Por Nivaldo Cordeiro
O banqueiro – falo de André Esteves – secundou o maior dos nossos
empreiteiros, Marcelo Odebrecht, que está na mesma condição há meses, preso
preventivamente, sem data para sair da prisão. Banqueiros e empreiteiros são
dois tipos de grandes negociantes com as coisas do Estado, aqueles dos quais o
PT transformou em fonte de rio de dinheiro para suas campanhas eleitorais e
para a conta corrente de seus dirigentes, todos enriquecidos à sombra do poder
de Estado.
Desde que chegou à Presidência da República o PT se comportou como se
tivesse tomado o poder pelas armas e pudesse reiniciar o país em tudo.
Enganou-se. As instituições funcionaram e as falcatruas reveladas desde o
mensalão estão devidamente tratadas pelo Poder Judiciários, em todas as
instâncias. Sentenças têm sido prolatadas em profusão. Não deixou de ser muito
irônico que o ministro Teori Zavascki, que chegou ao STF supostamente para
ajudar juridicamente o PT, tenha assinado monocraticamente a ordem de prisão do
banqueiro e do senador Delcídio Amaral, líder do PT naquela Casa. O Estado tem
se revelado maior do que o partido.
Desde o mensalão o PT tem tentado “acalmar” os réus vendendo a falsa
ideia de que controla o Poder Judiciário, comprando com isso o silêncio de
incautos como Marcos Valério, que foi apenado com quarenta anos de prisão, em
regime fechado. Os novos réus perceberam a fragilidade dessa promessa e
passaram a negociar delações premiadas, que relaxam a prisão preventiva e
reduzem a pena a cumprir, por acordo com o Ministério Público. Os dedos-duros
têm se multiplicado.
Marcelo Odebrecht tem permanecido impávido, em silêncio total, o que
tem lhe custado a longa prisão preventiva. Parece que passará as festividades
de final de ano na cadeia. Vamos ver se a visão utilitarista típica de um
banqueiro vai quebrar o silêncio de André Esteves. É provável que sim, mas isso
causará um terremoto na vida política nacional. Se falar livremente vai
comprometer toda cúpula da política e não apenas a do PT. Grandes fortunas
súbitas, como a do André Esteves, só são possíveis mediante assalto impiedoso
aos cofres públicos, de todas as formas. O negócio dos banqueiros os deixa em
posição favorável em qualquer decisão governamental, a começar por aquelas que
são referidas à dívida pública.
A propósito, o sistema brasileiro “democratizou” o butim da dúvida
pública, toda a gente pode comprar seus papéis, que pagam generosos juros, os
maiores do mundo. Não devemos esquecer, todavia, que para um título público
chegar às mãos de um particular paga, antes, comissão a um banqueiro. A
trilionária dívida pública é a vaca leiteira do sistema bancário.
Não sei se André Esteves é culpados dos crimes dos quais é acusado, mas
a prisão dele não é injusta se tomarmos como referência o conjunto de sua obra.
A súbita fortuna que logrou acumular veio acumulada de boatos de negociatas com
fundos de pensão de empresas públicas, com o manejo da dívida do Estado, com
súbitos movimentos lucrativos próprios dos muito bem informados, como as
variações cambiais. Não é uma injustiça, portanto, que esteja preso.
O Brasil precisará ser passado a limpo, agora. Tantos políticos e gente
rica aprisionados levam-me a acreditar que um mínimo de moralidade agora será
exigido no trato da coisa pública. Fatalmente a rentabilidade desses maganos
irá minguar. Ninguém pode ter permanentemente lucros extraordinários sem
delinquir, é isso que a prisão do banqueiro revela.
Quem viver verá.
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