Por Percival Puggina

Inúmeras articulações vêm ocorrendo em Brasília. Um
dia a presidente convidou para jantar em comemoração ao Dia do Advogado altas
personalidades do mundo jurídico e dos tribunais superiores, inclusive do STF
(três compareceram!). Vêm-me à mente que o 11 de agosto é tradicionalmente
conhecido como "Dia do pendura", um antigo costume pelo qual
estudantes de Direito iam aos restaurantes e mandavam pendurar a conta. Qual a
conta que se pretendeu pendurar no jantar do dia 11?
As forças do conformismo interesseiro se movimentam
nos bastidores. Suas preocupações com a situação nacional não são perceptíveis
a olho nu.
Vivêssemos sob as mesmas regras adotadas nas democracias
estáveis, o governo já teria caído em novembro do ano passado quando se
tornaram evidentes as mentiras e mistificações da campanha eleitoral. A suposta
"legitimidade" do mandato presidencial é fruto de embustes que
fizeram de bobo o eleitor.
As mesmas forças políticas que hoje chamam impeachment de
golpe forçaram a renúncia de Collor, que deixou o cargo no dia 29 de dezembro
de 1992. Menos de quatro meses depois, em 21 de abril de 1993, por determinação
das disposições transitórias da Constituição de 1988, ocorreu o plebiscito
sobre sistema e forma de governo. Jamais esquecerei a figura do militante ator
Milton Gonçalves, na telinha da tevê, durante a campanha sobre o tema,
afirmando que "No presidencialismo, você põe, você tira". Era uma
gigantesca inversão da realidade. É no parlamentarismo que se pode tirar o mau
governante. O que ocorrera com Collor fora uma quase inacreditável exceção à
regra. Mas era uma exceção ainda bem presente na memória das pessoas. Mentindo,
fizeram o eleitor de bobo. Pois é, também, graças àquela fraude publicitária de
1993 que Dilma está amarrada ao cargo com uma aprovação de apenas 7% que só lhe
proporciona vaia e panelaço.
Aqueles que recusam a legitimidade ao impeachment como um
processo constitucional, também recusaram legitimidade, poucos anos passados,
ao que aconteceu nos impeachments de Manuel Zelaya em Honduras e de D. Fernando
Lugo no Paraguai. Anseiam por parlamentos comprados, submissos, abastardados.
Devem avaliar de modo muito positivo os legislativos de Cuba, Venezuela,
Equador, Bolívia, Argentina, dos quais jamais se ouve falar porque aceitam a
focinheira que lhes impõem os respectivos governos.
Não podemos deixar que convençam ou vençam. Munidos do que
lhes falta - respeito à ordem, amor à paz, civilidade e compromisso com o bem
do Brasil e de seu povo - vamos todos às ruas neste domingo!
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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