Se há uma qualidade
admirável nos petistas essa é a capacidade de se agarrarem ao poder sem nunca
jogar a toalha; sem nunca antes tentarem o diabo para preservarem seu acesso
aos cofres públicos. Quando se trata de lutar pelo poder, seja para
conquistá-lo, seja para preservá-lo, jamais estranhe se encontrar um petista de
canivete em punho lutando contra mísseis nucleares.
Nenhum partido
brasileiro sobreviveria tanto no poder, ainda mais com uma presidente com as
“qualidades” de Dilma Rousseff, e no cenário que hoje ela enfrenta no quarto
mandato petista na Presidência da República, sem essa garra. Se o PSDB tivesse
10% da fibra dos petistas o PT já estaria proscrito há muito tempo.
Mas, convenhamos, o
PT forçou a mão. Do alto da sua arrogância, o petismo tentou tomar o Estado de
assalto (no sentido literal e figurado) antes de completar a conquista dos
corações e mentes da maioria dos brasileiros e antes de completar a conquista
bolivariana (leia-se: usar a democracia para destruir a democracia) das
instituições.
Mesmo assim, o
petismo avançou, é preciso reconhecer. Quando vemos essa “juíza” do TSE
(Luciana Lóssio); ex-advogada do PT, sentar-se em cima do processo de
investigação das contas de campanha de 2014 de Dilma Rousseff para impedir sua
condenação após seus pares votarem por maioria pela continuidade do processo,
tem-se uma leve noção de até onde chegaram. E o quão urgente é retirá-los do
poder. Mas, tudo indica, parece, não avançaram o insuficiente para impedir que
o estouro da represa de escândalos de corrupção os leve ao colapso.
Há um “gap” entre as
lideranças que mobilizam o povo nas ruas contra o petismo e seus cúmplices, e
as lideranças políticas tradicionais que comandam os partidos e os poderes
constituídos da República. Para o azar do PT, há hoje, entre as centenas de
grupos autônomos que convocam as mobilizações de rua e disputam a opinião nas
mídias sociais, milhões de brasileiros que têm a garra que falta ao PSDB para
derrotar o PT.
Há uma conexão
“espiritual” entre o povo que vai as ruas por um Brasil decente e o juiz Sérgio
Moro, os procuradores e delegados da PF que investigam a Lava Jato. Eles não
foram eleitos para nos representar, mas, pelos mecanismos republicanos que os
colocaram nas posições que ocupam para exercer o dever que exercem com
dignidade, eles nos representam mais do que nenhuma autoridade sufragada nas
urnas.
Para que a vontade
legítima do povo de remover o petismo e seus cúmplices do poder (expressa nas
pesquisas de opinião e nas ruas) seja correspondida pelas atitudes dos líderes
da oposição, pelas autoridades do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, da
Polícia Federal e do Ministério Público Federal, há obstáculos a transpor.
E os primeiros estão
dentro da oposição. É inadmissível que o senhor Geraldo Alckmin, diante da
falência do Estado brasileiro e do sacrifício cobrado das futuras gerações em
função dos governos petistas, se dê ao luxo de impedir a unidade do PSDB com as
oposições e com o PMDB, em torno do impeachment, movido apenas pelo calculismo
desprezível de alguém que coloca suas ambições pessoais acima dos interesses de
toda uma nação. Para quem já foi visto como uma liderança promissora; um
eventual presidente mais qualificado que outros líderes do PSDB, Alckmin hoje é
percebido como um TRAIDOR! Como um estadista para Pindamonhangaba, pois, para
ser presidente dos brasileiros, não serve!
Felizmente, Alckmin
sozinho não tem poder de impedir que deputados e senadores do PSDB se unam ao
PMDB para selar o acordo capaz de abreviar, com a benção da cúpula das Forças
Armadas, o mais rápido possível, dentro das regras da democracia, e passagem do
petismo pelo poder. Mas, isso não basta.
Apesar do pessimismo
de muitos diante das manobras desesperadas do petismo para sobreviver (mais um
adiamento no TCU, mais um adiamento no TSE), o fato é que que a trajetória da
cassação do mandado de Dilma, seja pelo TSE, seja pelo impeachment no
Congresso, segue avançando.
A confirmação desses
avanços está nas mãos dos ministros do Tribunal de Contas da União; do
presidente da Câmara dos Deputados e seus liderados, do presidente do Senado e
dos seus liderados, do Procurador Geral da República, dos ministros do TSE e
dos ministros do STF.
Jogo duro? Sim,
duríssimo. Sem pressão do povo nas ruas, não avançaremos.
Dispo-me, nesse
momento, da minha condição de analista político e invisto-me da condição de
cidadão e pai de um brasileiro de dezesseis anos de idade.
Há mais de trinta
anos rompi com o Partido dos Trabalhadores e me converti em seu crítico
contumaz ao descobrir em estado larvar o verme da corrupção e do autoritarismo
que hoje ameaça nossas liberdades, nossa democracia e o futuro da nação.
Há muito perdi as
ilusões ingênuas que nutrimos na juventude com relação à natureza humana nas
relações de poder e interesse. Agradeço ao PT pela lição. Por isso, não vou
apelar ao espírito altruísta e republicano de vossas excelências. Vou apelar
aos interesses pessoais de cada um dos senhores e senhoras que, no TCU, no TSE,
no STF e no Congresso Nacional, têm o poder de tomar decisões em consonância
com a vontade do povo. Por instinto de sobrevivência.
Não nos façam perder
a paciência (que já está no limite). Não nos façam perder a fé e a confiança
numa solução democrática e institucional para a situação em que o petismo meteu
o Brasil que vamos entregar aos nossos filhos. Os senhores estão abusando. Isso
não é ameaça. É alerta!
Sim; sei, aprendi
com Maquiavel e os pensadores liberais. O auto interesse é o motor do ser
humano e a mola do progresso. Por isso, sei que os senhores não são capazes de
ouvir a vontade das ruas. Sei que os
gabinetes herméticos de Brasília, nos quais os senhores tramam as estratégias
de suas carreiras movidos por ambições desmesuradas, os impedem de se
conectarem aos sentimentos mais puros e profundos do povo que os colocou no
topo das instituições desse arremedo de “república” que construímos.
Por isso, vou apelar
ao sentimento mais nobre e autêntico que move o ser humano; o egoísmo, o auto
interesse que, a despeito das vontades individuais, gera o interesse coletivo
em colaborar para a estabilidade social.
Sem estabilidade
social não há paz, não há bem-estar material, não há progresso. Sem esse
equilíbrio gerado pelo interesse de todos na paz social e na segurança pública,
não há civilização e nem autoridades constituídas. Há a guerra de todos contra
todos.
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Paulo Moura é Professor e Membro do Grupo
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