Hoje foi um dia de declarações graves da cúpula do governo e
de dólar batendo em R$ 3,50. O dólar a esse preço é um sintoma da gravidade.
Mas também pode ser um fiapinho de solução para a economia. Fiapo, pois a
solução maior da crise é política.
Michel Temer, vice-presidente, em geral comedido, convocou
jornalistas para dizer, com voz nervosa, que não tem dúvidas de que a situação
é grave, que é preciso "alguém" para reunificar o país.
Joaquim Levy, ministro da Fazenda, quase repetiu Temer.
Disse que a situação das contas do governo e da economia é grave.
Em resumo, os dois se referem ao fato de que a Câmara dos
Deputados, liderada por Eduardo Cunha, adotou medidas que podem levar ao
impeachment de Dilma Rousseff, e também ao fato de que o Congresso ameaça
aprovar leis que estouram ainda mais as contas do governo, o que vai agravar
ainda mais a crise econômica.
Como a política está à deriva e ninguém sabe o que vai
acontecer, o dólar voa. Faz um ano, estava em R$ 2,27: subiu 54%. Isso é medo e
especulação de que a situação no Brasil vai piorar, sendo melhor tirar parte do
dinheiro daqui.
Fosse outra a situação política, o dólar alto poderia ser um
começo de solução. Dólar mais caro barateia os produtos brasileiros, encarece
os importados. Assim, pode haver estímulo para se produzir mais aqui no Brasil,
para substituir importados e vender mais para o exterior.
Por ora, esse é o único estímulo possível para a economia. O
governo não tem como gastar, empresários não investem, consumidores compram
menos por medo do futuro e falta de dinheiro. Juros altos fazem o resto do
estrago.
A saída poderia então ser o dólar, o câmbio, que, feitas
todas as contas certas, está em um nível equivalente ao de 2006, que ainda
favorecia exportações.
Mas dólar alto também pode criar problemas para empresas com
despesas em dólar; pode causar inflação. Para que o dólar alto não atrapalhe, é
preciso que as contas do governo não piorem, é preciso que o governo tome
medidas para o futuro. A expectativa de um futuro melhor pode aliviar a
situação no presente. Mas, para isso, é preciso algum governo e um governo que
saiba que é preciso fazer mudanças a fundo. Está difícil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário