Por Percival Puggina

Países quebram. Leva bom tempo para isso acontecer, mas a
estrada acaba. Um dia, não há mais pista para rodar. No horizonte só se avista,
então, terra inóspita, mata cerrada, montanhas e rios sem pontes. É a situação
grega, um país que deve quase dois anos inteiros de seu decrescente PIB e já
perdeu 400 mil jovens para outras oportunidades de trabalho e de vida no
exterior. Os gregos creram que seu ingresso na Zona do Euro era um cartão de
crédito ilimitado para implantar no país um estado de bem-estar social. Com o
dinheiro dos outros. E isso, simplesmente, não existe no mundo real.
Países quebram. No mundo irreal, os políticos que seduziram
os gregos e deles colheram votos com a ideia de um Estado provedor, benfazejo,
inexaurível em sua prodigalidade, trataram de convencer a opinião pública de
que o resto do mundo tem o dever de subsidiá-los com novos empréstimos. A
Grécia deve 360 bilhões de euros, não conseguiu pagar uma parcelinha de 1,5
bilhão (ou seja, 0,5% do que deve) e segundo os cálculos dos principais
credores (ministros da Zona do Euro), pode estar precisando de mais 83 bilhões
de euros. Além de ser difícil estabelecer um consenso sobre esse atendimento,
muito mais difícil será obter acordo interno na sociedade grega e em seu
círculo de poder para as duríssimas e necessárias medidas de contenção de
gastos, aumento de tributos, venda de patrimônio, redução de salários e
pensões.
Países quebram. Estados da federação quebram. Durante a
campanha eleitoral de 2014 no Rio Grande do Sul, alguns analistas denunciavam
hecatombe fiscal em que se constituiu o governo Tarso Genro. Ele estava
deixando a seu sucessor uma situação de insolvência que, em breve se tornará
nacionalmente conhecida. Perante tais acusações, os políticos petistas
afirmavam em orgulhosos rompantes: "Nós não nos submetemos a essa lógica
neoliberal". O que chamavam lógica neoliberal era, simplesmente, o zelo
pelos recursos do contribuinte, contendo-os nos limites da receita, conforme impõe
a lei de responsabilidade fiscal.
O governo petista no Brasil, indo pelo mesmo caminho das
pedaladas e da gastança desmedida, jogou-nos numa crise pela qual não
precisaríamos estar passando. Vínhamos bastante bem. Nossos governantes dos
últimos 13 anos, porém, gastaram demais, fizeram loucuras demais, jogaram
dinheiro fora e mandaram dinheiro para fora, torraram reservas demais,
locupletaram-se demais. Foram longe demais. E agora chamam golpistas quem busca
uma saída política e constitucional para que não sejamos mais golpeados por
tanto desmando, incompetência e irresponsabilidade.
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no
país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e
Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário