Por VEJA
BATE-PAPO - José Eduardo Cardozo diz que se encontrou
casualmente com o advogado Sérgio Renalt, que tem contrato com a UTC e
trabalhou com Thomaz Bastos no governo Lula. As empreiteiras, porém, gostaram
do resultado da reunião (Ueslei Marcelino/Reuters) Desde a morte do ex-ministro
Márcio Thomaz Bastos no ano passado, o PT perdeu seu grande estrategista em
momentos de crise. Chamado carinhosamente de “God” (Deus, em inglês) pelos
amigos, o onipresente MTB foi convocado para coordenar a defesa das
empreiteiras tão logo deflagrada a Operação Lava-Jato. Ele tinha uma meta
clara: livrar seus clientes de penas pesadas na Justiça e, de quebra, o governo
petista da acusação de patrocinar um novo esquema de corrupção para remunerar
sua base aliada no Congresso.
Negociador nato, Thomaz Bastos se dedicava a convencer o
Ministério Público Federal de que a roubalheira na Petrobras não passava de um
cartel entre empresas -- e que, como tal, deveria ser punido e superado com o
pagamento de uma multa bilionária. Nada além disso. A morte tirou o
criminalista cerebral da mesa de negociação. MTB deixou um vácuo. O governo
perdeu sua ponte preferencial com as empreiteiras, o diálogo entre as partes
foi interrompido, e as ameaças passaram a dominar as conversas reservadas. Foi
nesse clima de ebulição que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
assumiu o papel de bombeiro. Ex-deputado pelo PT e candidato há anos a uma vaga
de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cardozo se lançou numa ofensiva
para acalmar as construtoras acusadas de envolvimento no petrolão, que,
conforme VEJA revelou, ameaçam implicar a presidente Dilma Rousseff e o
antecessor Lula no caso se não forem socorridas. Há duas semanas, o ministro
recebeu em seu gabinete, em Brasília, o advogado Sérgio Renault, defensor da
UTC, que estava acompanhado do ex-deputado petista Sigmaringa Seixas.
O relato da conversa percorreu os gabinetes de Brasília e os
escritórios de advocacia como um sopro de esperança para políticos e
empresários acusados de se beneficiar do dinheiro desviado da Petrobras. Não
sem razão. Na reunião, que não constou da agenda oficial, Cardozo disse a
Renault que a Operação Lava-Jato mudaria de rumo radicalmente, aliviando as
agruras dos suspeitos de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. O
ministro afirmou ainda que as investigações do caso envolveriam nomes de
oposicionistas, o que, segundo a tradição da política nacional, facilitaria a
costura de um acordo para que todos se safem. Depois disso, Cardozo fez algumas
considerações sobre os próximos passos e, concluindo, desaconselhou a UTC a
fechar um acordo de delação premiada. Era tudo o que os outros convivas queriam
ouvir. Para defender a UTC, segundo documentos apreendidos pela polícia, o
escritório de Renault receberá 2 milhões de reais. Além disso, se conseguir
anular as provas e as delações premiadas que complicam a vida de seu cliente,
amealharia mais 1,5 milhão de reais. Renault esgrime a tese de que a Lava-jato
está apinhada de irregularidades, como a coação de investigados. No encontro,
Cardozo disse o mesmo ao advogado, ecoando uma análise jurídica repetida como
mantra pelos líderes petistas.
Depois da reunião no ministério, representantes de UTC e
Camargo Corrêa recuaram nas conversas com o Ministério Público para um acordo
de delação premiada. A OAS manteve-se distante da mesa de negociação. “Na
quarta-feira (um dia depois do encontro em Brasília), fomos orientados a
suspender as conversas com os procuradores”, confidencia um dos advogados do
caso. Cardozo não operou esse milagre sozinho. “Chegou o recado de que o Lula
entrará para valer no caso e assumirá a linha de frente. Isso aumentou a
esperança de que o governo não deixe as empresas na mão”, diz outro advogado de
uma empreiteira.
Fonte: A Verdade Sufocada
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