Por Ricardo Vélez Rodríguez
Essa lamentável realidade levou a presidente da Federação
Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, a contestar o lema
do governo federal, que, no voluntarismo que o caracteriza, tentou erguer o
bordão “Brasil, pátria educadora”, ao mesmo tempo que a presidente Dilma Rousseff
tenta acobertar os corruptores do PT no caso do petrolão. E ao mesmo tempo que
o PT, na sua reunião para “comemorar” os 35 anos de fundação, se solidarizou
com os larápios petralhas, ignorando o mal-estar que a sociedade brasileira
vive ao ensejo da pior onda corruptora do País, que conseguiu fazer naufragar a
nossa maior empresa estatal, a Petrobrás.
Para Amábile Pacios, o slogan “Brasil, pátria educadora”
constitui apenas mais um jingle político bolado por marqueteiros. “Eu percebo”,
frisou a presidente da Fenep, “que esse desrespeito vem muito do modelo de
sociedade que a gente está tendo e pelo modelo de família, e diz respeito à
falta de valores que a gente está impondo à sociedade”. A mesma opinião foi
externada pelo presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino
Municipal de São Paulo, que representa 1.400 escolas.
Ora, a crise vivida pelo ensino nos seus níveis primário e
secundário se estende também às universidades e faculdades. Antigas ilhas de
excelência, como a Universidade de São Paulo (USP), têm assistido a cenas de
vandalismo e de longa perturbação da ordem, em intermináveis greves de caráter
político que têm como prato forte a destruição do patrimônio, o consumo de
tóxicos e o desrespeito à sociedade. O modelo anarquista de greves
generalizadas no ensino superior estendeu-se pelo Brasil afora e reforça a
convicção de que o nosso país perdeu o rumo.
Duas vias se apresentam, nesse conturbado cenário. Do ponto
de vista da sociedade, uma tomada de consciência da gravidade do problema,
acompanhada da mudança de comportamento, de forma a dar ensejo a nova atitude
que leve a gerar responsabilidade nos educandos e educadores. Do ponto de vista
político, a urgência de colocar sobre o tapete soluções na reformulação da
nossa política, que enveredou por esse caminho de privatização do Estado por
clãs, como se o único norte fosse beneficiar amigos e apaniguados.
Difícil tarefa, quando o caminho para solucionar os
conflitos passa por algo que as pessoas se recusam a observar: os valores que
as movem. Sem isso a revisão deles e a mudança de atitudes se tornam tarefas
impossíveis.
Mas as coisas não param por aí. É necessário, também,
reformular as nossas instituições, a fim de que o Estado passe a servir à
sociedade e não continue a ser o balcão de negócios gerido por espertalhões que
privatizaram o governo em benefício próprio. Aqui a via necessária é a da
reforma política, que deve partir para reestruturar o nexo de responsabilidade
entre eleito e eleitor, impedindo a proliferação de partidos nanicos e adotando
um modelo de voto, como o distrital, que atrele o eleito às responsabilidades
decorrentes da representação de interesses dos cidadãos.
De outro lado, faz-se necessário, na reforma apontada,
colocar freio ao excessivo poder acumulado pelo Poder Executivo, capaz de
corromper o Poder Legislativo mediante o oferecimento de vantagens pecuniárias.
O caminho da reforma, neste ponto específico, seria, em primeiro lugar, o da
responsabilização da atual presidente pelas decisões erradas em face da
Petrobrás, que de forma criminosa tiraram desta a sustentação de credibilidade
no cenário.
Em segundo lugar, a reforma política deveria contemplar a
punição exemplar daqueles que puseram as instituições do Estado a serviço de
políticas populistas que terminaram esvaziando os cofres públicos. É necessário
deixar às claras as obscuras decisões tomadas pelos governos de Lula e Dilma no
caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para
beneficiar amigos no cenário internacional, sem que aparecessem as vantagens
que daí adviriam para o Brasil. Refiro-me, sobretudo, ao milionário
financiamento para a construção do porto de Mariel, em Cuba. Isso para não
falar da falida aventura da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco,
da qual participaria com recursos o governo venezuelano, sem que até a data o
Brasil tenha recebido um só tostão.
Uma providência necessária seria também acabar com a prática
das “emendas parlamentares”, que só corrompem a representação e colocam o Legislativo
em mãos das negociatas inescrupulosas do Executivo.
O cenário, como se vê, é complicado e não sairemos dele sem
um grande esforço pessoal e coletivo. Escrevia recentemente o Prêmio Nobel
Mário Vargas Llosa (Suicídio político em voga, 8/2, A14) que as nações optam,
às vezes, pelo haraquiri político, tomando decisões erradas que comprometem o
bem-estar de futuras gerações. O Brasil, infelizmente, está nesse caminho. Não
será fácil sair dele. Mas não temos outra escolha, se quisermos legar aos
nossos filhos um País habitável, e não um cenário de conflito e destruição.
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Ricardo Vélez Rodríguez é membro do Centro de Pesquisas
Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor emérito
da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)
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