Por Carlos Nejar

O Ministro Toffolli, petista reconhecido, ex-advogado do PT,
defensor de Dirceu, no Mensalão incrivelmente não se deu por suspeito. Depois
foi colocado a dedo, como Presidente do Supremo Tribunal Eleitoral, para o
decisório das eleições e ninguém pareceu se dar conta, nem seus confrades,
quando é evidente a sua suspeição. Porque ninguém se arreda de seu passado. Nem
o passado se arreda do presente. E o que repete e se repete não é acaso, é
objetivo e este governo não é confiável. E nada do que diz, cumpre. Quer apenas
permanecer no poder.
Tal Ministro não contente em dirigir as eleições, e era a
pessoa menos indicada, com sua vinculação com o partido vencedor, lulista
convicto, após entrevista com Dilma, que evita o contacto humano, a não ser
para seu interesse ,entrevista estranha, apresenta-se como o novo juiz dos
casos da Lava-Jatos. Será que não repara a reação geral? Será que o Supremo não
está se dando conta disso, ou tudo é permitido? Até quando abusará de nossa
paciência? Quem julgará os julgadores? Só a imprensa percebeu essa sinuosa
manobra. E não é mais aceitável num país dito democrático e num tempo de
suspeita, estando Dilma entre os nomes do desastre. Lutei contra a ditadura
militar e não aceito a ditadura do PT, nem sua manipulação (vejam os condenados
do Mensalão ou estão em casa, ou estão liberados) e não admite a alternância do
poder. Pelas manifestações o povo não suporta mais Dilma e se impõe o remédio
legal, que é o impeachment. E todos entendem, desde as pessoas nas ruas, que o
que acontece no país não é democracia, é o abuso de alguns sobre todos. Mas a
vergonha, o roubo, a vilania, a manipulação, a inflação, o encargo sobre os
direitos trabalhistas não podem permanecer.
Falei de um Ministro que já serviu antes o governo e agora
se oferece para julgar a Lava-jato. Ninguém pode levantar nada sobre a
dignidade pessoal dele, nem cabe, mas a suspeita vem das circunstâncias que o
cercam, das ligações com o PT conhecidas por todos, da insistência de julgar
processos que deviam, no mínimo afastá-lo do julgamento, por que ninguém ,
também ele, não está acima de qualquer suspeita, com tendência, como vimos no
Mensalão: absolutória. E onde também, absurdamente, não se deu por suspeito. E
não será dará nunca por suspeito, por mais suspeito que seja? Ou estamos
brincando de justiça, como brincamos de eleição, quando falta a imparcialidade
que é apanágio do julgador, mesmo que ele o diga que a tem, mas como afirmava
Ortega y Gasset – “o homem existe com suas circunstâncias”. E o País não pode
estar cego diante de tais manobras. O julgador está sujeito ao temperamento, ao
mundo que o cerca, aos amores e desamores, tosses, intempéries, mal-humor...
coisas humanas. E o tal Ministro ofereceu-se por vontade a tal desígnio. Diz o
Padre Vieira: ”Quem julga com o entendimento, pode julgar bem e pode julgar
mal: quem julga com a vontade nunca pode julgar bem”. E nem creio que o faça.
Por suspeito, ainda que faça de conta que não seja, o Brasil sabe todo que o é.
Publicado no site A Verdade Sufocada
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Carlos Nejar é da Academia Brasileira de Letras e da
Academia Brasileira de Filosofia.
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