Por Percival Puggina

Nesse jogo, porém, Lula tinha muito a agradecer e pouco a
oferecer. A prosperidade da economia brasileira, que permitiu saltos na
arrecadação, no mercado de trabalho, nas exportações tinha tudo a ver com o
espetacular crescimento do mercado chinês, que elevou o preço das nossas
commodities. E nada a ver com competência administrativa. O governo, sabe-se
agora, era uma versão institucional do Gran Bazaar, lugar de muitos e rentáveis
negócios, cuja alma, como sempre em tais arranjos, era a publicidade. O
presidente não tinha qualquer das virtudes necessárias a um bom gestor. Sempre
foi, isto sim, um político conversador, populista e oportunista. Deveria
agradecer aos que, antes dele, assumiram o sacrifício político de colocar o
país nos trilhos da responsabilidade fiscal. Mas não.
Ah, se Lula tivesse sido um bom gestor! Com os recursos de
que dispôs, com o apoio popular que soube conquistar, com o carisma que Deus
lhe deu, teria preparado as bases necessárias a um desenvolvimento sustentável.
Nenhum outro presidente, em mais de um século de república, navegou em águas
tão favoráveis. Contudo, do alto de sua vaidade, embora fosse apenas um mero e
pouco esclarecido barqueiro, ele acreditou ser o senhor dos mares e das
marolas. "Vaidade! Definitivamente meu pecado favorito", confessa o
personagem representado por Al Pacino em O Advogado do Diabo. E a vaidade de
Lula jogou o Brasil no inferno em que hoje ardemos sob o governo de Dilma.
É bom lembrar. Em 2007, tamanha era a euforia de Lula que ele
importou, assim como Collor faz com carros esportivos, esse luxo extravagante
que foi a Copa de 2014. Consumidor insaciável de manchetes, nesse mesmo ano
começou a negociar a aquisição, para o Rio de Janeiro, da sede dos Jogos
Olímpicos de 2016. A Copa, na hora da bola rolar, se tornara algo tão fora do
contexto, despesa tão despropositada, que ele sequer teve coragem de comparecer
a qualquer dos jogos! E sua herdeira foi hostilizada de modo constrangedor na
solenidade inaugural.
O jornal O Estado de São Paulo de ontem, 23 de agosto,
divulgou um relatório de custos dos Jogos Olímpicos. O mais recente
levantamento disponibilizado pela prefeitura do Rio informa que, faltando
contabilizar algumas despesas de menor monta, os Jogos (que beneficiarão quase
exclusivamente a capital carioca) custarão ao povo brasileiro R$ 38,67 bilhões.
Se somarmos essas duas extravagâncias lulopetistas, chegaremos a R$ 66 bilhões
e a um conjunto de elefantes brancos. Quantas aplicações mais úteis ao país
seriam possíveis com tais recursos! Num ano em que o governo corta quase R$ 12
bilhões da área de Saúde e se agrava o caos do setor, corta R$ 9,42 bilhões da
Educação e universidades fecham as portas por não disporem de recursos para dar
continuidade ao ano letivo, a gestão temerária do lulopetismo continua jogando
dinheiro fora para apresentar outro show ao mundo. Gestão temerária se
caracteriza por conduta impetuosa, imponderada, irresponsável ou afoita. Não é
uma descrição perfeita dos acontecimentos aqui mencionados? O prefeito de um
pequeno município já foi condenado por isso.
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Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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