Por Sacha Calmon - Correio Braziliense
Quem leu o livro de Engels, amigo íntimo de Marx e próspero
industrial alemão, a origem da família, do Estado e da propriedade, certamente
está informado do significado da dialética da história no conjunto da obra de
Marx, cujo livro mais citado é O capital, até hoje profundo e polêmico. Com
acerto, o padre Jean Calvez, o mais honesto e profundo conhecedor da filosofia
de Marx, dizia ser ele o autor da mais completa interpretação histórica do
homem e do universo. Marx esteve baseado na dialética de Hegel, seu mestre e
contemporâneo (ver Ludwig Feuerbach ou o Fim da filosofia clássica alemã), que
utilizava a dialética do filósofo grego Heráclito para explicar a evolução do
espírito absoluto (filosofia idealista alemã). Marx o botou com os pés no chão
e usou a dialética para explicar o homem e a história, deixando de lado o tal
espírito absoluto. O homo necessitudinis, ou seja, um ser de necessidades, é a
tese. A antítese é a natureza sobre a qual o homem atua (homo faber) para
satisfazer as necessidades de comer, defender-se, abrigar-se, procriar e
sobreviver.
A síntese é a história humana sob a face da Terra. Ao redor
dessa contradição básica (ou seja, tese versus antítese = síntese), Marx chega
aos tempos modernos pregando que só haveria igualdade e liberdade plenas com o
desaparecimento do Estado e das classes sociais antagônicas e a mais-valia do
trabalho, com a vitória do proletariado e a coletivização da propriedade (todos
por um e um por todos), um belo sonho que ele chamou de materialismo histórico
a terminar num paraíso terreal elevado e científico, a ombrear, como diz o
padre Calvez com a parusia cristã, ou seja, o paraíso após a morte (o fim de
todas as contradições da história dos homens e de cada homem particularmente).
Embora a sociologia marxista seja ferramenta imprescindível
para a compreensão da história humana, especialmente pelos lados social e
político, a faticidade sociológica que processou a evolução das sociedades
modernas nos mostrou, à saciedade, o fracasso dos modelos socialistas
supostamente marxistas-leninistas. Rússia e China, os dois gigantes do
socialismo dito científico, o trocaram por economias de mercado e modelos
democráticos de gestão (o PC chinês tem vários partidos no seu âmago).
Comunistas remanescentes temos somente dois países: Cuba, pressurosa em se
modernizar, e Coreia do Norte, secretamente ávida de unir-se à Coreia do Sul.
Causa espécie que, apesar da sua cultura, o senhor Stédile
não tenha percebido as mutações da história contemporânea, apegando-se a
avelhantados slogans tipo "luta contra o imperialismo
norte-americano", ou de cara com o sucesso do agronegócio, a alardes contra
"a exploração do latifúndio improdutivo"... Stédile não passa de um
agitador político, com alta dose de desequilíbrio socioafetivo, apegado a teses
esquizoides dissociadas da realidade que vivemos no Brasil. O PT inteiro,
aliás, inventa uma luta de classes que ninguém enxerga e alardeia defender os
pobres contra os ricos. Ora, não há quem sendo rico deixe de desejar o aumento
do poder aquisitivo do povo, garantia de mais progresso, pois terá a quem
vender produtos e serviços.
A luta contra a pobreza, o desejo de educar o povo, o
resgate da desigualdade histórica que assola as sociedades latino-americanas é
desejo de todos os brasileiros e povos irmãos do continente. Não existem
"banqueiros perversos", "latifundiários exploradores" nem
"burgueses despolitizados". Os "movimentos sociais" não
passam de "caricaturas" ridículas de "imaginárias
revoluções", massa de manobra de políticos populistas, espertalhões e
psicopatas sociais, como o senhor Stédile, com todos os seus inúteis diplomas.
Fonte: A Verdade Sufocada
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