(Publicado em 26 de março de 2018)
Com o passar dos anos, os
acontecimentos de ontem nos parecem cada vez menos importantes, esmaecidos na
memória e substituídos por outros mais recentes ou mais impactantes para o bem
ou para o mal.
Alguns, porém, por mais distantes que estejam no tempo, não perdem seu
fulgor e sua nitidez, por serem marcos no desenvolvimento das pessoas ou da
sociedade.
É disso que tratamos hoje, ao relembrar na reunião com associados e
amigos do Clube Militar, neste já tradicional encontro, os idos de março de
1964, ponto de inflexão definitivo na história pátria, que evitou, pela ação
desassombrada dos brasileiros militares e civis que participaram ativamente dos
acontecimentos de então, que nosso país se transformasse, como era e ainda é o
desejo de alguns, numa grande Cuba.
Passados 54 anos, só os mais velhos dos presentes participaram
pessoalmente dos fatos; mesmo assim, em postos e funções próprios de sua,
então, pouca idade e experiência.
Mas os livros, a palavra dos mais antigos, a imprensa da época, ainda
não corrompida pelo viés esquerdizante do politicamente correto que relativiza
e criminaliza todos os êxitos do bom combate e glorifica todas as agressões dos
terroristas e guerrilheiros que tentavam a tomada do poder pela força, ainda
existem em arquivos públicos e particulares, à disposição dos interessados em
conhecer a verdade de 1964.
Os desafios enfrentados pelo Brasil no período 1961 – 1964 são
solenemente ignorados nas discussões sobre o assunto. Lembremos rapidamente
alguns deles:
- a renúncia de Jânio Quadros;
- a tumultuada posse de João Goulart, eleito com o apoio do PCB ilegal;
- a rápida experiência parlamentarista;
- os movimentos nacionalista-populistas de João Goulart, Leonel Brizola
e Miguel Arraes;
- as Ligas Camponesas de Francisco Julião e o apoio cubano ao
terrorismo rural das mesmas, que incendiaram engenhos de açúcar no Nordeste e
em São Paulo;
- a viagem de Prestes à União Soviética, buscando apoio de Kruchev para
a revolução comunista no Brasil;
- os Grupos dos Onze de Brizola, concebidos como base das massas e
futuro braço armado do partido revolucionário;
- as indefinidas reformas de base, em eterna mutação e grande bandeira
do movimento nacionalista-populista;
- a luta interna pelo poder entre o nacional-populismo de Jango e a
manobra revolucionária comunista de Prestes;
- o grevismo descontrolado, fomentado pelo Comando Geral dos
Trabalhadores (CGT), organização sindical ligada ao governo e ao PCB, que
paralisava o país numa onda infindável de greves políticas e de solidariedade a
outras greves, sob a omissão interesseira do governo;
- em 1963, a anarquia começa a atingir as Forças Armadas, como comprova
a Rebelião dos Sargentos em Brasília, em 12 de setembro;
- finalmente, em 1964, os passos finais da tentativa de golpe de estado
do presidente João Goulart, visando à sublevação dos militares e à derrocada
final das instituições democráticas, já tão enfraquecidas – os três
acontecimentos que puseram em cheque a hierarquia e a disciplina, pilares das
instituições militares: o Comício da Central do Brasil, em 13 de março; o Motim
dos Marinheiros, em 25 de março; e a Reunião no Automóvel Clube, em 30 de
março.
Poucas horas depois, a reação dos militares: as tropas começam a descer
de Minas Gerais.
A esquerda golpista, engasgada em sua própria propaganda, acreditou
numa força que não tinha. Vivendo na mentira, intoxicou-se com a mesma e não
soube separar desejos da realidade.
Anos depois, beneficiados pela anistia, os banidos de 64 voltaram ao
país e organizaram novamente a tomada do poder, conquistando-o pelas urnas e
aplicando no governo a teoria gramscista, para transformar a sociedade e
eternizar-se no poder.
Para tal, aparelharam a máquina estatal, inchando-a e ocupando-a com
seus sequazes.
E roubaram, roubaram muito, como nunca se vira antes em qualquer lugar.
Como resultado do saque aos cofres públicos, a Petrobras despencou de
oitava maior empresa do mundo para algum ponto além do 120º lugar.
Outras empresas estatais e autarquias, loteadas entre a profusão de
partidos em busca da “governabilidade”, também foram levadas à falência,
enquanto os partidos e políticos envolvidos no assalto e protegidos pela
impunidade do foro privilegiado enriqueciam com as propinas pagas por grandes
empresas em troca de favorecimento em licitações, aditivos sem fim aos
contratos de obras públicas, isenções fiscais e legislação convenientemente
acertada.
O escândalo resultou nos processos do Mensalão e da Operação Lava-Jato,
que começaram a passar a limpo o Brasil, sempre enfrentando a resistência da
corja de beneficiados pela corrupção que, bem instalada na máquina pública,
tudo faz para alterar a legislação e safar-se do braço da lei.
Ao relembrarmos os acontecimentos de 1964, é preciso permanecer atentos
às tentativas de demonizar os patriotas que salvaram a nação do domínio
comunista e dos desonestos que continuam a buscar as benesses do poder a
qualquer custo.
Aos que lutaram em defesa do país em 1964, nossa admiração e respeito;
aos que hoje se empenham em nos livrar dos assaltantes do erário, nosso aplauso
e reconhecimento.
Mas não nos iludamos. Os ataques aos militares que participaram do duro
combate ao comunismo não cessaram nem cessarão.
Recentemente, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou
pedido ao STF solicitando a reabertura do caso Rubem Paiva, com o intuito de
retomar a discussão sobre o alcance da Lei da Anistia e, com certeza, canonizar
os terroristas e criminalizar os agentes da lei e da ordem que os combateram,
com a violência recíproca e necessária.
Na mesma linha de revisão do passado, uma juíza de Minas Gerais
determinou que as praças e ruas internas das vilas militares da área sob sua
jurisdição tenham seus nomes trocados, no caso de homenagearem autoridades ou
combatentes que lutaram o bom combate e evitaram que nos tornássemos uma grande
e miserável Cuba.
Até mesmo o decreto de intervenção federal meia-sola na segurança
pública do Estado do Rio de Janeiro, onde há “áreas liberadas” sob controle das
milícias e dos traficantes, nas quais a polícia só entra combatendo, não deixa
de ser uma tentativa de jogar as tropas federais numa missão que pode ser
impossível, dependendo do apoio que o interventor tenha de vários órgãos dos
três poderes, não apenas da área da segurança, que estão naturalmente
envolvidos no problema e não estão sob sua autoridade.
Nas velhas fortificações portuguesas dos tempos coloniais, quando o
graduado ou oficial de ronda se aproximava dos postos das sentinelas, gritava:
“Sentinela, alerta!” – ao que a sentinela respondia: “Alerta estou! ”
Como então, nós, as sentinelas da Pátria, permaneçamos alertas.
Fonte: Clube Militar