As inserções no PSDB estão no ar e lembram as promessas
feitas pela presidente Dilma Rousseff, de viva voz, e as confrontam com a
realidade. Em seguida, um apresentador convoca a população para os protestos do
dia 16 de agosto.
Há pouco, conversava com amigos num grupo fechado do
WhatsApp. Há quem ache, e considero os motivos apontados respeitáveis, que o
PSDB não deveria fazer a convocação. Acho respeitáveis, mas discordo. Eu penso
justamente o contrário: num momento assim, creio ser um imperativo moral o PSDB
— e os demais partidos de oposição — apoiar o protesto. E ainda mais depois do
programa que o PT levou ao ar: arrogante, terrorista e mistificador. Assistam
aos vídeos tucanos. Volto em seguida.
O primeiro elemento positivo a ser apontado é o
reconhecimento do partido de que não lidera os protestos — como o PT liderava,
diga-se, o “Fora Collor”; e já havia liderado antes o “Fora Sarney” e liderou
depois o “Fora FHC”. Se exercer o Artigo 5º da Constituição, uma das cláusulas
pétreas, e gritar “Fora Presidente-Que-Está-Aí” é golpe, então o PT é o maior
golpista do país. Até acho que é — mas não por isso.
O PSDB deve apoiar as manifestações porque a interrupção do
mandato de Dilma — seja pela via congressual, com o impeachment; seja em razão
de crime eleitoral, no TSE — tem uma evidente legitimidade: é o que quer hoje a
esmagadora maioria dos brasileiros. Mas eu não apoiaria a queda de um
presidente só por isso. De jeito nenhum! É preciso que haja também amparo
constitucional e legal para que o governante seja demitido pelo povo. E essas
duas exigências foram igualmente cumpridas.
Quando Aécio Neves perdeu a eleição para Dilma, por estreito
placar, o senador também ganhou um mandato: liderar, ele próprio ou alguém de
seu partido, a oposição. E a oposição tem de dizer se será conivente com crimes
fiscais, crimes eleitorais e crimes contra a administração pública. Não o
sendo, então é obrigatório que expresse o seu apoio ao “povo na rua”.
Se Dilma cair, não só o Brasil continua, como é muito
provável que caminhe para melhor. Temos na Constituição respostas para as
várias possibilidades de interrupção do mandato. Não existe, felizmente, vazio
legal possível no país.
Ruim seria, isto sim, a oposição se omitir, deixando milhões
de brasileiros entregues à própria indignação. E que se note: para gritar um
“fora Dilma!”, não é preciso apresentar um plano de governo — como não o tinham
os que gritaram “Fora Collor”. Como não o tinha Itamar Franco (ainda bem!), o
que abriu as portas para o Plano Real. “Ah, mas agora o resultado pode não ser
o mesmo…” Sempre pode. Mas ninguém nos dará o conforto de uma bola de cristal.
Então eu fico com o conforto das instituições.
E não se trata de uma resposta só retórica. Felizmente,
temos Forças Armadas disciplinadas, que não sonham nem longinquamente em se
aproveitar das irresponsabilidades de algumas lideranças civis, como ocorreu em
1964. A mesma Constituição que dá as garantias legais ao eleito prevê as
condições de sua saída.
Ao apoiar as manifestações do dia 16 de agosto, o PSDB se
põe ao lado de um pleito legítimo e legal. Melhor ainda: sabe também que não o
lidera porque essa é a uma convocação que vem de vozes da sociedade, que não
abusam de nenhum aparelho público — bens dos Estado — ou coletivo: sindicatos,
ONGs e movimentos sociais.
O Brasil que vai às ruas é um país sem cabresto.
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