Por Nivaldo Cordeiro
O mar de gente tomou a rua para um único objetivo: forçar a
saída de Dilma Rousseff do poder. Mesmo os grupos que não verbalizaram o grito
de “Fora, Dilma!” sabem que a gente na rua é sinônimo de falta de legitimidade
dos governantes. O simples ir às ruas é uma demonstração de que se deseja a
saída de Dilma. Importa o que ficou: a imagem das ruas tomadas por brasileiros
insatisfeitos e dispostos a retornar à praça pública contra o governo, na
primeira oportunidade.
Preciso insistir nos fatos fundamentais que determinaram a
ida do povo às ruas: a indignação com a corrupção profunda praticada pelo
governo do PT e a sensação de perda econômica trazida pela crise, notadamente a
inflação e o desemprego. A percepção de que o futuro imediato é empobrecedor
assusta muita gente, de todas as classes sociais. O excesso de tributação e
regulação transbordou o limite da operacionalidade, inviabilizando que a
população tenha um meio de vida decente, sem depender do Estado.
O tarifaço imposto pelo governo, especialmente no setor
elétrico, piorou a percepção das pessoas sobre a qualidade do governo. Uma
sensação de desamparo e de tunga é o que percebo nas pessoas. Contrariando as
promessas de campanha, Dilma partiu para o ajuste fiscal em desespero, pois as
expectativas dos agentes econômicos deterioraram-se rapidamente. O tarifaço
turbinou a taxa de inflação, que agora se esparrama na maioria dos setores
econômicos. Empobreceu sobretudo as camadas mais pobres da população.
O pano de fundo é a taxa de câmbio, preço muito sensível aos
problemas de conjuntura. Certo que a desvalorização do real alimenta a
inflação, mas é certo também que ela ajuda no equilíbrio da economia, sobretudo
no setor externo. O Brasil precisa gerar saldos na balança comercial e
minimizar os dispêndios nos serviços, o que só pode ser obtido com desvalorização
cambial. Ela viria de qualquer maneira, em face do agigantamento dos déficits,
cada vez mais difíceis de financiar. A pergunta é: até onde irá a
desvalorização? Ninguém sabe, mas é certo que a crise política agrava a
percepção dos agentes, contribuindo para a desvalorização.
Até agora os governantes não acusaram os agentes econômicos
pela carestia, o que é habitual em governos do naipe do PT. Deverão fazê-lo em
breve, sobretudo se a capacidade do ministro Joaquim Levy de permanecer no
governo for minada. A crise de autoridade desaguará na crise administrativa. A
ideologia do PT não pode conviver facilmente com a sobriedade e a racionalidade
do ministro da Fazenda. Ele continua sendo um estranho no ninho.
A multidão nas ruas sabe disso, intuitivamente. Sabe que o
PT é o mal na política, tanto por suas más intenções revolucionárias quanto
pela incompetência na gestão governamental. É contra esse mal que ela luta. E o
mal tem personificação, nome: Dilma Rousseff.
Penso que o PMDB continuará a estocar o PT, tomando-lhe
nacos de poder. É evidente que a presidente é refém do Legislativo. A figura de
Eduardo Cunha se agiganta como referência das ações antirrevolucionárias do PT,
ele que não tem perdido a oportunidade de acuar o Executivo. Se o impeachment
vier, será pela mão do PMDB.
De qualquer modo, a vida política dos próximos meses será
profundamente impactada pelas manifestações. Quem viver verá.
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