
"O imperador D. Pedro II teve na vida dois grandes
amores: ao Brasil e ao estudo. Para ele, o Brasil estava acima de tudo. No
exílio, esses amores, em lugar de arrefecerem, aumentaram. O imperador sentia
no mais alto grau esses dois amores. E sabe-se que sem amor não se faz
nada".
Quem disse isso foi a Baronesa de Loreto ao jornalista
Mozart Monteiro, do extinto "O jornal", em 1925. O texto foi
descoberto, em recente pesquisa, pelo historiador José Murilo de Carvalho,
autor da biografia de D. Pedro II. Que reflexões podemos fazer sobre esta nota
publicada na coluna do Ancelmo Góis, sábado (6), em O Globo?
Muitas... A primeira, de cara e lamentável, é que não temos
estadistas no Brasil com a mesma qualidade do D. Pedro II - que nunca precisou
andar de bicleta em público como jogada de marketagem. A segunda é que a queda
de D. Pedro foi uma das maiores tragédias para atrasar, impedir ou inviabilizar
a construção da civilização brasileira. O Brasil caminhava para se tornar uma
potência mundial no final do século 19.
Desastre de mesma proporção só a posse do
"imperador" do maranhão, José Sarney, na Presidência da República, no
golpe militar de 1985, após a morte de Tancredo Neves, que nem chegou ser
empossado, em função da doença que o mataria. Com estas duas passagens, o
Brasil retrocedeu histórica e democraticamente. Os dois episódios (queda do
Imperador com a "república" e posse ilegítima do que se acha
"imperador" na "nova república") foram causados por
intervenções militares diretas.
A lição da história recomenda: não basta intervir, se você
não sabe direito o que fazer, deixando tudo como dantes, ou ainda pior, na
Bruzundanga do Abrantes... Não basta intervir se você não tem o pleno
conhecimento do inimigo que vai engoli-lo na primeira curva... Não basta intervir
se você se alia, querendo ou não, na segunda hora, ao que tem de pior na
sociedade...
O Exército proclamou a República em 15 de novembro de
1889... Teria sido bacana se os militares e civis que apoiaram o golpe
tivessem, efetivamente, implantado a tal República. Efetivamente, isto não
aconteceu até hoje. O Brasil sobrevive, com fatal vocação terceiromundista, em
um regime claramente oligárquico, no qual a coisa pública é violentada pela
ação do crime institucionalizado. A tal "nova república" é mais que
um deboche. É uma ditadura dos corruptos e da bandidagem.
A republiqueta de araque, na qual o modelo federativo nunca
foi efetivamente implantado e respeitado em sua essência, incorporou elementos
de "autoritarismo absolutista" a partir da década de 30, quando outro
ídolo nacional, Getúlio Vargas, implantou o "Estado Novo" - cuja
base, até hoje, vigora, em um "regime do branquinho doido". Mistura
elementos regulatórios fascistas, com pitadas legais comunistas, práticas
sociais-democratas, um discurso capitalista neolibertino, mais rentista que
produtivo, consolidando nosso Capimunismo - autoritário, cartorial,
cartelizado, centralizador, perdulário e corrupto.
Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Vana Rousseff, seus
companheiros e comparsas da Base Amestrada merecem uma "estalta" de
cocô em praça pública pelo que estão fazendo pelo Brasil. Graças à
incompetência ou ação criminosa deles, tudo dá errado, porém as besteiras e as
sujeiras vêm à tona. O cidadão comum já sabe o que e quem não presta. Os
verdadeiros inimigos do Brasil estão identificados pelo grande público. A
conclusão geral é que passou da hora da faxina.
Este modelo capimunista caminha para o esgotamento
(literalmente o esgoto sanitário da História). O impasse institucional em que
estamos mergulhado nunca foi antes visto. A ruptura parece inevitável. É
questão de tempo. As oligarquias perderam sua capacidade de resolver tudo na
base do simples conchavo. As "zelites" não sabem o que fazer... Mas a
maioria das pessoas exige "mudanças".
O vácuo político, com demanda concreta por transformações
benéficas, abre espaço para uma objetiva ação da sociedade que tende a
despertar a verdadeira Elite Moral - aquela que não só indica, mas mete a mão
na massa, com ideias e muito trabalho, para fazer as coisas boas acontecerem.
Nas redes sociais da internet e nas ruas esta Elite Moral real já se manifesta
e exerce sua pressão democrática legítima.
Como nunca antes na História do Brasil, a massa, antes
apenas idiotizada e usada pela Oligarquia, agora começa a saber das coisas e a
entender o que precisa mudar de verdade. O fenômeno global da rede, com as
pessoas interagindo e assumindo o protagonismo, é resultante do inevitável
avanço tecnológico da comunicação. As pessoas comuns, interligadas, se juntam e
multiplicam a capacidade de ação proativa.
A revolução dos smartphones, com amplo acesso das pessoas a
uma internet (mesmo cara e que não funciona direito, como no primeiro mundo),
viabiliza informação, formação de grupos de pessoas unidas, e mobilização em
favor de causas socialmente justas. Este movimento nunca antes experimentado e
vivenciado no Brasil está gerando as pré-condições culturais, psicossociais e
materiais que a História demanda para que as mudanças reais aconteçam.
Os três poderes no Brasil já pressentem a pressão, e vão
sentir ainda mais o tranco, brevemente. Um sistema assentado na corrupção não
resiste quando as pessoas comuns começam a entender como o jogo é jogado.
Executivo, Legislativo e, sobretudo, o Judiciário terão de se submeter ao
processo de desinfecção para o desenho de um novo modelo democrático, com
transparência, regras claras e segurança do Direito, junto com o pleno
exercício da pressão legítima do cidadão.
Na hora da efetiva mudança, como nunca antes em nossa
História, ocorrerá um conflito de grandes proporções. Desta vez, o jogo não
deve ser decidido na base dos tradicionais conchavos dos gabinetes dos
dirigentes, dos políticos ou dos magistrados. A maioria da sociedade rejeita os
atuais ocupantes dos espaços de poder. Quem tem a hegemonia agora, fatalmente,
terá de reagir contra os que exigem mudanças. O grau de coragem ou de covardia deve
determinar o quanto vai durar o tempo de conflito mais radical.
Nesse momento, aí sim, querendo ou não, as Forças Armadas
terão de ser o fiel da balança. O jogo tende a ser vencido pelo lado do qual os
militares ficarem. A maioria das pessoas, nas redes sociais, clama por
intervenção militar. Os militares não farão intervenção direta. Os comandantes
já deixaram isto bem claro. No entanto, eles sabem muito bem o cenário que se
desenha vai exigir a participação deles na hora em que a Elite Moral da sociedade
partir para a legítima Intervenção Constitucional (o termo, o conceito e o
fenômeno correto do mais provável a acontecer).
Quando a Intervenção Constitucional efetivamente acontecerá?
Eis a pergunta ainda sem resposta tão exata em relação ao prazo. O certo é que
o modelo capimunista está indo completamente para o ralo. No entanto, o ponto
de mutação só será percebido e vai acontecer realmente no momento em que o
impasse institucional atingir seu limite máximo. Estamos nos aproximando
dele... As "autoridades" não podem sair às ruas, sem seguranças...
Vaias e xingamentos viraram pronomes de tratamento...
A regra é simples, com uma metáfora bem real e objetiva. A
força de uma corrente é determinada pelo seu elo mais fraco. Quando ele se
rompe, a corrente perde a função básica. Os elos da oligarquia tupiniquim nunca
estiveram tão apodrecidos e enfraquecidos. O rompimento deles depende apenas da
vontade política e da ação corajosa e determinada das Elites Morais - que
precisam comprovar não estarem deitadas eternamente em berço esplêndido, como
no Hino Nacional.
Os próximos 90 dias serão eletrizantes. A crise econômica
tende a se agravar. O andar de baixo da pirâmide social, que vem elegendo o
atual desgoverno há vários anos, já começa a reclamar da vida, se sentindo
traído por quem ajudou a botar no poder. Por isso, aumentando os juros, para
gerar mais dividendos e lucros para quem já tem muita grana, o desgoverno tenta
sua última cartada, para reduzir a insatisfação no andar de cima. A turma do
meio perdeu a paciência e exige mudanças imediatamente. Ao mesmo tempo, a
evolução do mundo demanda um Brasil que produza e funcione sem tanta
incompetência corrupção.
Os três poderes vão aguentar tanta pressão interna e
externa? Até quando? A bola dos poderosos está murcha... E não estamos falando
do Fifagate... A Lava Jato ainda tem um papel a cumprir no começo do saneamento
básico da vida pública brasileira. Quando os primeiros tubarões forem fisgados,
para uma temporada na cadeia, ou com condenações exemplares, estará dada a
senha para o jogo de verdade começar...
Uma coisa precisa ficar bem clara no jogo que está para
começar de verdade. Nada melhor que o exemplo histórico para desenhar a
realidade nua e crua. O General Leônidas Pires Gonçalves, que ontem foi cremado,
salvou a Nova República. Agora, não será um militar que vai operar a salvação.
Só nós mesmos, cada um fazendo a sua parte, podemos nos salvar desta degradante
Nova República que apodrece.
A responsabilidade é de cada um de nós, e não de outros
"heróis" ou das Forças Armadas - amadas ou não. Simples assim...
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