Por Percival Puggina
Estou à espera de que alguém me indique o motivo pelo qual, numa
sala de aula onde o bullying faz sofrer o aluno mais gordo, o mais baixo, o
gago, o de óculos, o que tem maiores dificuldades de aprendizagem, a única
forma de discriminação que causa rebuliço nos legislativos e suas galerias é a
discriminação por motivo de conduta sexual. Pergunto: o respeito não é devido a
todos, sempre? Por que eleger o sexo como essência do convívio respeitoso, num
espaço onde há tanto desrespeito, inclusive ao professor? E note-se: o
preconceito e muitos outros males se instalaram nas escolas precisamente quando
elas se assumiram como lugares de "construção da cidadania" ou de
revolução social.
A partir do momento em que o Congresso Nacional suprimiu do
Plano Nacional de Educação as referências a gênero, adotando preceito corretíssimo
"(...) erradicação de toda forma de discriminação", certas
organizações foram à loucura. Através do Ministério de Educação, manietaram a
lei e criaram um hospício legislativo, obrigando estados e municípios a
deliberar novamente sobre o assunto.
O que não dizem, e só é conhecido por quem acompanha os
debates nacionais e internacionais sobre as ditas questões de gênero, é que
essa ideologia pretende ensinar crianças e adolescentes que não existe aquilo
que existe - a homossexualidade masculina e feminina, e o sexo com o qual se
nasce. Não satisfeitos, afirmam, lisamente, que o gênero é uma construção e que
convencer as crianças disso faz parte indispensável da "desnaturalização
dos papeis de gênero e sexualidade" (leia a nota, está tudo lá).
Ora, incutir tal disparate na cabeça das crianças da mais
tenra idade, mediante imposição legislativa, usando a sala de aula e a
autoridade do professor, é uma fraude à biologia e à experiência humana.
Introduzir esse conteúdo em cartilhas e figurinhas com o intuito de formatar
mentes infantis, afronta sua inocência e invade os direitos educativos dos
pais. É perversa manipulação e agressão ao ECA. Combata-se o bullying,
ensine-se a igual dignidade de todas as pessoas independentemente de suas
diferenças naturais, mas não se obrigue crianças e adolescentes, como parte da
atividade escolar, a aprender errado sobre sua própria natureza.
Diferentemente do que pretende o Conselho Regional de
Psicologia do Rio Grande do Sul, retirar esses conteúdos dos planos estaduais e
municipais de Educação não é "excluir o respeito à diversidade
sexual". Ao contrário, colocar foco exclusivamente nessa pauta é
discriminar o universo dos desrespeitados. Quem merece respeito é a pessoa
humana, sempre. A escola deve ensinar a não discriminação em quaisquer
circunstâncias. E ponto. O resto é, deliberadamente, criar grave desorientação
e ensinar errado, por ideologia ou perversa intenção.
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Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+.
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