Por Maria Lucia Victor Barbosa
Saindo um pouco do Brasil veremos que fatos mundiais relevantes estão
em curso e citemos apenas alguns poucos para não alongar demais o artigo:
1º - Os problemas econômicos da China, à qual nos atrelamos
preferencialmente por obra e graça de Lula da Silva. 2º - O acordo nuclear do
presidente Obama, apoiado por potências mundiais, com o Irã, algo perigosíssimo
que pode futuramente destruir primeiro Israel, depois os Estados Unidos e,
finalmente, não sobrara nada. 3º - A visita do Papa Francisco a países
latino-americanos. Em todos esses fatos prepondera o fator político.
Como tenho formação católica vou me deter no Papa e seus discursos. E
que tenho me perguntado: por que foi eleito pela primeira vez um Papa jesuíta e
latino-americano? Comecei agora a decifrar o enigma que merecia um texto de
pelo menos cinquenta páginas, mas que vou resumir ao máximo. Essa breve análise
nada tem a ver com fé, mas sim com o poder temporal da Igreja Católica.
O fundador da Companhia de Jesus foi o temperamental fidalgo espanhol
basco Inácio de Loyola. A Companhia foi moldada pelo padrão militar. A
disciplina era férrea. Toda individualidade era suprimida e de cada um e de
todos exigia-se uma obediência de soldado ao general.
As atividades dos jesuítas foram como ainda são variadíssimas. Eles trabalharam
sem trégua na Inquisição, espalharam-se pelos quatro cantos do planeta,
estiveram em todos os centros de decisões, fizeram da educação sua atividade
mais importante, funcionaram desde o início como uma multinacional da fé.
Georges Bernanos disse que "o velho sonho dos jesuítas era o de organizar
a cristandade segundo o método da ditadura totalitária e da razão de
Estado". Será que eles mudaram?
Ainda no âmbito da história recordemos que foi no Novo Mundo americano
que a Igreja alcançou seu maior sucesso numa época em que o Velho Mundo europeu
enfrentava a Reforma. Portanto, há tempos a Igreja considera a América Latina
como sua filha preferida. Nesse sentido tem toda razão Carlos Rangel quando
apontou em sua obra, Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário, que "A Igreja
Católica é mais responsável do que qualquer outro fator pelo que é e o que não
é a América Latina".
Quanto às nossas origens coloniais pode-se dizer usando uma expressão
de Ortega y Gasset, que tivemos uma "embriogenia defeituosa", por sua
vez geradora de sociedades desiguais. Nestas, até hoje não foi, conforme
Rangel, o marxismo, mas sim a teoria leninista do imperialismo e da dependência
que falsamente propôs uma resposta consoladora e esquerdizante ao complexo de
inferioridade crônico que a América Latina sofre em relação aos Estados Unidos.
Paradoxalmente, continua grande a imigração de latino-americanos para os
Estados Unidos em busca de uma vida melhor.
No momento, segundo o Instituto Pew Researh, com sede nos Estados
Unidos e citado pelo The Economist, "o Paraguai (onde 89% da população é
católica), o Equador (79%) e a Bolívia (77%) continuam sendo os bastiões da fé,
juntamente com Colômbia e México".
Note-se que a recente visita do Papa se deu justamente no Paraguai, no
Equador e na Bolívia, sendo que neste último o Papa recebeu de Evo Morales uma
cruz formada pela foice e o martelo, símbolo do comunismo, com um cristo
pregado. Esdrúxula adaptação do materialismo de Marx com a espiritualidade de
Cristo.
Nesta viagem, onde ficou claramente definida a política do papado, o
Papa fez sua mais veemente condenação ao capitalismo. Em Santa Cruz de la
Sierra, Bolívia, o Pontífice foi saudado por João Pedro Stédile, mentor dos
sem-terra que tem visitado o Vaticano juntamente com líderes dos chamados
movimentos sociais e da Teologia da Libertação. Disse Stédile diante de
centenas de militantes de movimentos sociais: "Assim como o capitalismo
tem Obama, nós temos o Papa Francisco".
Mas será que essa ecclesia pauperum ou igreja dos pobres que o Papa
Francisco prega, mesmo que seja em nome de um pós-marxismo, não manterá os
pobres da América Latina, sempre pobres? Afinal, o socialismo, aonde quer que
fosse implantado levou ao cerceamento da liberdade, à violência contra a
população, à escravização completa do indivíduo, ao nivelamento por baixo na
miséria enquanto a classe dirigente gozava das delícias da riqueza. Enfim, o
paraíso prometido na terra tornou-se o inferno. Talvez, uma pregação mais
espiritual e menos política enseje um proselitismo mais exitoso da Igreja na
América Latina.
Fonte: Em Direita Brasil
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Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
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