sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

TENHO NOJO! - Uma síntese à indignação

Por Waldo Luís Viana

O mantra talvez equivalente ao francesinho “Je suis Charlie”...

Tenho nojo
De ver meu país solapado por bandidos em todos os quadrantes, tranquilamente ciosos de que ficarão impunes;

Tenho nojo
Em abrir os jornais, ouvir rádio e ver televisão todos os dias e perceber a mídia valorizando a ação de criminosos, estupradores, serial killers, agiotas, traficantes e milicianos – todos irmanados proficientemente em emprestar a “audiência da desgraça” a esses veículos;

Tenho nojo
Desses políticos que resolvem visitar os sítios de enchentes e tragédias, trajando seus sapatos italianos e ternos franceses, desembarcando de helicópteros e prometendo verbas, mundos e fundos que jamais chegarão de fato aos desabrigados;

Tenho nojo
De nossa “presidenta”, ex-guerrilheira, lamentando farisaicamente a morte de inocentes em delitos terroristas, quando no passado os tramava, condenando outros inocentes e planejando tocaias, assaltos a bancos e a cofres privados de políticos;

Tenho nojo
Do antecessor da “presidenta”, um dos homens analfabetos mais venais e sem caráter desse país e das elites que o financiaram e que impedem a polícia de prendê-lo e pagar por seus crimes;

Tenho nojo
Do partido que está no governo, que só intenciona permanecer no poder, e a qualquer custo, manobrando o Erário, aparelhando as estatais e permitindo a pior onda de corrupção jamais vista nesse país;

Tenho nojo
De nossos empreiteiros, dinâmicos em aditivos, superfaturamentos e em bancar por propinas ocultas toda a máquina de corrupção que infesta a nossa miserável política;

Tenho nojo
Da maioria expressiva de nossos deputados, fiéis canalhas e vendedores de virtudes públicas, que só desejam fazer caixinha para as próximas eleições, roubando pra se eleger e se elegendo pra roubar;

Tenho nojo
Do chamado poder Judiciário, tão lento para fazer justiça aos pobres e lépido e compreensivo para julgar os ricos, permitindo toda a sorte de recursos e chicanas. Os togados adoram prender pretos, pobres e prostitutas, trabalhando em seus ricos palácios e conseguindo dormir sem culpa;

Tenho nojo
Desses pastores televisivos, travestidos de arautos de Deus e Jesus, ofendendo a fé pública, roubando os pobres através de dízimos e ofertas, além de oferecer a salvação a todos que acreditem que eles podem expulsar demônios. No entanto, eles são bastante coniventes e conformados com os demônios que mandam aqui, porque lhes dão benesses e concessões de TV e rádio em troca de votos;

Tenho nojo
Dos slogans mentirosos, lançados pelo governo, sugerindo a salvação da Pátria pela educação e saúde, quando sabemos que são ramos deficientes e vergonhosos de nossa Nação, desespero de seus habitantes e motivo de chacota pelas nações realmente desenvolvidas;

Tenho nojo
Dos militares da ativa, que dizem que amam o Brasil acima de tudo, mas ficam caladinhos e silenciosos, aguentando todos os estupros de gestão no país e em suas respectivas Armas, esperando ir para a reserva e aí, então, garantidos nas aposentadorias, ver devolvidos os próprios cérebros e convencer os pobres civis de que detêm alguma opinião e “acendrado” patriotismo;

Tenho nojo
De ver uma população conformada, a cada assassinato torpe, exigindo justiça para sair em telejornais, e aceitando todas as sevícias sem dar um pio, sempre esperando que surja um otário qualquer à frente de alguma revolta para oferecer o próprio pescoço e aguardando, como ovelhas, o próximo escândalo;

Tenho nojo
De ver o povo maltrapilha e tutelado, acreditando que é o bolsa-família a salvação de seus males e que qualquer coisa diferente do partido que está no governo lhes tomará de fato o pobre benefício;

Tenho nojo
De ser obrigado a ouvir, durante a semana, o pavoroso programa “A Hora do Brasil”, serviço chapa-branca do governo, ocupado em desfilar os feitos de ficção em que só os imbecis acreditam;

Tenho nojo
Dos jornalistas e artistas que se vendem em troca de dinheiro, distorcendo a realidade e se calando diante dos desmandos que desfilam sob seus olhos, em troca de viagens a Paris e moradia em prédios de luxo;

Tenho nojo
De nossos médicos burgueses, que só querem viver em centros urbanos e obter ganhos de clientes abonados e que permitem que o país seja invadido por escórias estrangeiras de falsos médicos;

Tenho nojo
De nossos advogados dinheiristas, que se especializam em defender delinquentes poderosos, em troca de polpudos honorários, porque na verdade não acreditam na Justiça, considerando-a apenas um objeto de lucro relativo;

Tenho nojo
Dos carcereiros de nossas penitenciárias que libertam os apenados nos fins de semana, desde que estes lhes tragam dinheiro e sustentem por fora uma cota extra;

Tenho nojo
Dos policiais que recebem propinas nos mais variados negócios escusos e que matam o pobre povo desvalido, registrando autos de resistência, na certeza de que escaparão ilesos e sem nenhum problema com as suas corregedorias;

Tenho nojo
Dos eleitores que aceitam dentaduras, pares de sapato e outros benefícios passageiros, vendendo o seu voto e o futuro de seus filhos. Essa escória, a propósito, adora corrupção, admira os políticos ladrões, lamentando não poder roubar com a mesma eficiência. A propósito, a corrupção está no DNA do brasileiro: quanto mais ladrão, mais querido;

Tenho nojo
Das mulheres que falam em eliminar agressões masculinas, reivindicam direitos e princípios feministas e aceitam de bom grado que suas companheiras vendam o corpo para utilização comercial e sonhem com casamentos milionários em troca da própria prostituição;

Tenho nojo
Dos homossexuais que pretendem que os heterossexuais não tenham direitos equivalentes e que no fundo desejam que todos adiram às suas práticas sodomitas;

Tenho nojo
De apresentadoras de programas infantis, que convidam crianças a se tornarem adultas antes do tempo e copiem a sensualidade dos adultos, destruindo a infância e o crescimento sadio de meninos e meninas;

Tenho nojo
Dos que alardeiam que roubam porque antes os outros fizeram o mesmo, como se um erro justificasse outro...

E, finalmente, TENHO NOJO de saber que esse país não tem conserto e que tudo vai ficar assim mesmo, sempre esperando a próxima atração.


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Waldo Luís Viana é escritor, poeta, jornalista e economista brasileiro


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