída por Caxias seguiu-se a
obra ainda por terminar da integração de todas as regiões do País à vida
socioeconômica brasileira.
Nessa epopeia, ninguém superou Cândido Mariano da Silva
Rondon, o marechal Rondon, militar e sertanista que no início do século passado
desbravou os mais inóspitos sertões para unir o Brasil pelas linhas telegráficas,
mapeou territórios selvagens e demarcou nossas fronteiras. Seu espírito
humanista garantiu que as comunidades indígenas até então desconhecidas
tivessem respeitadas suas culturas e sua integridade. Mato-grossense
descendente de índios bororós e terenas, cunhou a frase imortal que foi sua
divisa no trato com os silvícolas: “Morrer se preciso for, matar nunca”.
A continuidade desse esforço nos nossos dias pode ser vista
no entusiasmante trabalho de nossos soldados que, longe de tudo e contra todas
as dificuldades, representam o Estado brasileiro nos mais remotos pontos das
nossas fronteiras, levando, juntamente com a nossa Bandeira, a mão amiga para
socorrer aquelas longínquas populações.
Esse ideal de integração territorial, que outrora motivou
portugueses a construírem mais de 60 fortes para rechaçarem as investidas de
espanhóis, holandeses, ingleses e franceses, permanece vivo nos projetos
estratégicos que hoje impulsionam o Exército para o futuro.
Com esse propósito a Força Terrestre conduz o arrojado
Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), para ampliar o
controle da nossa extensa faixa de fronteira, aliando recursos de alta
tecnologia desenvolvidos por empresas nacionais à concepção que integra as
ações das Forças Armadas com todos os órgãos responsáveis pela segurança
pública e de fiscalização, nas três esferas do poder.
O Sisfron, apoiado numa extensa e sofisticada rede de
sensores, interligados a sistemas de comando e controle, por sua vez conectados
às unidades operacionais com capacidade de resposta em tempo real, permitirá um
salto de qualidade e eficiência na melhoria da vigilância daqueles limites
internacionais para o combate aos delitos transfronteiriços, a par de
importantes benefícios sociais, como controle ambiental, informações
climáticas, alerta e atuação em desastres naturais, educação, saúde e
vigilância sanitária, entre outros.
A tradição vitoriosa herdada de Caxias prossegue inviolada
até os nossos dias, honrada pelos pracinhas que há 70 anos cruzaram o Atlântico
na gloriosa campanha da Força Expedicionária Brasileira em campos italianos,
pelos milhares de soldados que desde 1948 cooperam para a paz mundial nas
missões das Nações Unidas ou da Organização dos Estados Americanos e por
aqueles que devolvem a cidadania usurpada aos moradores de comunidades antes
dominadas por organizações criminosas.
Esse cidadão fardado, o seu Soldado, que representa a força
da nossa Força, sustentado por valores culturais, morais e éticos cultuados
pelo povo a que serve e protege, pavimenta o sólido percurso que permite à
instituição gozar de elevados níveis de confiabilidade perante a sociedade.
Dessa forma, o Exército faz-se presente no cotidiano da
nossa gente, com responsabilidade e competência, atuando em resposta às
demandas conjunturais que lhe exigem a presença, como na condução da Operação
Pipa, na pacificação dos complexos do Alemão e da Maré, no socorro à população
diante das calamidades, no combate à dengue e nos eventos de singular
importância e de visibilidade internacional, como a visita do papa na Jornada
Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e, no próximo ano, a Olimpíada.
O Exército de Caxias, fiel ao que preceitua o artigo142 da
Constituição federal, é o instrumento capacitado, juntamente com a Marinha de
Tamandaré e a Força Aérea de Eduardo Gomes, a garantir a normalidade do
ambiente propício ao desenvolvimento, no qual a verdadeira democracia,
despojada de adjetivos ou condicionantes, e a visão generosa dos homens e das
mulheres de bem em torno da prevalência dos interesses nacionais criem o
ambiente de oportunidades que induzirá a prosperidade que tanto perseguimos.
A ação do Exército foi, é e sempre será orientada para a
defesa de nossa soberania e da sociedade a que servimos, pela manutenção da
integridade territorial e garantia da estabilidade social, na senda da
legitimidade que o respeito à legalidade conquista.
Em breve retorno aos feitos de Caxias, constatamos que o
Exército Brasileiro mantém a sua missão constitucional como farol, fiel ao
sagrado compromisso com a Pátria, sempre ao lado da sociedade e em perfeita
harmonia com os valores que caracterizam desde sempre a instituição.
Fonte: A Verdade Sufocada
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Eduardo Dias da Costa Villas Bôas é General de Exército, e
Comandante do Exército Brasileiro
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