“Não se pode aceitar passivamente que um qualquer que caia
de paraquedas na estrutura de comando, seja aceito…" “Diz-se que vingança é um
prato que se come frio. Se há espírito de vingança de um lado, por que não
partir também para a vingança em igual ou maior intensidade. Quem tem o telhado
mais vulnerável?”
O General VALDÉSIO
GUILHERME DE FIGUEIREDO disse que admite que precisa ser realmente revista a
desunião entre militares, “começando pela separação entre oficiais e praças”, o
General dá uma aula sobre comando e valoriza cada militar da estrutura
hierárquica das forças armadas. Explanando sobre as diversas funções sob a
designação de comandante, começando pelo comandante de esquadra, que são os
cabos, passando pelos sargentos e chegando aos comandantes de grande unidades,
explicando como é importante a intensa preparação para isso, desde as escolas
de cabos e sargentos das armas ao cursos de estado maior, o general diz que
todos tem que ser valorizados como partes indispensáveis ao corpo.
Numa crítica clara a presidente e seu “ministro da defesa” o
general, que foi ministro do Superior Tribunal Militar, diz que não é qualquer
um que pode ser comandante, sem preparação, sem histórico, sem conhecimento da
estrutura militar, suas mazelas e seu modus operandi.
“Não se pode aceitar passivamente que um qualquer que caia
de pára-quedas na estrutura de comando, seja aceito como preparado para
integrá-la.”
Se a Presidente fosse diretamente assessorada pelos
ministros militares, que agora são chamados de comandantes, poder-se-ia
chamá-la de comandante-em-chefe, mas não é o caso.
“O Ministro da Defesa, que tem até vestido farda e criou insígnias
que o definam como militar, não tem nenhum preparo de comando e o faz
intuitivamente, contando, ou não, com a assessoria militar, ou “genuinamente”
civil (Alusão a José genuíno ex-terrorista)”.
Nos Estados Unidos, embora pareça, não é assim que funciona.
Existe o Ministro da defesa, mas é função política, na verdade os comandantes
militares ligam-se diretamente ao Presidente nas questões militares.
“Se a nota dos clubes militares desagradou ao presidente da
república e a seu ministro da defesa, também são inúmeras as atitudes, o
descaso, a legislação revanchista por eles levada adiante, sem que os clubes
militares impusessem um recuo.”
“Diz-se que vingança é um prato que se come frio. Se há
espírito de vingança de um lado, por que não partir também para a vingança em
igual ou maior intensidade. Quem tem o telhado mais vulnerável? Insisto que
devamos nos unir, se possível, oficiais e praças, da ativa e da reserva, mesmo
da reserva de segunda classe”
TEXTO COMPLETO
PALAVRAS DO GENERAL
DE EXÉRCITO REFORMADO E MINISTRO DO STM APOSENTADO VALDESIO GUILHERME DE
FIGUEIREDO.
Ser Comandante
Realmente, as coisas
não vão bem, mas fruto da eterna desunião que existe entre os componentes do
EB. Começa com a separação estatutária entre oficiais e praças, hoje bastante
acirrada, inclusive com a tentativa de organização de sindicatos. Tudo falta de
capacidade de comando e de medo da idéia errada de que deva existir ampla
defesa e contraditório em tudo.
É
interessante que se faça uma reflexão sobre o que é ser comandante na
Infantaria de Sampaio. Existem comandantes de diversos níveis, a começar pelo
“cabo”, que pode ser comandante de esquadra, ou de peça, após realização de
curso; o terceiro sargento exerce um comando mais importante, o de comandante
de Grupo de Combate, ou de seção, preparado na Escola de Sargento das Armas; o
tenente comanda pelotão, habilitado pelo curso da Academia Militar das Agulhas
Negras; o capitão comanda a subunidade,
já com um efetivo de mais de uma centena de militares; o coronel comanda a
unidade, após um curso de aperfeiçoamento realizado na Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais e o general comanda as Grande Unidades, ou Grandes
Comandos, após ter realizado curso na Escola de Comando e Estado Maior do
Exército.
No
caso dos oficiais, considere-se que a evolução processa-se ao longo de anos,
não só pelo preparo adquirido em cursos, mas, também, pela observação dos
diversos comandantes que passam pela nossa vida profissional, alguns dando bons
exemplos e outros, nem tanto, mas sempre acatando a decisão do comandante –
isto é básico, ou pelo menos foi!
Não se
pode aceitar passivamente que um qualquer que caia de pára-quedas na estrutura
de comando, seja aceito como preparado para integrá-la. A Constituição Federal
e Lei Complementar deram ao Presidente da República o título de Comandante em
Chefe das Forças Armadas. Isto poderia funcionar quando o mesmo dispunha, junto
de si, os ministros militares a assessorá-lo; o Ministro da Defesa, que tem até
vestido farda e criou insígnias que o definam como militar, não tem nenhum
preparo de comando e o faz intuitivamente, contando, ou não, com a assessoria
militar, ou “genuinamente” civil.
Tudo é
cópia mal feita da estrutura de defesa dos Estados Unidos, onde a Secretaria de
Defesa é um órgão essencialmente político, assim como os secretários das cinco
forças armadas americanas são civis e tratam, apenas, do aspecto político das
forças. A estrutura militar está ligada ao chefe do estado maior conjunto e os
comandantes de teatros de operações ligam-se diretamente ao presidente da
república.
A
criação do ministério da defesa no Brasil deu-se por pressão americana. Quando
fui chefe da Delegação do Brasil na Junta Interamericana de Defesa, por várias
vezes, recebi convite para eventos internacionais dirigido ao ministro da
defesa do Brasil. Em todas elas restituí o convite informando que se desejassem
a presença do estamento militar brasileiro, deveriam enviar quatro convites: ao
Chefe do EMFA, ao Cmt da Marinha, ao Cmt do Exército e ao Cmt da Aeronáutica.
Isto se passou no governo do Presidente Itamar Franco. A partir daí, prevaleceu
a vontade yankee.
É de
estranhar o episódio recente atribuído aos Clubes Militares e a estrutura
política do poder executivo brasileiro.
O Clube Militar, que nem é destinado aos militares do Exército, mas sim
aos das três forças e a civis, é um entidade civil, pessoa jurídica que não é
vinculada a nenhuma das três Forças Armadas e não recebe nenhum valor do
orçamento da União para sustentar-se. Logo, por que deveria receber ordem do
presidente da república, do ministro da defesa, ou mesmo, do Comandante do
Exército. Admito que pudesse ter havido um acordo entre amigos, pois o
Presidente do Clube Militar e o Comandante do Exército são generais da mesma
safra, quase companheiros de turma.
Também
sou amigo e admirador do Comandante do Exército, mas nem por isso eu deixaria
de discutir com ele a conveniência da tomada da atitude de recuar. Não haveria
cabimento para tal. Se a nota dos clubes militares desagradou ao presidente da
república e a seu ministro da defesa, também são inúmeras as atitudes, o
descaso, a legislação revanchista por eles levada adiante, sem que os clubes
militares impusessem um recuo.
Costumo dizer que quem muito abaixa as calças mostra a cueca, ou a
calcinha. Não posso admitir que a alta estrutura de comando do Exército deixe
de lado a disciplina, ou a hierarquia, mas permitir que qualquer civil de
passado não muito recomendável, venha humilhar o Exército, empregando-o como
polícia militar, fazendo com que a Força Armada agora passe a ser força
auxiliar das polícias militares estaduais, ou que inverta a hierarquia
permitindo que os soldos de determinados militares estaduais sejam
infinitamente superiores aos dos militares do Exército.
Não
quero revolução, mas exijo respeito, ainda que tenha de impô-lo pela força. Não
me acusem de estar falando por estar imune às sanções disciplinares, de acordo
com lei de 1986. Posso falar de política, posso combater ideologias e posso e
devo defender a minha Instituição e meus antigos subordinados. Não me acusem de
covardia, porque nunca me apeguei a cargos e sempre coloquei minha cabeça a
prêmio na Extinta Diretoria Patrimonial de Brasília, no comando da 23ª Brigada
de Infantaria de Selva, no comando da Guarnição da Vila Militar, no
Departamento Geral do Pessoal e no Comando Militar da Amazônia. No Superior
Tribunal Militar, do qual fui ministro, sempre julguei à luz da Lei do Serviço
Militar e de seu regulamento, visando guardar a Instituição dos maus militares.
Se falhei algumas vezes, faz parte da minha condição de ser humano.
“Diz-se que vingança é um prato que se come frio. Se há espírito de
vingança de um lado, por que não partir também para a vingança em igual ou
maior intensidade. Quem tem o telhado mais vulnerável?”
Insisto que devamos nos unir, se possível, oficiais e praças, da ativa e
da reserva, mesmo da reserva de segunda classe, não para derrubar nenhum
governo que o povo quis para si, mas para prestigiar a estrutura de comando
militar e fazer sentir que atacado o comandante, atacados estaremos todos.
Não
permitamos que os militares sejam tratados como cidadãos de segunda classe, que
só são valorizados quando há que se construir estradas onde não seja
compensador para as empreiteiras, ou para levar desaforo de bandidos ocupantes
dos morros cariocas, ou ainda, para ocupar o subalterno lugar de grevistas
impunes.
Valdesio Guilherme de
Figueiredo
General de Exército Reformado e Ministro do STM aposentado.
Publicado originalmente no site da Revista da Sociedade Militar
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