Sem qualquer ponto de apoio que possa ajudá-la a manter o
prumo, suas cambalhotas na direção do precipício beiram o dramático. No mesmo
pacote mal feito se misturam a inflação ascendente, o desemprego crescente, o
desencanto dos eleitores, que lhe deram um segundo mandato há pouco mais de
meio ano, os infindáveis escândalos de corrupção, envolvendo empresários,
políticos e a outrora sólida Petrobrás, a incompetência administrativa
assombrosa, a revolta com a teia de mentiras que foi imposta ao eleitorado e a
falta total de apoio por parte de seu partido e de seus parceiros, inclusive de
seu guru Lula.
A base de apoio do governo ruiu completamente e todos
procuram salvar-se, levando a melhor parte dos destroços.
Tudo bem, Dilma colhe o que plantou.
No entanto, há outros sinais assustadores.
Seus aliados teóricos jogam cascas de banana em seu caminho
já escorregadio, votando demagogicamente medidas de gosto popular que
completariam a destruição de nossa economia e deixando-lhe a antipática
alternativa de apelar para o veto, tentando salvar algo do periclitante, mas
imprescindível, ajuste fiscal.
O horizonte é ensombrado pelos vetos que podem ser
derrubados e por, no mínimo, três grandes nuvens negras ameaçadoras na esfera
judicial: o TCU, na verdade órgão fiscalizador do Legislativo, caminha para
rejeitar as contas governamentais de 2014, em consequência das famosas
“pedaladas”, artifícios contábeis usados para mascarar os desastres fiscais do
desgoverno; o TSE que se inclina a analisar possível abuso do poder econômico e
uso de verbas de origem duvidosa nas eleições de 2014; e o STF com atenta
observação das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público no caso
da Operação Lava Jato, que chegam cada vez mais perto do Planalto.
Raposas felpudas discutem de maneira não muito discreta as
alternativas a seu impeachment, acertando cenários, acordos e
divisão do espólio após sua possível queda. As conversações envolvem o
invertebrado PMDB – teoricamente aliado de Dilma – e as facções mineira e
paulista do PSDB – oposição retórica do governo petista, além de personagens
menores.
Enquanto isso, ministros dos tribunais superiores movem-se
discretamente, trocam mesuras e sussurros, repelem pressões mal disfarçadas,
aceitam outras, lançam balões de ensaio.
No deslize acelerado rumo ao abismo, cujo fundo é muito
distante e inimaginável, dois importantes atores do drama brasileiro medem
cuidadosamente suas ações ou omissões.
Um é o camaleônico Lula, movendo-se com muita cautela para
não ser tragado pelo mesmo desastre que ora incentiva, ora acalma. Sua
situação, no entanto, também não é tranquila. O braço da lei vem se aproximando
e ele deve muitas explicações sobre a criação do pesadelo em que vivemos.
A outra, incrivelmente discreta, mas crescentemente
descontente, é o povo brasileiro, vítima maior dos descalabros e também
responsável pelos mesmos, por nunca ter exigido as satisfações que lhe são
devidas. Escorrega junto com Dilma, sentindo-se sem carta, sem rumo e sem
piloto.
O clamor das ruas virá, mais cedo ou mais tarde. Quando chegar, a solução aparecerá, para o bem e para o mal.
O clamor das ruas virá, mais cedo ou mais tarde. Quando chegar, a solução aparecerá, para o bem e para o mal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário