quinta-feira, 2 de abril de 2015

Projeto Escola Sem Partido

Por Miguel Nagib


Trechos da palestra de Miguel Nagib no Fashion Monday sobre sua ONG Escola Sem Partido, que deu nome a um projeto de lei que tenta impedir a doutrinação ideológica nas escolas brasileiras.

Fonte: YouTube

Supremo decidirá se cabe ou não investigação de Dilma por envolvimento no Petrolão


dilma_rousseff_517Jogando para depois – Os líderes da oposição na Câmara dos Deputados, Raul Jungmann (PPS-PE), vice-líder da Minoria; Mendonça Filho (PE), líder do Democratas; e Carlos Sampaio (SP), líder do PSDB, anunciaram, após reunião com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que a investigação da presidente Dilma Rousseff por envolvimento no escândalo do Petrolão poderá ser discutida pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Caberá à Suprema Corte a palavra final sobre o assunto.

“Quem vai decidir se haverá ou não investigação é o ministro Teori Zavascki que, segundo o procurador-geral da República, deve levar o assunto à turma e até ao colegiado do Supremo”, disse Jungmann.

Para o parlamentar pernambucano, após a conversa com o procurador-geral, “ficou muito mais facilitada (a possibilidade de vitória) pelo fato de que nosso agravo vai para a turma e não será definido de forma monocrática, podendo ser definido pelo plenário”.

Conforme afirmou Jungmann, no pleno, que reúne todos os ministros, existem “vozes discordantes, ministros que entendem, como o decano Celso de Mello e outros mais, que cabe a investigação”. O deputado disse que saía da reunião com Janot “mais convicto” de que a apuração do envolvimento da chefe do Poder Executivo é plausível e “de que nós conquistamos a vitória de levar esse assunto para discussão no colegiado do STF”.

Na avaliação do deputado, “isso é um avanço e a consolidação de nossa tese, que está embasada no Supremo”.

Na primeira manifestação do procurador-geral da República, ele disse que não era possível investigar porque a Constituição vedava esse procedimento. Na reunião com a oposição, ele manteve esse ponto de vista e acrescentou que não via motivos para investigar.

“Ele (Janot) disse que não queria formar um juízo de valor na primeira resposta. Ficou naquilo que ele entende que diz a Constituição. No entender dele, não cabe investigação por fatos estranhos ao mandato. No entanto, jurisprudência do STF é de que cabe, sim, a investigação e ela deve acontecer na fase de instrução, anterior à fase processual”, explicou o vice-líder da Minoria.


Jungmann informou que o procurador complementará sua posição dizendo que não há elementos para investigar, no momento, a presidente.

Resolução autoriza estudantes a usar frequentar banheiros e vestiários conforme sua orientação sexual!

Por Sandra Faraj


Deputada Sandra Faraj repudia a Resolução n° 12/2015, publicada no DOU do dia 12 de março, que autoriza estudantes, de qualquer idade, a usar nome social e frequentar banheiros e vestiários conforme sua orientação sexual!

Fonte: YouTube

Impeachment na Câmara? Explica essa PT!

Por Joice Hasselmann


A turma do PT gasta saliva para defender que um processo de impeachment de Dilma agora por causa do petrolão da gestão passada seria golpe, ainda que a presidente seja a mesma. Pois bem. O líder da oposição, Bruno Araújo, encontrou um pedido de Impeachment protocolado na Câmara que desmonta o discurso furado de hoje. Entenda essa confusão.

Manifesto comunista e o monstro leviatã

Por Eguinaldo Hélio Souza

Manifesto comunista e o monstro leviatãTambém vi que houve, sem grandes dificuldades, uma transição da ditadura do proletariado à uma ditadura sobre o proletariado. Jacques Ellul

Vários são os motivos que nos levam a afirmar que o Manifesto Comunista foi o pior livro produzido pela civilização ocidental. Se os editores fossem sensatos colocariam uma advertência na capa: 

“Cuidado, as ideias deste livro já fizeram muito mal ao mundo”. Se os professores fossem razoáveis ensinariam sobre os efeitos desse livro na história. Se os governos fossem sábios o deixariam ao lado do Mein Kampf de Hitler como sendo de igual ou maior periculosidade.

Basta ver o tipo de Estado nele proposto. Sim, a utopia comunista prevê o fim do Estado. Antes, porém, tem que surgir o Estado monstro que a tudo domina e determina. Todas as coisas precisam ser por ele controladas e conduzidas até que o Novo Mundo paradisíaco surja, como se a serpente fosse a responsável pela entrada no Paraíso e não pela expulsão dele.

Se nos países socialistas como URSS ou China o Estado matou, torturou, prendeu e perseguiu milhões, isso se deu porque exatamente esse era o plano. O Estado monstro é a única coisa que pode surgir do Manifesto Comunista.

O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado.

Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas: Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado; Imposto fortemente progressivo; Abolição do direito de herança; Confiscação da propriedade de todos os emigrados e dos contrarrevolucionários. (Isto é, quem não concordasse com as ideias de Marx); Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo; Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de comunicação e transporte. Adequação do sistema educativo ao processo de produção material (isto é, doutrinação comunista e anti-tudo o que não for marxista), etc [grifos e acréscimos entre parêntesis meu][1]

Produção, crédito, terras, comunicação, transporte e educação – tudo nas onipotentes mãos do Estado. Eis a receita do Manifesto para criar o paraíso. “Dai-nos o controle absoluto e nós lhe daremos uma sociedade perfeita”. Eis o discurso proposto pela dupla Marx e Engels. Eis a receita para o inferno na terra. No fundo não se trata de um divórcio entre teoria e prática. Trata-se na verdade de um casamento perfeito entre teoria e prática. O Manifesto chocou o monstro e seus seguidores o trouxeram a luz.

Claro que os discursos socialistas serão uma combinação perfeita de utopia e poesia. Sua prática, todavia, produzirá conforme seu DNA: um Estado monstruoso que usará de todos os meios para impor sua vontade.

Minhas palavras a você, seu animal sedento de sangue. (…) Você disse: “Abaixo as prisões, abaixo o fuzilamento, abaixo o serviço militar. Que os  trabalhadores assalariados também tenham segurança”. Resumindo, você prometeu montanhas de ouro e uma terra paradisíaca. (…) Então você, seu sanguessuga, veio e tirou a liberdade das mãos do povo. Em vez de transformar prisões em escolas, elas estão cheias de vítimas inocentes. Em vez de proibir os fuzilamentos, você organizou um terror, e milhares de pessoas são fuziladas cruelmente todos os dias; você paralisou a indústria, e os trabalhadores agora estão famintos, o povo não tem o que vestir ou calçar. (Carta de um soldado do Exército Vermelho a Lenin, 25 de dezembro de 1918)[2]

O erro do soldado é o mesmo erro cometido por todos os que acreditaram nas propostas comunistas/socialistas sintetizadas no Manifesto: Crer que frutos doces nasceriam de plantas venenosas.

A própria de ideia de “ditadura do proletariado” não passa de engodo. Os proletários foram ao longo do tempo se beneficiando do capitalismo. Não são eles que fazem a guerra e sim aqueles que dizem falar em seu nome. “Não é o proletariado que faz guerra ao capitalismo. É a seita ideológica que fala e age em seu nome”[3].

Essa foi a realidade da primeira revolução socialista que deu certo e de todas as demais desde então. Isso nunca mudará. O Estado monstro é o único resultado possível da política socialista.

“A democracia socialista não é incompatível com a administração por uma só pessoa ou com a ditadura. Um ditador pode às vezes expressar a vontade de uma classe, já que às vezes ele sozinho é capaz de realizar mais  coisas e é, portanto, mais necessário” (Discurso de Lênin para o Comitê Central)[4]

Pelo menos Hitler foi mais sincero, quando em seu livro defendeu que “o forte é mais forte sozinho”. Exerceu seu poder absoluto em seu próprio nome, enquanto o socialismo insiste em falar em nome de uma classe que em sua maioria o desaprova e que o desaprovaria na totalidade se pudesse antever o futuro que se avizinha.

Alguém pode defender o marxismo e a democracia ao mesmo tempo. Todavia, será apenas mais um quadrado redondo defendido pelos iludidos.

“Há, efetivamente, os que se iludem com a ditadura do proletariado, com o governo direto das massas, com a abolição da hierarquia nas funções de governo, esquecidos de que – escreveu Queiroz Lima na Sociologia Jurídica – tudo isso não passará de aberração revolucionária, forçosamente transitória, própria para mascarar o efetivo predomínio de um grupo, de um partido, de um chefe [Grifo meu][5]

Está lá no Manifesto Comunista. Basta ler.


Publicado no site Gospel Prime

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[1] MARX, K. e  ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, pp. 35, 45
[2] SMITH, S. A. Revolução  Russa. Porto Alegre: L&PM, 2013, p. 76
[3] BESANÇON, Alain. A infelicidade do século. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000, p. 53
[4] SMITH, S. A. Revolução  Russa. Porto Alegre: L&PM, 2013, p. 85
[5] MENEZES, Geraldo Bezerra. O comunismo – Crítica Doutrinária. São Paulo: IBRASA; Rio de Janeiro: MEC, 1978, p. 156

Eguinaldo Hélio Souza é pastor, jornalista, professor de teologia e história no Vale da Bênção. Palestrante nas áreas de apologética, seitas, escatologia, Israel e vida matrimonial. Colaborador da Bíblia Apologética de Estudos. Articulista das revistas Povos e Apologética Cristã. Criador do curso de Apologética Aplicada pela FAETESF e locutor da rádio Saber & Fé. Autor dos livros “Lições de Amor” e “Novas Lições de Amor” (casais), “Israel Povo Escolhido”, “Visitação de Deus” e “Quem é o Perdido?”

Baile de máscaras em Moscou:
O caso de um cordeiro em pele de lobo


Resultado de imagem para cordeiro em pele de lobo“Marxismo, movimento trabalhista, democracia das massas, leninismo, o partido do proletariado, o estado socialista — todas invenções do século XX — não têm mais utilidade para nós.” - Alain Badiou, L'hypothèse communiste

“O comunismo é uma abstração dogmática e [...] uma expressão particular do princípio humanista, ainda que esteja contaminado pela sua própria antítese: a propriedade privada.” - Karl Marx, carta a Arnold Ruge, 1843

“Comecei a estudar intensivamente e criticamente [...] as obras de Marx, Engels, Lênin, Stálin, Mao e outros ‘clássicos’ do marxismo. Eram todos eles fundadores de uma nova religião — a religião do ódio, da vingança e do ateísmo.” - Alexander N. Yakolev, Chefe da propaganda soviética

Alexander N. Yakovlev é conhecido como o “padrinho da glasnost”. Ele subiu de cargo até tornar-se chefe do Departamento de Ideologia e Propaganda do Partido Comunista da União Soviética de 1969 a 1973. Entretanto, ele veio a publicar um artigo intitulado “Contra o anti-historicismo”, em que são criticados os nacionalismos russo e soviético. Se ele tivesse apenas criticado o nacionalismo russo seu cargo de propagandista do Partido estaria seguro; todavia, seu exagero custou sua mudança de cargo: foi exilado para a embaixada soviética no Canadá. Dada a importância do Canadá como país adjacente aos Estados Unidos, essa foi de fato uma despromoção estranha; mas como Yakovlev era um sujeito astuto e bem-apessoado — bem liberal para os padrões dos oficiais soviéticos — ele tornou-se amigo próximo do Primeiro Ministro canadense Pierre Trudeau, que na juventude havia sido ativista no Bloc Populaire (apoiado pelos comunistas). Além disso, a entrada de Trudeau no governo canadense deu-se com a ajuda de Robert Bryce, um amigo próximo do espião soviético Alger Hiss.

Seria surpreendente se isso não tivesse similaridade com a história da Chapeuzinho Vermelho, com Trudeau sendo a bela mocinha e Yakovlev como o lobo vestido com as roupas da vovó. Todavia, situações típicas nem sempre são típicas. O envio de um oficial soviético tão liberal para fazer amizade com um premier canadense tão liberal, pode ter sido uma coincidência no final das contas. Na verdade, talvez Trudeau era o lobo e Yakovlev a mocinha. De qualquer forma, enquanto Yakovlev esteve no Canadá, teve tempo de pensar e estudar e, por conseguinte, tornou-se um ‘cripto’ anticomunista. “Era uma vez”, escreveu em sua introdução em estilo conto de fadas à edição russa do Livro Negro do Comunismo, “quando percebi que o marxismo-leninismo não era uma ciência, mas sim, no melhor dos casos, mau jornalismo — canibal e automutilador.”

Imagine a dificuldade que passou Yakovlev quando subitamente percebeu que era um cordeiro vestido em pele de lobo. E lá havia Pierre Trudeau, um cordeiro em roupa de cordeiro. Talvez o adágio de Marx aplique-se ao conto de fadas, pois primeiro ele é contado como tragédia, depois como farsa. Na história original a Chapeuzinho Vermelho é devorada pelo Grande Lobo Mau; mas desta vez, o Grande Lobo Mau começou a imitar a vovó e retornou para o bando como reformador (se recusando a consumir garotinhas). De fato, uma maravilhosa parábola! Se pudéssemos acreditar nisso... Yakovlev nos diz: “Desde que passei a viver nas altas ‘órbitas’, incluindo a mais alta — o Politburo sob Gorbachev — eu bem sabia que todas essas teorias marxista-leninistas eram disparates.”

Todos podemos ver que as teorias marxista-leninistas são disparates. Mas por que os planos estratégicos marxista-leninista seriam disparates? Eles não conquistaram o sudeste asiático na década de 1970? E quanto a todos aqueles países na África, América Latina e Ásia? Poderiam esses planos um dia abrangerem a América do Norte? Essa pergunta traz à lembrança os comentários do Gen. Jan Sejna sobre o plano soviético “Quando meus amigos [no governo comunista tcheco] e eu estudamos o plano estratégico, nossas primeiras reações foram idênticas: consideramos tudo muito irrealista...”

Mas isso era uma ilusão. Tão logo Sejna desertou rumo ao Ocidente e viu como os americanos não tinham qualquer contra-estratégia, ele escreveu: “Não consegui encontrar qualquer unidade, qualquer objetivo consistente ou estratégia entre os países ocidentais. Não é possível enfrentar o sistema soviético e sua estratégia com pequenas ações táticas. Pela primeira vez passei a acreditar que a União Soviética conseguiria atingir seus objetivos — algo que não acreditava na Tchecoslováquia.”

As longas visitas que Yakovlev fez a Pierre Trudeau não serviram para convencê-lo que os planos soviéticos poderiam funcionar. A disposição para ser “idiota útil” impediu que Trudeau prestasse atenção naquilo. Apenas um interrogatório feito pela CIA poderia curar Yakovlev da sua ilusão, assim como foi curado Sejna. Em vez de focar-se na estupidez ocidental, Yakovlev viu que todo o sistema soviético era mantido por idiotas. Para ser mais preciso, ele dividiu a elite do Partido em três categorias: (1) inteligentes, (2) estúpidos e (3) muito estúpidos. Entretanto, os três grupos eram igualmente cínicos (e ele mesmo se considerava no grupo desses cínicos). “Nós ‘rezamos’ publicamente para nossos ídolos como se fossem ‘santidades’, mas sempre mantivemos nossas verdadeiras crenças dentro de nós.”

Como Yakovlev perdeu sua fé no comunismo?

Era uma vez um grande professor chamado Stálin. Um dia Stálin estudou. Três anos depois de sua morte, seu sucessor (Khrushchev) denunciou Stálin como criminoso. Como resultado, Yakovlev e seu círculo de amigos (inteligentes) perderam a fé no marxismo-leninismo. Eles discutiram as perspectivas da democratização soviética. “Nós finalmente pensamos numa abordagem que era simplesmente uma marreta. Promoveríamos as últimas ideias de Lênin.” Incluir-se-ia aí a ideia da Nova Política Econômica (NEP), que reintroduziria o capitalismo na Rússia. Antecipando objeções, ele escreveu: “nosso grupo era real, não imaginário... E então desenvolvemos o seguinte plano:

(1) Atacar Stálin e o estalinismo com a autoridade de Lênin.

(2) E então, se fôssemos bem sucedidos, atacar Lênin.

(3) Usar o liberalismo e o “socialismo ético” para atacar a Revolução.

A ideia, disse Yakovlev, era destruir o partido através do mecanismo disciplinar do partido. E tudo seria feito em nome do socialismo. Yakovlev jactou-se: “Olhando para o passado, posso dizer orgulhosamente que funcionou.”

Mas funcionou por quanto tempo?

Em março de 2004, escrevendo para o periódico NEPQ, Yakovlev não estava mais orgulhoso. Ele escreveu: “Há uma crise democrática na Rússia de hoje que foi resultado da vitória da Reação Socialista —  foi a contra-revolta da [...] classe burocrática contra a democratização e liberalização da última década”. O primeiro passo rumo ao abismo, disse ele, foi “o retorno do hino nacional estalinista, que me deixou atordoado. E o país começou a cantá-lo. Esse tipo de ultraje contra nossa memória demonstrou que ainda somos escravos...”

Ele também afirmou:

De novo começaram os jogos favoritos dos bolcheviques. O sigiloso é usado como método de intimidação. Os livros de história são atacados pela ausência de ‘espírito patriótico’. Uma nova turma de sicofantas está começando a entronar um novo ídolo no Kremlin; isso me lembra os detestáveis retratos dos terroristas Lênin e Stálin nos encarando em todos os cantos da velha União Soviética. É vergonhoso e perturbador.

Sim, o cordeiro retornou ao curral soviético, voltou àquelas mesmas “teorias e planos” que Yakovlev tempos atrás considerou disparatadas. A diferença é que agora deixaram de lado a ideologia. O que manteve-se foram os velhos planos estratégicos. Como alertou ano passado o mártir da política liberal, Boris Nemtsov, os dados orçamentários da Rússia mostram que Putin tem se preparado intensivamente para a guerra desde 2010. De acordo com Nemtsov, a guerra tem sido “política deliberada pela mais alta autoridade” da Rússia. Mas como isso poderia acontecer se o alto escalão da inteligência russa havia rejeitado tempos atrás as “teorias e planos” do período soviético? Se apenas pessoas estúpidas acreditaram nesses planos disparatados, então como poderia a Rússia retornar a eles? Aliás, será que a elite do Partido — a verdadeira elite — alguma vez abandonou esses planos? Talvez Gorbachev tenha trazido o cripto-liberal Yakovlev de volta do Canadá por uma razão cínica: não porque Gorbachev concordava com o ódio que Yakovlev tinha pelo socialismo, mas porque Gorbachev estava recrutando liberais para ocuparem posições de destaque para que assim se pudesse “enganar o Ocidente” — expressão usada pela jornalista investigativa Yevgenia Albats para caracterizar as mudanças na Rússia e União Soviética sob Gorbachev.

Como observado pelo dissidente russo e estudioso Vladimir Bukovsky em entrevista dada a Robert Buchar, Gorbachev estava seguindo um plano concebido anos antes, que tinha como fim salvar o comunismo através de uma liberalização controlada. Quando foi repreendido por dificuldades que sobrevieram após a execução do seu plano, Gorbachev disse aos seus colegas que não era culpa sua. E como poderia ser? Ele estava apenas seguindo os mais de duzentos documentos que delineavam passos que já estavam planeados antecipadamente.

Neste caso, Yakovlev foi usado?

Essa possibilidade não deve ser descartada. Como um anticomunista dentro do Partido Comunista Soviético, Yakovlev desfilou para as câmeras e jornalistas ocidentais. Assim como a mulher barbada ou o contorcionista de circo, ele era um produto altamente vendável. Por muitos anos mantiveram-no em gelo canadense e próximo de alguém de temperamento parecido (Trudeau), como se estivesse esperando para ser usado. Para persuadir o mundo que Gorbachev falava sério quanto a democratização da Rússia, Yakovlev desempenhou papel decisivo — autêntico em toda linha! Então, eventualmente, ele foi despromovido no Politburo, depois alijado de lá em 1990 e, em 1991 foi expulso do Partido Comunista dois dias antes do golpe de agosto que destruiu a credibilidade política do Partido. Yakovlev havia cumprido seu propósito.

Parecia que, em todos os escritos e afirmações, Yakovlev era anticomunista. Mas não podemos deixar de pensar na sua figura controversa. No 28º Congresso do Partido Comunista da União Soviética em julho de 1990, o Gen. Lebed confrontou Yakovlev de maneira a trazer a questão à tona: “Alexander Nicholaevich, quantas faces você tem?” Yakovlev ignorou a pergunta, que foi indubitavelmente perturbadora. Como ele iria respondê-la? Como tantos membros do aparato soviético, ele estava promovendo proposições anti-soviéticas desde dentro do Politburo. Como isso seria compreensível?

Obviamente, um verdadeiro marxista não poderia fingir odiar o marxismo da maneira que Yakovlev “fingia”. Isso estava além das capacidades artísticas de Gorbachev — que parecia estar privadamente excitado pela intrigante apostasia de Yakovlev, mas jamais poderia ele mesmo falar como um verdadeiro anticomunista. Certamente deve-se admitir que Yakovlev queria matar a ideologia soviética, e algo dentro dele gostava de fazer isso. Talvez os demais seguiram o plano por ser mais uma jogada bolchevique; exceto pelo fato de que esse jogo foi longe demais. Talvez, nesse caso, aqueles mesmos cínicos inveterados não tinham escolha, pois a maré política estava baixando. O legado estalinista tinha de ser apagado. O Ocidente tinha de ser enganado para que o tigre soviético mudasse suas tiras ideológicas.

Num nível psicológico mais profundo, uma pessoa como Yakovlev não é tão difícil de entender. No final das contas, ele foi possível por causa do ódio subjacente que Khrushchev tinha por Stálin. Yakovlev foi a extensão de uma inevitável atitude de remorso (inconscientemente sentida por muitos ‘outrora’ comunistas soviéticos). Por fora, Yakovlev era um diretor do aparato ideológico soviético que passou a odiar a ideologia comunista. Ele odiava aquela linguagem pouco clara e forçada que tinham os discursos previsíveis. Assim, ele estava perfeitamente adequado ao papel que desempenhou como ajudante de Gorbachev. Pode-se dizer, e eu acho correto, que ele ajudou a enterrar o marxismo-leninismo na Rússia (embora Lênin ainda esteja desenterrado). Mesmo porque, a ideologia já estava morta antes do corpo de Brezhnev esfriar — ou melhor, já estava morta há muito tempo. Mas a ideologia marxista não estava morta no Ocidente, e isso não podemos esquecer. O Ocidente estava incrivelmente vulnerável ao marxismo que, segundo Mao, era “melhor que a bomba atômica”. Os ocidentais, como Alain Badiou, que tentaram reconstruir o comunismo e reinterpretar Marx, revelaram suas intenções quando se mostraram antiamericanos e antiocidentais (embora o Ocidente esteja se tornando um bloco socialista por conta própria).  Então é nisso que tudo se reduz: há um desejo de destruir uma civilização, e a partir daí busca-se um fundamento. O fundamento marxista nunca foi mais que uma desculpa. Ademais, foi uma desculpa que deixou de soar verdadeira na Rússia. Mas para levar o Ocidente a cometer suicídio, ela ainda pode servir.

O fundamento do marxismo estava destinado a tornar-se obsoleto, é claro. O socialismo soviético foi um sistema inadequado. A revolução proletária foi um mito, e as pessoas deixaram de acreditar nele. A URSS foi um estado aquartelado que pensava em guerra nuclear. Stálin sabia disso há muito tempo, e sabia o que deveria acontecer para que o sistema sobrevivesse. Sem uma grande guerra, o país eventualmente se normalizaria. Qualquer tentativa de falsa normalização era perigosa, pois abriria caminho para oposição, e isso quebraria a disciplina do Partido.

Sim, a estratégia de longo alcance tornou o sistema vulnerável a pessoas como Yakovlev da mesma maneira que o sistema neo-soviético de Putin ficou vulnerável a infiltrados como Boris Nemtsov. Pessoas que odeiam ditaduras podem vir de qualquer classe, de qualquer posição política. Na Rússia, quem tem melhor perspectiva do sistema que aqueles que aproveitaram dos seus benefícios? A oportunidade de despedaçar a União Soviética num ato de simulada democratização era simplesmente deliciosa. Assim, apesar das melhores intenções leninistas, a missão de Gorbachev de salvar o sistema soviético ao convidar seus críticos estava duplamente condenada, pois num primeiro momento ele deu espaço ao gênio anticomunista, e o sistema não podia mais colocar esse gênio de volta na lâmpada. Seria preciso um homem como Josef Stálin, disposto a perpetrar um genocídio em larga escala, para reinstaurar o marxismo-leninismo. Mas hoje não há mais homens como Josef Stálin. Ele é uma figura única na história, e Putin não parece estar psicologicamente adaptado para esse papel. O moderno mundo das comunicações digitais molda Vladimir Putin, e inconscientemente molda a imagem que ele busca projetar.

O sistema na Rússia de hoje é uma máquina frágil. Não se impressione com os tanques, mísseis e submarinos. É tudo vazio por dentro. Quando olhamos para os leais soldados da KGB que operam essa máquina, vemos funcionários que tomaram os meios de produção, que colocaram os políticos liberais sob mecanismos ocultos de controle. Mais que isso eles não podem fazer, pois não possuem a mentalidade que é rodeada por conceitos mais elevados. Esses siloviki preferem trazer de volta o velho sistema, entretanto eles tiveram de se tornar um tipo diferente de animal para poder sobreviver. Isso mesmo: os melhores dos chekistas tornaram-se homens da NEP; e quem vai mudá-los para o que eram antes? De novo não há como conjurar Josef Stálin, e apenas ele possuía a arte assassina necessária para trazer de volta alguém que está na NEP. Somente Stálin era capaz de assassinar milhões e arranjar um jeito de culpar os outros. Apenas Stálin pôde pacificar a Ucrânia fazendo com que milhões morressem de fome. Hoje Putin está onde Stálin estaria se a NEP de Lênin tivesse durado mais uma década.

Quão tolos foram os burocratas russos ao embarcar numa Nova Política Econômica (NEP) no final da década de 1980 sem ter um plano para voltar atrás. E então, tiveram de fazer a NEP coincidir com uma desestalinização com nova roupagem! Erro após erro, parece em parte obra daqueles homens cínicos do Partido Comunista. Ou será que não foi erro? Poderia haver, inconscientemente e profundamente, um verdadeiro desejo de mudanças por parte desses burocratas? A estratégia de longo alcance foi um caso de auto-engano? Foi esse, na verdade, um caminho criado para escapar de uma obrigação antiga de travar uma Guerra Nuclear Global Revolucionária?

Essas perguntas não podemos responder ainda. A única coisa que podemos nos certificar é que Stálin teria purgado todos eles e começado do zero, com jovens que ainda acreditam no Coelhinho Vermelho da Páscoa. E Stálin teria dado início à Terceira Guerra Mundial. Isso é, com efeito, o que Putin parece estar preparando. Mas ele pode motivar seu povo para esse fim? Ele poderia justificar um atroz ato de agressão em que milhões morreriam? Mesmo que ele use um grupo terrorista de fachada para atacar a América com armas nucleares, ele terá de explorar esse terrorismo de maneira descarada — e daí revelará seus intentos.

Deve-se admitir, claro, que a Federação Russa de hoje não é a URSS. Putin não é Stálin. Seria o caso de dizer que, na verdade, Putin é um perigo diferente. Ele é um matador seletivo que escolhe os verdadeiros oponentes do regime, sem precisar recorrer ao assassinato de milhões de sujeitos indefesos (como fez Stálin). Ao mesmo tempo, Putin tem por trás de si uma mídia dissimulada e uma máquina de guerra muito mais poderosa que a de Stálin. Mas há aí um beco sem saída, pois sem a ideologia comunista não há como justificar o Grande Ato de Maldade. Talvez esse seja o motivo pelo qual Lênin ainda não foi enterrado. Talvez eles tentarão reerguer o velho corpo do ditador, apresentando-o como algo novo e fresco.

Por que a Rússia acabou chegando nessa situação? Por que esse beco sem saída? Pode-se dizer que a estratégia de longo alcance tornou esse cenário inevitável. Considerando a correlação de forças existente no começo da perestroika, o novo tipo “liberal” de político russo jamais poderia prevalecer. Com siloviki cercando-os, muitos usaram as estruturas soviéticas para se enriquecer e reestabelecer um poder soviético sem ideologia soviética. Ao fazer isso eles se dispuseram a acomodar a necessidade de “segurança” dos siloviki. E essa foi a lógica da situação: a ideologia pode ter morrido (pelo menos sua velha forma), mas o plano de longo alcance é mais astuto que a ideologia. Esse plano há muito excitou os generais, além de ter sido patrocinado pela KGB. Ele também se mostrou lucrável para os industrialistas militares. Já com décadas de existência, o plano foi o fetiche dos funcionários sem visão de futuro. Parecia racional, até mesmo científico — superior de todas as maneiras ao marxismo-leninismo. No caso da União Soviética, pode-se argumentar que a estratégia tornou-se ideologia. Mas mesmo assim é um beco sem saída.

Quanto a Yakovlev, jamais se confiou qualquer poder a ele após ter sido expulso do Partido Comunista. Nos anos 1990 ele atuou como o chefe do Partido Russo da Social Democracia que mais tarde tornou-se a União das Forças Direitistas (o partido de Boris Nemtsov). Em 2004 Yakovlev disse que as eleições na Rússia foram “antidemocráticas, pois não ofereciam alternativa, mesmo que formalmente houvessem pretendentes ao posto”. Talvez em desespero, Yakovlev morreu em 18 de outubro de 2005. A União das Forças Direitistas foi dissolvida em 2008 e mais tarde registrada como “organização política pública”.

Quanto a Gorbachev, ele ainda anda por terrenos estranhos. Em seu livro “Meu Manifesto pela Terra” ele fala de desarmamento, justiça global e aquecimento global. “Podemos ver a olhos nus que as mudanças climáticas estão acontecendo na terra”, disse Gorbachev, “e que o número de desastres naturais [...] está aumentando, que muitas espécies de plantas e animais estão morrendo, que a camada de gelo polar está derretendo...” O fato de que o Dia Terra é o mesmo do aniversário de Lênin é mais um dado dentre muitos que indiciam que tipo de arma estão criando, e o livro de Gorbachev nos diz quem é o criador. A organização de Gorbachev, a Cruz Verde Internacional, é parecidíssima com um front comunista. No topo do website da Cruz Verde diz “Inspirando jovens a serem agentes da mudança”.

O programa de Mikhail Gorbachev, desde que ele largou o martelo e a foice em 1991, parece em todos os aspectos com um programa de enganação, subversão e sabotagem que tem como alvo o Ocidente. Sua pose humanitária mascara um desejo de desarmar os Estados Unidos, estabelecer uma redistribuição global socialista e sabotar a economia americana. É seguro dizer que Gorbachev nunca foi um verdadeiro liberal. “Posso repetir aos meus queridos colegas do partido”, disse em 1991 na Bielorrússia, “que jamais, não importa perante qual plateia esteja, terei qualquer vergonha de dizer que sou comunista e estou comprometido com o ideal socialista.”

De todos os prognósticos, talvez a carta de 1843 de Karl Marx a Arnold Ruge foi o mais interessante: “O comunismo é uma abstração dogmática e [...] uma expressão particular do princípio humanista, ainda que esteja contaminado pela sua própria antítese: a propriedade privada”. Talvez uma outra maneira de dizer isso, do ponto de vista da liberdade, é que não há mal sem bem [every cloud has a silver lining]. Mesmo que esse mal seja vermelho [Even a red cloud].

Tradução: Leonildo Trombela Junior