Por Nelson Motta

Não é uma questão de ódio ou de intolerância, é de confiança.
Na primeira pesquisa de opinião depois das eleições, dois terços dos
brasileiros diziam que Dilma tinha mentido na campanha. É duro e raro que um
governante flagrado em mentiras sérias recupere a confiança dos eleitores. Pode
até ser aceito como um bom administrador, mas a confiança não se restaura,
porque não há ex-mentiroso. Uma vez mentiroso, sempre mentiroso, dizem a
História, a lógica e a sabedoria popular. Não há obras, manobras, loteamento de
cargos e campanhas publicitárias que nos façam voltar a acreditar em quem nos
enganou.
Claro, mentir, em certa medida, todo mundo mente, faz parte
da condição humana, alguma hipocrisia é indispensável para uma convivência
civilizada. Já pensou se todo mundo fosse sincero todo o tempo e dissesse o que
lhe vem à cabeça? O problema é quando o mentiroso começa a mentir a si mesmo, e
acreditar, caso em que os psicanalistas dizem que não vale a pena continuar a
terapia. Dilma começou mentindo para os outros — e agora mente para si mesma.
Sim, ela não rouba, mas mente muito.
E para piorar, mente muito mal, ao contrário de Lula, que
usou seu grande talento histriônico para fazer da mentira uma das suas melhores
armas. Durante anos muitos acreditaram nele, hoje todo mundo sabe que ele
sempre soube de tudo e mentiu o tempo todo. Pode até ter feito um bom governo,
mas é mentiroso.
Sim, todo político mente: uns para o bem, outros para o mal.
Nos países anglo-saxônicos, de ética protestante, a verdade
é um valor básico. Para eles, mentir é ilegal, pode levar à execração social e
até a cadeia, por falso testemunho. Bill Clinton, mesmo popularíssimo, foi
impichado na Câmara (e salvo pelo Senado ), não porque teve um caso com Monica
Lewinsky, mas porque mentiu ao país.
No tempo da luta armada, Dilma fez a escolha errada, achando
que poderia derrotar a ditadura militar pela força e instaurar a ditadura
proletária, mas acabou contribuindo para atrasar o processo de abertura
política que levou à redemocratização. Por puro autoengano.
Mentiras sinceras interessavam a Cazuza, mas como poesia.
Fonte: Alerta Total
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Nelson Motta é Jornalista e Crítico Musical.
Originalmente publicado em O Globo em 21 de agosto de 2015.
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