Por Paulo André
Chenso
O Colégio Militar foi criado por D. Pedro 2º em 1889, e mantido pela República.
Durante 126 anos nunca se viu qualquer comentário sobre essas escolas. De
repente, descobriram o filão – e como o descobriram? Simples, as escolas
militares encabeçam a lista dos melhores desempenhos nas provas do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) e do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb), e isso, parece, incomodou alguns setores da nossa "educação
civil". É como se o sucesso dos colégios militares causasse inveja aos
colégios civis. São 12 colégios do Exército e 93 da Polícia Militar, com um
total de mais de 30 mil alunos atendidos. Bastou aparecer na mídia o brilhante
desempenho e já emergiram de suas tocas os pseudopedagogos de beira de estrada
para criticar o sistema de ensino dos colégios militares.
Na reportagem da Folha de São Paulo (12/8) afirma-se: o Colégio Militar
"padroniza comportamentos", "inibe o questionamento" e
"impede criar perspectiva de construção de identidade". Se durante
mais de 100 anos foi assim, os colégios militares formaram uma multidão de
alienados – que, no entanto, estão dando um show de desempenho. É, realmente,
paradoxal.
Sou professor há 42 anos e acompanhei gerações de alunos do nível médio, e
assisti, com imensa tristeza, a deterioração do comportamento, o desinteresse,
o aumento da violência, a impossibilidade de se aplicar disciplina mais
rigorosa, e necessária, pois, hoje, o aluno já sabe, previamente, que não
importa o que aconteça, ele será aprovado. Vi professores sendo agredidos,
desrespeitados, às vezes humilhados, e por que não, abandonados pelos próprios
órgãos que lhes deveriam dar apoio, como é o caso dos núcleos de ensino, com
pareceres quase sempre favoráveis ao aluno. Ora, vendo tudo isso ao longo dos
anos, a contínua corrupção (e corrosão) do ensino, com facilitações que chegam
às raias do absurdo para justificar, alhures, que aqui não há repetências, e
encerramos cada ano com alunos cada vez menos preparados. Como concordar?
Alunos do nível médio que escrevem Brasil com z! Que nunca leem nada além de
ridículos livrecos empurrados pelas grandes editoras - há um enorme contingente
de alunos que chegam ao terceiro colegial sem ter lido um único autor clássico
brasileiro. É uma vergonha!
E agora vem a mídia e seus "especialistas" em educação tecer críticas
ao único sistema, hoje, que atua na educação do jovem de forma global e
completa. Ora, é preciso ver o programa pedagógico desses colégios antes de
sair por aí falando asneiras como se fossem os arautos da melhor educação. Se
fossem, o ensino não estaria essa tragédia. Sem contar o desinteresse absoluto
do Estado, o mísero investimento feito pelo poder público. O verdadeiro
abandono das nossas escolas. Dispensa comentários.
Não vi entrevistas com os alunos, nem com os pais. Vi declarações, sim, de
pessoas que parecem ignorar a real situação de nossas escolas. Ninguém
mencionou na imprensa se os milhares de alunos desses colégios militares gostam
ou não. É explícito nos regulamentos: caso o aluno não se adapte à disciplina
militar, é imediatamente transferido para colégios civis. Ninguém é obrigado a
estudar lá. E mais, para estudar nesses colégios, participa-se de um concurso
na qual a média de candidatos chega a 22 mil! Será que é mesmo tão ruim, ou são
nossos "pedagogos" que estão impregnados com as ideias
"supermodernas" introduzidas na educação brasileira nos últimos anos?
Fonte: Folha Web
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Paulo André
Chenso é médico e professor em Londrina
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