Por Thiago Cortês
A temática da doutrinação política e ideológica ganhou, pela
primeira vez, uma audiência pública no Congresso Nacional. É claro que existe
um longo caminho a ser percorrido, mas a própria realização da audiência
oferece motivos para comemoração.
Trata-se de um marco em termos simbólicos e midiáticos. A
imprensa, ainda que de forma tímida, noticiou o debate. Do ponto de vista
político, a audiência foi uma iniciativa da sociedade civil sem qualquer tipo
de vinculação partidária.
O movimento Escola Sem Partido (ESP), cujo fundador e
coordenador é o advogado Miguel Nagib, congrega desde 2004 pais de alunos,
estudantes e professores que já não suportam a instrumentalização da educação
para fins ideológicos e partidários.
Eis um aspecto que perturba os engenheiros sociais do
Ministério da Educação: entre os fundadores e participantes do ESP estão
vítimas diretas e indiretas da doutrinação que ocorre em escolas e
universidades da rede pública e particular.
A natureza civil e apartidária do ESP impede que os
ideólogos que comandam (e corrompem) a educação brasileira façam uso do
expediente-petista-padrão que consiste em rotular o movimento e negar a sua
legitimidade.
A audiência teve ainda mais impacto pela participação de
professores e representantes de instituições de ensino que confirmaram o que o
Escola Sem Partido denuncia há mais de dez anos: a educação brasileira foi
sequestrada pelos ideólogos de esquerda.
“Esses livros didáticos não entregam o que eles prometem.
Citam Paulo Freire e dizem que a prioridade é ensinar a pensar, mas apresentam
questões polêmicas sob um único viés”.
Também está registrada e foi noticiada a fala do sociólogo
Braúlio Porto de Matos, professor da Universidade de Brasília, que se referiu a
Paulo Freire como um exemplo de ideólogo cuja obra tão somente trata a
pedagogia como um meio de doutrinação esquerdista.
O problema é o professor militante
Alguns freireanos magoados depois, o próprio Miguel Nagib –
que certa vez ouviu da filha que seu professor havia comparado o guerrilheiro
Che Guevara a São Francisco de Assis
– lembrou que tal expediente é um claro
desrespeito à Constituição:
“O uso da sala de
aula para fins políticos e ideológicos afronta, a um só tempo, o princípio
constitucional da neutralidade política e ideológica do Estado, e a liberdade
de consciência dos estudantes, assegurada pelo art. 5.º, VI, da Constituição
Federal. A sala de aula hoje é um local onde a Constituição Federal não tem valor”,
denunciou.
O problema não é a existência de professores esquerdistas na
sala de aula. Posso dizer que já tive bons professores de esquerda que não
tentaram me doutrinar e, pelo que me consta, até hoje estimulam o debate com
seus alunos, respeitando os diversos pontos de vista.
O problema é o professor militante que – aproveitando-se da
vulnerabilidade de indivíduos ainda em formação – transforma a aula em um
momento de catecismo ideológico. E é também o Ministério da Educação, que
transforma livros didáticos em cartilhas ideológicas.
No site do Escola Sem Partido é possível ler vários depoimentos de alunos do ensino médio e universitário que foram intimidados por
professores militantes porque não comungavam dos dogmas da esquerda. Isso não é
aula, tampouco debate; é apenas catecismo.
O que não se pode fazer é tratar o marxismo como única
corrente de pensamento que merece ser estudada, como se o marxismo abarcasse
todo o pensamento crítico.
Só um cínico toma um ponto de vista ideológico específico
como instrumento de “despertamento das consciências” – desculpa de professores
militantes da rede particular de ensino.
Quem diz Marx, deve ser capaz de dizer Misses; que a Michel
Foucault se contraponha Roger Scruton; e que os autores marxistas que habitam
as salas de aula tenham como companheiros de aventura Sir Isaiah Berlin, Mário
Ferreira dos Santos, Raymond Aron, Karl Popper etc…
Não existe pensamento crítico sem que os supostos pensadores
críticos sejam alvos de críticas e contraposições. Os discípulos devem aprender
a questionar seus mestres. Ou, como diria o velho Marx, de omnibus disputandum
(tudo deve ser questionado).
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Thiago Cortês é jornalista.
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