Por Erik Farina

Um Estado inchado e generoso em benefícios sociais,
combinado à baixa produção da indústria, deixou a Grécia perdida em um
labirinto de onde nem Teseu conseguiria achar uma saída fácil. E as semelhanças
com o Brasil são perturbadoras.
Emaranhado em um sistema previdenciário distorcido, com
muitos privilégios e aposentadorias precoces, o Brasil drena o equivalente a
9,1% de suas riquezas para pagar pensões. A proporção deve dobrar até 2050: nos
aproximaremos, portanto, dos gastos da Grécia (15% do Produto Interno Bruto) em
vez de caminhar para o patamar de nações que lidam melhor com esses benefícios,
como os Estados Unidos (7% do PIB).
É indiscutível que, se comparados aos gregos, ainda estamos
a certa distância de abrir a caixa de Pandora. A dívida por lá chega a 177% do
PIB (ou seja, seria necessário utilizar todas as riquezas do país por quase
dois anos seguidos para satisfazer os credores). Mas observe a velocidade com a
qual nos aproximamos: de 2010 para 2014, nossa dívida passou de 53,4% para
63,4% do PIB. E isso não nos garantiu desenvolvimento, mais produtividade ou
protagonismo no mercado global.
A lógica que naufragou os gregos e sorri sorrateiramente em
nossa direção é a de que não se pode distribuir uma riqueza que não se tem. Em
algum momento, a fonte seca. Na ausência de uma produção que alimentasse o
tesouro do país, os gregos recorreram a empréstimos para sustentar seu padrão
de vida. Até que veio a crise de 2008, e os donos do dinheiro sumiram. Eis
outras duas semelhanças a terras tupiniquins: nossa credibilidade anda em
baixa, e nossa indústria, cambaleante — em maio, a produção desabava quase 9%
em comparação com um ano atrás.
E o que vem pela frente não anima. Talvez inspirada pela
mitologia grega, nossa classe política parece olhar a realidade através de um
filtro fantasioso. Em plena discussão sobre caminhos para amenizar a calamidade
das contas públicas, eis que o Senado aprova um reajuste de 78% para servidores
do Judiciário.
Não temos por aqui Orfeus, Odisseus ou Cadmos para nos
resgatar — ou uma zona do euro sólida para nos dar credibilidade. Contamos com
nossos Renans e Cunhas e Dilmas. Teremos que encontrar nossa própria saída do
labirinto.
Fonte: A Direita Brasileira em Ação
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