Por Marli Gonçalves
-“Nós não vamos deixar”- ouvi essa semana, dito em tom
ameaçador em um programa político pelo rádio, de um partido de esquerda que
conheço bem, por um trecho da história que não vem ao caso agora. Sim, era um
partido atuante, ligado à derrubada da ditadura militar, e no campo. Foi no
braço, na briga, no perigo, armados, perdendo amigos, na guerrilha, na paz e na
guerra, que todos fizemos a luta que matou a ditadura, há mais de 30 anos. Põe
ano nisso. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Outra.
Por favor, que o momento é sério e não é para chistes,
brincadeiras de criança malcriada. Estão se fazendo de bobos, ou o que? Estão
fazendo muxoxo dos protestos por causa de que? Estão com medinho mesmo? O que é
que ainda não deu para entender? Imaginamos, em um último voto de confiança,
que não sejam tão burros assim; pelo menos em suas consciências.
Para você aí, cheio de medos e emburradinho, didaticamente,
vamos desenhar e passar slides coloridos: não tem jeito. Os protestos são
contra tudo mesmo, porque está tudo errado e toda a sociedade precisa ser
reorganizada. A atual presidente mentiu para se eleger. Mentiu feio, cara de
pau. Hoje amarga uma rejeição histórica, vinda também de mulheres que
acreditaram que poderia ter sido diferente, esperavam sucesso. Roubaram nossa
carteira, com documentos e tudo, juntaram muito dinheiro e se divertiram às
nossas custas, do nosso ouro negro, e todos os dias dos últimos meses ficamos
sabendo de coisas cada vez mais cabeludas. O tal partido dos trabalhadores se
transformou numa fábrica de corrupção, e os grandes líderes estão ou já vão
já-já para o xilindró. A política econômica, a política legislativa, as
políticas públicas, parecem ser a dança dos malucos, esses sim atirando para
todos os lados medidas inócuas ou assustadoras e sem planejamento. Aliás, falta
de planejamento é a doença mais comum aos governantes de estrela no peito, veja
São Paulo. Os sem estrela, mas com bico, também não estão nada bem em nenhuma
fita. Estamos sem lideranças, andando para trás. Tem conservadores horrorosos e
atrasados se criando, tal qual bactérias, fungos. Quer mais um parágrafo ou
posso parar por aqui mesmo? Se liga! Vamos buscar uma solução. Elas existem.
E aí vêm uns e outros garganteando. “Nós não vamos deixar”…
Vão fazer o que? – Pergunto de novo. Comprar balas usando o
dinheiro do Fundo Partidário?
Empréstimo consignado de servidor público? Mais
vaquinhas que tossem? Assaltar bancos passando pelas portas giratórias? –
lembrem que hoje próteses apitam. Jurar que a crise não existe, talvez seja um
delírio coletivo? Hipnose? Vão misturar bolinhas de sabão na água? Ou vão
continuar maltratados, usados apenas como escada, arrogância, porque é assim
que o PT trata inclusive seus mais próximos? Por uns carguinhos? Cá entre nós,
e que não nos ouçam, o partido (nossa esquerda…) não amealhou muita carne nova
e não consigo mesmo ver vocês, lustrosos avós, pegando em armas. Vejam bem. Ela
não gosta de ninguém. Não vale a pena não pegar o metrô da história.
Quando vamos às ruas, quando escrevemos, estamos guerreando
sem armas, tirando a bunda da cadeira, se me permitem – sabendo que redes
sociais ainda escondem a realidade. A apatia nos será altamente prejudicial –
só se muda a direção com ventos mais fortes que precisam ser soprados. Ninguém
quer golpe; mas a rota precisa ser retomada e para isso precisamos ir lá abrir
o livrinho da Constituição, ver qual remédio pode ser prescrito, seguir a
receita. E rápido.
O que a gente não pode é continuar calados assistindo apoios
comprados com nossos dinheiros, bravatas ditas em encontros oficiais e sendo
aplaudidas por uma aturdida presidente que não defende nem os seus próprios
ministros. Se continuar fazendo corpo duro vai ter de viver em casulos como os
que esfregou essa semana, falando abóboras para as trabalhadoras rurais, frases
feitas e sem pé nem cabeça para as sociedades e instituições, organizadas, mas
cada vez mais esvaziadas.
Finalmente, quanto a esse Vagner Freitas, da CUT, central
sindical que infelizmente comanda minha profissão, no sindicato e na federação,
anotei mais uns adjetivos para nomeá-lo: treteiro, pernicioso, nocivo,
pernóstico, lesivo. De araque. Truco. E da próxima vez que não conseguir
segurar a língua dentro da boca como fez essa semana, não tenta vir com esse
lero-lero de dizer que usou figura de linguagem. É patético.
Fonte: Ucho.info
_____________
Marli Gonçalves é jornalista –
Desculpem o mau humor, mas é que a paciência está se esgotando de ver eles
insistindo, jogando na maledicência. Dizendo que quem não está com eles é que
está errado. Fazendo churrasco na porta do homenzinho que qualquer hora dessas
vai entrar pelo cano. E o chopp vai fazer espuma.
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao
mesmo tempo, nohttp://marligo.wordpress.com.
Estou no Facebook.
E no Twitter @Marligo
Nenhum comentário:
Postar um comentário